Restaurante nos EUA faz 'dia da gentileza' para funcionários após grosserias de clientes

Diferentes estabelecimentos têm relatado casos de comportamento agressivo

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Neil Vigdor
The New York Times

O abuso verbal de clientes mal-educados ficou tão grave, segundo os donos de um restaurante orgânico em Cape Cod, que alguns funcionários choraram. A indignação final veio na quinta (8), quando um homem xingou um funcionário ao saber que não poderia ser atendido, já que o restaurante ainda não tinha aberto.

"Nunca pensei que chegaria a isso", disse Brandi Felt Castellano, sócia do Apt Cape Cod, em Brewster, Massachusetts (nordeste dos EUA). Castellano e sua mulher, Regina Felt Castellano, que também é chef de cozinha e sócia, anunciaram então no Facebook que o restaurante ficaria fechado durante parte daquele dia para tratar os empregados do restaurante com "um dia de gentileza".

A medida atraiu ampla atenção na comunidade e nas redes sociais. Outros donos de restaurantes tinham histórias parecidas que, segundo eles, mostram a tensão que a reabertura está colocando sobre uma indústria arrasada pela pandemia de coronavírus. "Muitos não sobreviveram à crise", disse Castellano em uma entrevista na terça (13). "As pessoas serem tão agressivas com os que conseguiram é desanimador."

Brandi Felt Castellano (esquerda) e Regina Felt Castellano (direita), posam para foto em frente à placa de seu restaurante, que é branca com letras pretas. Elas vestem camisetas cinza. Regina usa um boné.
Brandi Felt Castellano, à esq., e Regina Felt Castellano, donas do restaurante Apt Cape Cod em Brewster, no estado de Massachusetts - Brandi Felt Castellano - 14.jul.21/The New York Times

Nem sempre foi assim. No início da pandemia, a maioria dos clientes demonstrava gentileza, segundo Castellano. O lema do restaurante, publicado em seu site, é "venham como desconhecidos, saiam como amigos". Mas desde que os restaurantes do estado tiveram permissão para reabrir plenamente, em 29 de maio, o tratamento dado aos 24 empregados do Apt Cape Cod, entre os quais muitos jovens e os dois filhos do casal, piorou. "É uma espécie de abuso", disse ela. "São coisas que as pessoas estão dizendo que não passariam na TV porque seriam censuradas. As pessoas sempre são mal-educadas com os empregados de restaurantes, mas isto supera em muito qualquer coisa que já vi em 20 anos no ramo."

Castellano, 39, disse que alguns clientes supunham que os negócios funcionariam como sempre, mas não perceberam que os restaurantes ainda têm dificuldades com falta de pessoal e suprimentos. Isso pode significar tempos de espera mais longos e alguns itens do cardápio indisponíveis, o que causa abusos verbais contra os funcionários do restaurante. Quando um grupo de pessoas não conseguiu a mesa que queria, disse ela, elas ameaçaram me processar. "Eu diria que é uma outra epidemia."

A postagem do restaurante repercutiu entre muitas pessoas, que condenaram o comportamento agressivo. "Depois dos últimos 15 meses, você pensaria que as pessoas ficariam agradecidas só por poderem fazer uma refeição fora de casa", escreveu um homem que se identificou como David Degan. "Muito triste que grande parte da sociedade tenha voltado a ser grosseira e prepotente."

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Tyler Hadfield, sócio do restaurante The Rail, em Orleans, cidade vizinha a Brewster, disse ter experimentado problemas parecidos no local que ele e seu irmão, Cam Hadfield, abriram nesta primavera.

Na semana passada, segundo ele, um grupo de comensais descarregou suas frustrações nos empregados depois de esperar 40 minutos por uma mesa e mais ainda devido a um problema no computador. Eles pediram que a comida fosse embalada depois que foi levada à mesa, e então despejaram todo o conteúdo na frente do restaurante quando saíram, disse Tyler. "É o pior comportamento que já vi."

Enquanto os restaurantes se adaptam aos contornos mutáveis da pandemia, Hadfield, 27, disse desejar que os clientes demonstrem mais paciência pelas pessoas que preparam suas refeições e as servem. "Nos dar um pouco de tempo para ir de zero a 100 seria bacana", disse ele.

Em Rhode Island, vizinho a Massachusetts, Dale Venturini, presidente da Associação de Hotelaria do estado, disse em entrevista na terça que vários donos de restaurantes tinham se queixado recentemente dos maus-tratos de clientes a funcionários. Um deles, segundo ela, manifestou a preocupação de que seus empregados deixem o emprego. Venturini também lembrou um episódio no último verão, quando uma sorveteria fechou uma das lojas pelo resto da temporada devido a clientes mal-educados.

"Acho que precisamos lembrar às pessoas que estamos fazendo o melhor possível com os recursos disponíveis neste momento", disse Venturini. "Acho que é demanda reprimida. As pessoas não têm a mesma paciência que tinham antes, e espero que isso mude."

A presidente disse que a associação, que representa cerca de 900 restaurantes e hotéis, iniciou recentemente a campanha "Por favor, seja gentil", para ajudar as empresas e seus funcionários. Ela inclui placas que os restaurantes podem pendurar, pedindo que os clientes sejam compreensivos com a falta de funcionários, e um cartaz com links para recursos de saúde mental para trabalhadores em hotelaria.

Após mais de um ano em casa, disse Venturini, alguns donos de restaurantes mudaram suas expectativas. Ela contou, por exemplo, que um cliente reclamou ao barman que não havia álcool em sua bebida. "Soubemos que em casa ele costumava fazer doses triplas. Mas em outras ocasiões, a coisa fica desagradável. Eles veem uma mesa desocupada e não entendem por que não podem se sentar."

Castellano disse que muitos clientes e outras empresas manifestaram solidariedade com seu restaurante e seus funcionários depois de anunciar que fecharia durante parte da quinta-feira. Um cliente habitual deixou um cartão de presente para os empregados do restaurante usarem em uma sorveteria local, enquanto uma loja de parasail e jet ski na cidade vizinha ofereceu um dia de diversão grátis para eles, afirmou ela. "Muita gente falou: 'Obrigado por dizerem o que nós tínhamos vontade de dizer'."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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