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Facebook proíbe Taleban, e volta do grupo extremista traz desafio para redes sociais

Porta-voz da organização islâmica criticou rede social americana em entrevista coletiva

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Elizabeth Culliford Kanishka Singh
Londres e Bengaluru (Índia) | Reuters

A rápida tomada do Afeganistão pelo Taleban representa um novo desafio para as grandes empresas de tecnologia dos EUA em relação ao conteúdo publicado pelo grupo, considerado terrorista pelos governos de alguns países. O gigante das redes sociais Facebook confirmou nesta segunda (16) que designa a facção como grupo terrorista e a proíbe em suas plataformas, assim como conteúdo em seu apoio.

Apesar da proibição, membros do Taleban continuavam a usar o WhatsApp, serviço de mensagens criptografadas de ponta a ponta do Facebook, para se comunicar diretamente com afegãos.

O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, durante entrevista coletiva em Cabul, no Afeganistão
O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, durante entrevista coletiva em Cabul, no Afeganistão - Xinhua

Apenas na noite desta terça (17) a plataforma encerrou uma conta no app que os talebans haviam criado para receber reclamações sobre violência e saques, de acordo com o jornal Financial Times. Um porta-voz do WhatsApp ainda afirmou à agência de notícias AFP que a empresa deve cumprir as sanções dos EUA.

"Isso inclui a proibição de contas que parecem ser canais oficiais dos talebans", afirmou a empresa.

A decisão da plataforma gerou reação do grupo rebelde. Ao ser questionado sobre liberdade de expressão sob o novo governo, o porta-voz do grupo extremista, Zabihullah Mujahid, afirmou que essa pergunta deveria ser feita "às pessoas que dizem ser promotores da liberdade de expressão", citando o Facebook.

No Twitter, porta-vozes do Taleban com centenas de milhares de seguidores divulgaram atualizações durante a tomada do país. Questionada sobre o uso da plataforma pelo Taleban, a empresa indicou suas políticas contra organizações violentas e conduta de ódio, mas não respondeu a perguntas da agência de notícias Reuters sobre como ela aplica as regras neste caso —as condutas da plataforma afirmam que a rede não permite grupos que promovem o terrorismo ou a violência contra civis.

O retorno do Taleban despertou temores de repressão da liberdade de expressão e dos direitos humanos, especialmente os das mulheres, e de que o país volte a se tornar um porto seguro para o terrorismo global.

Autoridades talebans disseram querer relações internacionais pacíficas e prometeram proteger os afegãos, em uma ofensiva de propaganda e desafiando o ceticismo em torno da facção radical.

As maiores empresas de rede social tomaram decisões importantes neste ano sobre como tratar líderes mundiais e grupos no poder. As medidas incluem bloqueios polêmicos, como o do ex-presidente dos EUA Donald Trump, por incitar a violência nos tumultos de 6 de janeiro no Capitólio, e o dos militares de Mianmar durante o golpe de Estado no país.

O Facebook, que há muito é criticado por não combater o discurso de ódio no país asiático, disse que o golpe aumentou os riscos de danos fora da internet e que um histórico de violações dos direitos humanos contribuiu para o veto aos militares governantes.

As companhias, que sofreram críticas de legisladores e reguladores globais por sua influência econômica e política desmesurada, geralmente dependem de designações estatais ou reconhecimento oficial internacional para determinar quem é autorizado a usar seus sites. Isso também ajuda a determinar quem pode ser verificado, ter contas oficiais de Estados ou receber tratamento especial por discurso que burla as regras, aproveitando brechas sobre fatos novos ou de interesse público.

No entanto, as diferenças entre as posições das companhias de tecnologia sugerem que a abordagem não é uniforme. O YouTube, da Alphabet, questionado se tem restrições contra o Taleban, não quis comentar o tema, mas disse que o serviço conta com os governos para definir "organizações terroristas estrangeiras" (FTO, na sigla em inglês) e orientar a política do site e suas regras contra grupos criminosos violentos.

O YouTube apontou a lista do Departamento de Estado de FTOs, na qual não consta o Taleban. Os americanos classificam o grupo como um "terrorista global especialmente designado", o que congela os ativos nos EUA de pessoas incluídas na lista e proíbe que americanos trabalhem para elas.

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Embora a maioria dos países dê poucos sinais de que vá reconhecer o grupo diplomaticamente, a posição do Taleban no cenário mundial ainda pode mudar conforme ele consolida o controle do Afeganistão.

"O Taleban é uma espécie de ator aceito em um nível de relações internacionais", diz Mohammed Sinan Siyech, pesquisador sobre segurança no sul da Ásia e doutorando na Universidade de Edimburgo, indicando conversas que a China e os EUA tiveram com o grupo.

"Se esse reconhecimento vier, para uma empresa como Twitter ou Facebook torna-se complicado tomar uma decisão subjetiva de que esse grupo é mau e que por isso não o aceitarão."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves. Com AFP

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