Papa Francisco recebe alta dez dias após cirurgia e volta ao Vaticano

Submetido a remoção de parte do cólon, pontífice aparenta boa saúde e deve retomar eventos públicos em agosto

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Cidade do Vaticano | Reuters

Dez dias depois de ser submetido a uma cirurgia em um hospital de Roma, o papa Francisco voltou ao Vaticano nesta quarta-feira (14), de acordo com relatos de testemunhas e da imprensa internacional.

O líder católico foi visto deixando o hospital Gemelli, na capital italiana, por uma porta lateral. Ao viajar, foi seguido por uma pequena comitiva do Vaticano e de agentes de segurança italianos.

Fotógrafos viram o papa sair do centro médico em um carro com os vidros escurecidos depois de a equipe colocar uma cadeira de rodas no porta-malas de um segundo veículo.

Até a manhã desta quarta, o Vaticano não comunicou oficialmente a alta do pontífice. A entrada no hospital, em 4 de julho, só foi anunciada após a internação, apesar de comunicados posteriores informarem que a cirurgia havia sido agendada com antecedência.

Papa Francisco agradece a escolta policial italiana antes de entrar no Vaticano após alta hospitalar - Cristiano Corvino - 14.jul.21/Reuters

O pontífice parou para rezar na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, antes de voltar ao Vaticano —Francisco costuma visitar a igreja ao retornar de viagens ao exterior.

Próximo ao Portão Perugino, uma das entradas do Vaticano, o papa saiu do carro e se levantou para agradecer à escolta policial italiana, aparentando boas condições gerais. Na sequência, sentou-se no banco da frente do veículo e seguiu para sua residência oficial.

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Durante o período em que ficou internado, Francisco fez apenas uma aparição pública. No domingo (11), ele falou por cerca de dez minutos a um grupo de aproximadamente 200 pessoas. Foi a primeira vez que o pontífice fez o Ângelus fora do palácio apostólico com vista para a Praça de São Pedro.

Em sua fala, defendeu que bons cuidados de saúde deveriam ser acessíveis a todos, pediu aos fiéis que rezassem por todos os enfermos e orou pelo fim da "espiral de violência" no Haiti, após o assassinato do presidente Jovenel Moïse na semana passada.

Na segunda-feira (12), o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, anunciou que o papa ficaria internado "por mais alguns dias", justificando a permanência do pontífice no hospital, visto que a estimativa anunciada uma semana antes era de sete dias de internação.

Na ocasião, Bruni disse ainda que Francisco, apaixonado por futebol desde a juventude, comemorou as vitórias da Argentina sobre o Brasil na Copa América e da Itália sobre a Inglaterra na Eurocopa.

Francisco programou a cirurgia para coincidir com o mês de julho, quando tradicionalmente fica no Vaticano e não tem outros compromissos além da oração dominical. Ele deve retomar as audiências públicas e privadas em 4 de agosto.

Segundo porta-vozes, os planos de viagem do papa estão mantidos. Ele deve visitar a Eslováquia e a Hungria em setembro. A congregação dos bispos da Escócia anunciou ainda que o papa deverá participar da COP26, conferência global do clima que será realizada em novembro, em Glasgow, ainda que o Vaticano não tenha confirmado a viagem. Ainda em novembro, Francisco deve visitar Malta e Chipre.

Realizada em 4 de julho sob anestesia geral, a cirurgia a que o pontífice foi submetido —uma hemicolectomia esquerda, procedimento em que parte do cólon é removida— durou três horas e foi conduzida por dez profissionais do hospital Gemelli.

A operação foi feita para tratar uma estenose diverticular, doença em que se formam "bolsas" na camada muscular do cólon, tornando-a mais estreita. Além de causar dor, a condição pode provocar distensão abdominal, inflamações e dificuldades para evacuar. Trata-se de um diagnóstico mais comum em idosos.

Grande parte das pessoas convive com a doença de forma assintomática. A depender do estreitamento do cólon, porém, pode haver obstrução intestinal e, por isso, há necessidade de realizar uma operação, durante a qual a parte obstruída do intestino é retirada e as extremidades são ligadas uma à outra. Casos nos quais o atendimento médico e a cirurgia são postergados podem levar à perfuração intestinal.

Nascido em 17 de dezembro de 1936 na Argentina, Jorge Bergoglio, nome de nascimento do papa, teve o lobo superior do pulmão direito removido aos 21 anos, devido a uma pleurisia. Ele sofre de problemas nos quadris e no nervo ciático, condição que causa dor crônica que se irradia da parte inferior das costas até os pés. No período em que foi arcebispo de Buenos Aires, era acompanhado por um acupunturista.

Esta foi a primeira vez que o papa precisou ser internado desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, em 2013, e foram poucas as ocasiões nas quais o pontífice se ausentou por questões de saúde. Em 1º de janeiro, ele deixou de conduzir a missa de Ano-Novo devido a um problema no nervo ciático.

Francisco tem ainda cálculos biliares —condição na qual as substâncias que formam a bílis, líquido usado na digestão de alimentos, solidificam-se— e teve um problema cardíaco temporário em 2004, após o estreitamento de uma artéria. Problemas no fígado foram resolvidos ao longo dos últimos anos com uma mudança em sua dieta. "Não tenho medo da morte", confidenciou ele em 2019 durante uma entrevista ao jornalista argentino Nelson Castro, que escreveu um livro sobre a saúde dos papas.

Na obra, Francisco conta que, mesmo após a dor intensa que sentiu depois da operação no pulmão a que foi submetido, tinha convicção de que seria curado. "Nunca senti limitação em minhas atividades. Mesmo em várias viagens internacionais nunca tive que limitar ou cancelar nenhuma das atividades programadas", disse o pontífice na ocasião. Ele também revelou que manca devido a um problema causado pelo pé chato, o que se acentua quando está cansado.

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