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Visto como 'herói anticorrupção', procurador deixa a Guatemala após ser demitido

Juan Francisco Sandoval disse temer represálias por seu trabalho à frente de unidade contra corrupção

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Cidade da Guatemala | AFP

O procurador Juan Francisco Sandoval, principal ator no combate à corrupção na Guatemala, deixou o país na madrugada deste sábado (24) por temer represálias, após acusar a procuradora-geral de dificultar investigações envolvendo funcionários do governo e o presidente Alejandro Giammattei.

Consuelo Porras, procuradora-geral da Guatemala, exonerou Sandoval, chefe da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI) na tarde desta sexta (23), em uma decisão que provocou críticas do Departamento do Estado dos Estados Unidos, que o considerava um 'herói anticorrupção', bem como questionamentos de organizações sociais, empresariais e humanitárias.

Sob comando de Sandoval, a FECI foi responsável nos últimos anos por processos contra políticos, funcionários públicos e empresários supostamente envolvidos em esquemas de corrupção, entre eles as acusações de fraude que levaram à renúncia do presidente Otto Pérez e à prisão da vice-presidente Roxana Baldetti.

homem branco de cabelos pretos discursa e gesticula segurando um microfone
O procurador Juan Francisco Sandoval em coletiva de imprensa após sua demissão - Luis Echeverria - 23.jul.2021/REUTERS

Pouco tempo depois de ser demitido, o ex-procurador convocou uma coletiva de imprensa, em que declarou que a procuradora-geral colocou obstáculos em seu trabalho de investigação e atentou contra a autonomia da unidade investigava e do Ministério Público, ao não permitir que a força-tarefa avançasse em apurações que envolviam o presidente Giammattei.

"Eu sou apenas o último de uma série de procuradores que sofreram as consequências por buscarem a verdade e a justiça", afimou Sandolval, em referência a um episódio de abril, quando o Congresso rejeitou a nomeação ao tribunal superior do país da juíza Gloria Porras, cuja trajetória é reconhecida pelo combate à corrupção.

Para especialistas ouvidos pelo jornal La Hora, as declarações de Sandoval são um golpe duro tanto na credibilidade do Ministério Público quanto no trabalho de Porras, que até o momento não veio a público desmentir as acusações do ex-procurador sobre sua gestão.

Na noite de sábado, centenas de pessoas se reuniram em frente ao palácio presidencial para protestar contra o afastamento do procurador e pediram a renúncia de Porras da procuradoria-geral e a do presidente Giammattei. Alguns dos principais líderes camponeses do país anunciaram uma greve geral para esta segunda-feira (26).

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O destino de Sandoval é desconhecido. Segundo autoridades dos direitos humanos da Guatemala, para deixar o país o ex-procurador atravessou a fronteira de El Salvador.

Nos Estados Unidos, a subsecretária do Departamento de Estado, Julie Chung, afirmou que a demissão de Sandoval "é um retrocesso para o estado de direito na Guatemala" e "contribui para a percepção de que há um esforço sistemático para minar aqueles que lutam contra a corrupção" no país.

Chung também afirmou, em publicação nas suas redes sociais, que a decisão de Porras foi "ultrajante". "O povo da Guatemala merece mais", completou.

Na mesma linha, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, defendeu o procurador afastado, neste domingo (25).

"Apoiamos o povo da Guatemala e o procurador Juan Francisco Sandoval", escreveu ele em uma rede social.

"Sua destituição mina o Estado de direito e fortalece as forças da impunidade", acrescentou.

A demissão de Sandoval coloca um desafio para a gestão do presidente Joe Biden, que tem entre suas bandeiras o combate à corrupção na América Central, por entender que a impunidade de agentes corruptos é um dos catalisadores de ondas imigratórias para o país norte-americano.

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