Governador de NY integra longa fila de políticos acusados de maltratar mulheres

Investigação mostra que democrata Andrew Cuomo assediou sexualmente 11 pessoas

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Jennifer Medina
The New York Times

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, é o último em uma longa série de figuras políticas que foram acusadas de assédio ou agressão sexual. Quase todos enfrentaram pedidos para que renunciassem, e alguns cederam, enquanto outros se recusaram firmemente a se demitir.

Qual é a diferença entre os que ficam no poder e os que não? Filiação partidária é uma delas: nos últimos anos, os líderes democratas geralmente abandonaram os membros do partido que foram acusados de assédio ou agressão, levando-os frequentemente —mas nem sempre— a se demitirem e serem substituídos por outros democratas. Os republicanos, que nem sempre enfrentaram a mesma pressão dos líderes partidários, geralmente fincaram pé e continuaram no cargo.

Andrew Cuomo usa um terno preto, camisa braca, e gravata rosa. Ele tem uma mão no peito, e expressão séria. Ao fundo, a bandeira dos Estados Unidos.
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, participa de entrevista coletiva - Mary Altaffer - 10.mai.21/Reuters

Isso torna o caso de Cuomo ainda mais incomum: ele deixou claro que não pretende deixar o cargo voluntariamente. Mas desde o ex-presidente Bill Clinton não houve uma investigação tão extensa e pública de um político de perfil destacado por denúncias de má conduta sexual. "Toda essa discussão não se baseia apenas em reportagens da imprensa, mas em uma cuidadosa e realmente extensa investigação e análise jurídica", disse Emily Martin, vice-presidente do Centro Nacional de Direito para Mulheres. "Alguns políticos exploraram esse tipo de incerteza inerente. Eles aprenderam a lição de que se você não se demite ninguém vai acusá-lo."

Desta vez pode ser diferente. Se Cuomo não renunciar, poderá enfrentar um processo de impeachment pelo Legislativo estadual.

A lista de figuras políticas que foram acusadas de assédio ou agressão sexual é longa demais para um artigo, mas aqui está uma visão de algumas denúncias mais recentes na esteira do movimento #MeToo.

Donald Trump
Mais de duas dúzias de mulheres acusaram publicamente o ex-presidente de assédio ou agressão sexual. Semanas antes da eleição de 2016, surgiu uma gravação de 2005 de Trump gabando-se em termos vulgares sobre beijar e agarrar mulheres sem seu consentimento. O republicano admitiu seus comentários na época, dizendo em um vídeo: "Eu disse isso, eu errei e peço desculpas". Mas ele também minimizou a conversa como "papo de vestiário" e mais tarde questionou sem argumentos a autenticidade da gravação.

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Apesar da indignação geral de democratas e grupos de mulheres, Trump não foi punido nas urnas por seus comentários —um número maior de eleitoras votou nele e não em Hillary Clinton. Mais tarde, em 2019, a escritora E. Jean Carroll acusou Trump de tê-la estuprado no provador de uma loja de departamentos em Nova York. Ele negou a acusação, e ela o processou por difamação, caso em que ele adotou a medida legal altamente incomum de recorrer ao Departamento de Justiça para defendê-lo.

Al Franken
Em 2017, Leeann Tweeden, comediante e apresentadora esportiva, acusou Franken, um senador democrata de Minnesota, de beijá-la à força durante um ensaio e de agarrá-la para uma foto enquanto ela dormia durante uma turnê humorística pelo Oriente Médio em 2006. Franken pediu desculpas, mas disse que tinha uma lembrança diferente dessa época. "Não sei o que estava na minha cabeça quando tirei aquela foto, e não importa", escreveu ele em um comunicado. "Não há desculpa. Eu olho para isso hoje e sinto nojo de mim mesmo. Não é engraçado. É totalmente inadequado." Várias semanas depois, em meio a pedidos de sua renúncia, Franken se demitiu.

Roy Moore
No final de 2017, quatro mulheres, e depois mais uma, disseram que Roy S. Moore, na época candidato republicano ao Senado de Alabama, lhes havia feito propostas sexuais quando eram adolescentes e ele maior de 30 anos. Uma mulher acusou Moore de obrigá-la a um encontro sexual quando ela tinha 14 anos, e várias o acusaram de agressão sexual.

Muitos políticos republicanos, incluindo o senador Mitch McConnell, líder da maioria no Senado na época, pediram que Moore abandonasse a disputa, mas ele negou todas as denúncias e disse que faziam parte de uma conspiração para impedir sua eleição. Trump apoiou Moore cerca de uma semana antes da eleição, mas ele perdeu para Doug Jones, que se tornou o primeiro democrata desde 1992 a ganhar um lugar no Senado do Alabama.

Brett Kavanaugh
Pouco depois de Trump nomear Brett Kavanaugh para a Suprema Corte, em 2018, três mulheres o acusaram de agressão sexual ou má conduta. Uma delas, Christine Blasey Ford, disse que Kavanaugh a havia agredido sexualmente quando ela tinha cerca de 15 anos em uma festa num subúrbio de Maryland no início dos anos 1980. Durante horas de depoimento à Comissão de Justiça do Senado, Blasey Ford disse que ela temeu que Kavanaugh a estuprasse e matasse acidentalmente durante o suposto ataque. Kavanaugh negou "inequívoca e categoricamente" a denúncia e foi confirmado para o tribunal por uma das menores margens na história dos Estados Unidos.

Eric Schneiderman
Eric T. Schneiderman, ex-secretário de Justiça do estado de Nova York, renunciou em 2018, horas depois de a revista New Yorker relatar que quatro mulheres o acusavam de tê-las atacado fisicamente. Duas delas contaram que foram esganadas e agredidas repetidamente por Schneiderman, um democrata. Embora ele tenha negado as acusações, vários líderes do partido —incluindo Cuomo— pediram sua demissão.

"Minha opinião pessoal é que, dado o padrão condenatório dos fatos e da corroboração exposta no artigo, não acredito que seja possível que Eric Schneiderman continue servindo como secretário de Justiça", disse Cuomo na época.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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