Polícia do Haiti prende coordenador da guarda presidencial por suposto envolvimento em morte de Moïse

Dois agentes da segurança do presidente estão detidos; polícia desconfia que oficiais teriam facilitado o crime

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Porto Príncipe | AFP e Reuters

O coordenador da guarda presidencial de Jovenel Moïse, presidente do Haiti morto no último dia 7, foi preso nesta semana, suspeito de participar do assassinato do chefe de Estado a tiros em sua residência. O anúncio foi feito pela Polícia Nacional haitiana nesta terça-feira (27).

Jean Laguel Civil foi detido na segunda (25) no bairro de Delmas, na capital Porto Príncipe, segundo apurou a agência de notícias Reuters. Convocado pelo Ministério Público para depor há duas semanas, o comissário não se apresentou às autoridades.

O anúncio da prisão é mais um passo nas investigações sobre o assassinato de Moïse, que seguem com várias perguntas sem respostas. As autoridades do país têm se dedicado agora a investigar os agentes responsáveis pela segurança do presidente —além de Civil, foi preso no último dia 15 o chefe da guarda, Dimitri Herard, que também não compareceu para o depoimento.

Pessoa segura foto de Jovenel Moïse durante enterro do presidente haitiano - Ricardo Arduengo - 23.jul.21/Reuters

A suspeita é de que os agentes teriam facilitado a investida do grupo de mercenários que assassinou Moïse. Mais de 20 pessoas, entre elas militares colombianos aposentados, foram presas por conexão com o caso desde o início das investigações.

Em um memorando assinado por Dimitri Herard e vazado nas redes sociais, o comissário explica os detalhes da noite do assassinato. No documento de três páginas, diz que recebeu um pedido de ajuda de Moïse por volta de 1h39 da manhã, e então partiu para a residência do presidente com reforços.

Perto da entrada, relata, os oficiais teriam sido confrontados por homens vestidos de preto que os mandaram recuar, dizendo que integravam uma operação da agência ​americana antidrogas (DEA, na sigla em inglês) —essa versão, que começou a circular logo após o crime, é negada pela diplomacia dos EUA.

Como estavam em menor número, continua Herard, os oficiais teriam recuado para planejar um ataque aos adversários. Pouco depois, souberam que o presidente havia sido morto, e a primeira-dama, Martine, ferida a tiros.

O agente também é investigado em Bogotá, capital colombiana, por ter feito diversas viagens recentes ao país, onde residem muitos dos suspeitos do crime, e a outros lugares da América do Sul.

Outros membros da guarda presidencial também estão sob a mira das autoridades haitianas. O comissário do governo de Porto Príncipe, Bed-Ford Claude, pediu aos serviços de migração que proibissem quatro agentes da Polícia Nacional de deixar o país. Na lista estão Herard e Jean Laguel Civil (agora presos), além do comissário Léandre Pierre Osman e do inspetor-chefe Amazan Paul Eddy.

A polícia também emitiu nesta quarta um mandado de busca contra o juiz Wendelle Coq Thélot, do Tribunal de Cassação, máxima instância judicial do país. Ele havia sido destituído por Moïse.

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Em meio ao clima de incerteza e de agitação social nas ruas do país, nesta quarta completa-se uma semana desde que o novo primeiro-ministro, Ariel Henry, 71, tomou posse —ele foi indicado para o cargo por Moïse pouco antes do assassinato. Há dúvidas sobre a capacidade e os meios que Henry terá para apaziguar a crise econômica e sanitária do Haiti nos próximos meses.

A mídia do país tem tratado o início de seu mandato com desconfiança, ainda que o premiê venha declarando, em falas públicas, que se concentrará em resultados concretos, que poderão ser observados em dois meses pela população.

Em artigo publicado nesta segunda (26) no jornal haitiano Le Nouvelliste, o economista Thomas Lalime elenca quatro grandes desafios a serem enfrentados por Henry: combater a insegurança gerada pelas gangues locais; organizar novas eleições; melhorar as condições de vida da população e recuperar a economia nacional.

"O governo terá que redobrar seus esforços para melhorar o padrão de vida dos cidadãos haitianos, que correm o risco de enfrentar a próxima escalada da emergência humanitária: a fome", escreveu Lalime.

O corpo do presidente Jovenel Moïse foi enterrado na última sexta (23) em Cap-Haitien. Outras cerimônias em homenagem a ele foram realizadas ao longo do fim de semana, com a presença de representantes de diversos países. O Itamaraty informou que o embaixador brasileiro em Porto Príncipe, Marcelo Baumbach, representou o país.

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