'Como confiar em quem tirou seus direitos?', diz Malala sobre promessas do Talibã

Ativista discorreu sobre crise no Afeganistão em evento brasileiro, que também teve palestra de Hillary Clinton

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São Paulo

Preocupada, exausta, sem dormir direito. Malala Yousafzai disse que está assim desde que o Talibã retomou o poder no Afeganistão, vizinho ao seu país de origem, o Paquistão.

A ativista pela educação de meninas, vítima de um atentado desse grupo fundamentalista aos 14 anos e a pessoa mais jovem a ganhar o prêmio Nobel da Paz, aos 17, discorreu nesta quinta-feira (26) sobre a crise no país asiático em um evento virtual promovido pela consultoria financeira brasileira XP.

Malala Yousafzai discursa na Assembleia Mundial das Mulheres
Malala Yousafzai discursa na Assembleia Mundial das Mulheres - Charly Triballeau - 23.mar.19/AFP

Ao lado dela, seu pai, Ziauddin Yousafzai, que após o ataque contra a filha se refugiou com a família no Reino Unido. Logo antes, a ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton participou de painel no qual também abordou a crise no Afeganistão, entre outras questões.


“Estamos todos preocupados e exaustos com esses conflitos. Se a gente, que está vendo de fora, está assim, imaginem os civis que estão no Afeganistão, as mulheres, as crianças. Essa guerra já dura tantos anos que a gente nem sabe mais como tudo começou”, afirmou Malala.

Ela disse esperar que os extremistas do Talibã cumpram as promessas que têm feito de que permitirão a educação de meninas e mulheres —diferentemente do que fizeram na primeira vez em que governaram o país, entre 1996 e 2001—, mas que é difícil acreditar nisso.

“A mensagem não é muito clara. Às vezes eles dizem que as mulheres terão acesso ao trabalho e à educação, mas não se sabe qual é a lei que vão seguir”, afirmou. “Eles ficam lá carregando aquelas armas, as pessoas estão presas em casa, preocupadas com o futuro porque viveram isso no passado. Como podem confiar nas mesmas pessoas que tiraram os direitos deles?”

Malala disse que ela e outros ativistas estão tentando atuar na crise afegã e que a prioridade agora é retirar ativistas locais com segurança do país. A ativista defendeu ainda a abertura de fronteiras e o envolvimento de mais países no abrigo aos refugiados.

“Alguns, como Canadá e Reino Unido, firmaram esse compromisso. Outros estão sendo mais pão-duros e não querem ajudar. Não podemos ser egoístas neste momento. Não dá para deixar as coisas acontecerem na nossa cara sem ajudar. Não acreditamos apenas em promessas, queremos ações.”

Malala também falou sobre a situação da educação mundial na pandemia —chamando a atenção para a suspensão das aulas de milhões de crianças— e sobre sua saúde após o atentado que sofreu. Nove anos depois, ela continua passando por procedimentos e acaba de se recuperar de uma cirurgia.

“É uma longa jornada. Sempre tem algo para consertar: cirurgia para o rosto, placa de titânio, tanta coisa teve que ser feita. Mas neste momento não penso mais em mim mesma, sou abençoada. Vamos pensar em todas as pessoas que não têm oportunidades de reabilitação, de viver em um local seguro, de estudar. É o momento de pensarmos no mundo no qual vivemos, de apoiarmos uns aos outros, de lutar pela paz.”

Antes de Malala, Hillary Clinton também destacou que a prioridade no Afeganistão no momento é evacuar o maior número de famílias e mulheres em risco. “Temos um grupo de ONGs e ativistas tentando ajudar e estamos fazendo tudo para levar essas pessoas. É um processo muito delicado e perigoso”, afirmou.

A democrata, que disse estar em contato constante com Malala após os acontecimentos recentes, agradeceu “aos países que estão dispostos a aceitar os afegãos como refugiados”. “Temos que lembrar que essas pessoas vão precisar de apoio contínuo no país onde forem viver. E vamos ter que entender como dar apoio a quem ficou no Afeganistão, especialmente às mulheres.”

A ex-secretária de Estado dos EUA também falou sobre a crise climática, a sobrecarga das mulheres na pandemia de Covid e as vacinas para a doença, que ela diz acreditar que deveriam ser obrigatórias. "Gostaria de ver mais empresas, bancos e empregadores do setor privado tornando a imunização obrigatória a seus funcionários. A evidência é clara de que são seguras e eficazes e salvam muitas vidas.”

Ela também criticou, sem dar nomes, "líderes que se recusam a se responsabilizar e a lutar pelo fim da pandemia" e discorreu sobre a Amazônia. "É importante que o governo de vocês, as empresas de vocês, o povo [do Brasil] parem o desmatamento da Amazônia. Coloquem as pessoas para plantar árvores, não para cortá-las."

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