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Em nova ofensiva, Taleban captura 6ª capital do Afeganistão em 4 dias

Escalada da violência matou 27 crianças e deixou 136 feridas, afirma Unicef

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Mazar-i-Sharif (Afeganistão) e Washington | AFP e Reuters

O grupo fundamentalista Taleban tomou nesta segunda-feira (9) o controle da sexta capital de província do Afeganistão em apenas quatro dias. Desta vez foi a cidade de Aibak, consolidando a ofensiva sobre o norte do país.

Os rebeldes tentam retomar à força o controle do Afeganistão, que governaram entre 1996 e 2001, após o anúncio de que os Estados Unidos vão retirar suas tropas militares do país ao fim deste mês, depois de duas décadas de guerra.

A ofensiva militar tem deixado um rastro de violência. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) disse nesta segunda que ao menos 27 crianças foram mortas e 136 ficaram feridas em apenas três províncias nos últimos três dias.

"O Unicef está chocado com a escalada rápida das graves violações contra crianças no Afeganistão", diz Harvé Ludovic De Lys, representante do órgão. "As atrocidades crescem a cada dia."

Forças de segurança do Afeganistão patrulham Kunduz, cidade que foi tomada pelo Taleban neste domingo - 19.mai.2020/AFP

A conquista de Aibak nesta segunda foi reivindicada pelo grupo e confirmada à agência de notícias AFP pelo governador-adjunto da província de Samangan, da qual a cidade é capital. Segundo ele, o governador pediu a retirada das forças de segurança para evitar que os moradores sofram com os combates.

Aibak é a quinta capital de província ao norte do país sob o comando do Taleban. No domingo (8), o grupo armado conquistou três cidades, entre elas Kunduz, avanço mais importante até agora por ser um ponto estratégico entre a capital, Cabul, e o Tadjiquistão.

A cidade, importante centro urbano com 375 mil habitantes e ponto de passagem para as regiões ricas em minério, estava cercada pelo grupo armado havia semanas, e os combates começaram na noite de sexta-feira, com morteiros e armamento pesado, que foram respondidos pelo governo com ataques aéreos.

O governo em Cabul no entanto ainda não se deu por vencido em Kunduz. O Ministério da Defesa afirma que tropas do governo tentam recuperar o controle da cidade.

Além de Kunduz, o Taleban conquistou no domingo (8) Sar-e Pol, capital da província de mesmo nome, e Taloqan, capital de Takhar, onde libertou presidiários. Em menos de 24 horas o grupo capturou Sheberghan, capital de Jawzjan, também ao norte, após confrontos intensos.

O avanço pelo norte do país pode ser letal para o governo de Cabul. A região era até agora considerada um local de oposição ao Taleban, onde os rebeldes encontraram maior resistência no período em que governaram o país nos anos 1990.

O governo tem reagido. "As cidades que os talebans querem tomar serão em breve seus cemitérios", disse o porta-voz do Ministério do Interior, Mirwais Stanikzai. Mas um porta-voz do grupo disse em entrevista à rede de televisão Al Jazeera no domingo que o Taleban não está disposto a um cessar-fogo com o governo e alertou os Estados Unidos contra possíveis intervenções.

O porta-voz do Pentágono, John Kirby, disse nesta segunda que a situação da segurança no Afeganistão não estava indo na direção certa e que os EUA estão muito preocupados com a escalada do Taleban. Ele acrescentou, no entanto, que as forças afegãs tinham capacidade para lutar contra o grupo fundamentalista. "Essas são suas [do Afeganistão] capitais de província, seu povo para defender e isso realmente dependerá da liderança que estão dispostos a transmitir neste momento particular."

Além dessas cidades ao norte, o Taleban também controla desde sexta-feira (6) Zaranj, capital de Nimroz, no sudoeste do estado e próximo à fronteira com o Irã. Há dias o grupo armado tem atacado outras três capitais, Kandahar e Lashkar Gah, ao sul, e Herat, a oeste.

A velocidade com que o grupo avança tem surpreendido observadores e até as forças de segurança do país. Para conter o grupo, os Estados Unidos intensificaram os bombardeios aéreos, mas as ações não foram suficientes até agora.

O Taleban também tem feito ataques na capital, Cabul, o que preocupa ainda mais o governo do presidente Ashraf Ghani, que foi eleito democraticamente e tem apoio de países do Ocidente.

No sábado, o grupo matou um piloto da Força Aérea, Hamidullah Azimi, com uma bomba implantada em seu carro, na capital do país. Segundo autoridades, cinco pessoas ficaram feridas. Azimi havia sido treinado pelos militares americanos e serviu na Força Aérea por quatro anos.

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Segundo a agência de notícias Reuters, o atentado faz parte de uma campanha do grupo para matar militares afegãos treinados pelos Estados Unidos —sete pilotos já foram mortos. A Força Aérea do Afeganistão tem tido papel essencial para conter o grupo com bombardeios aéreos, já que o Taleban não tem aeronaves.

Na sexta, os rebeldes já haviam assassinado, na capital, o chefe do Centro de Mídia e Informação do governo central, Dawa Khan Menapal. Na quinta, o chefe do distrito de Sayed Abad foi assassinado também em Cabul. Dois dias antes, o Taleban atacou a residência do ministro da Defesa, o general Bismillah Mohammadi, que deixou oito mortos —o ministro sobreviveu.

Os episódios fazem parte de uma série de assassinatos cometidos pelo grupo fundamentalista islâmico para enfraquecer Ashraf Ghani. Dezenas de ativistas, jornalistas, funcionários públicos e juízes que lutaram para manter o atual governo foram mortos pelo Taleban nas últimas semanas.​​

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