Descrição de chapéu talibã Ásia

Número 2 do Talibã chega a Cabul para negociar formação de governo

EUA e Alemanha fazem alertas a cidadãos sobre 'possíveis ameaças' em aeroporto

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Cabul | AFP e Reuters

Cofundador do Talibã e considerado o número 2 na hierarquia da facção, Abdul Ghani Baradar chegou a Cabul neste sábado (21) e deve liderar as negociações para a formação da estrutura do governo do grupo fundamentalista islâmico, que retomou o poder no Afeganistão nesta semana.

O mulá Baradar, capturado por forças de segurança em 2010 e solto desde 2018, quando passou a comandar o escritório político do Talibã no Qatar, já havia voltado ao país na terça (17), instalando-se inicialmente em Kandahar.

O mulá Abdul Ghani Baradar em reunião de negociação de acordo com os EUA no Qatar em 2020 - Karim Jafaar - 29.fev.20/AFP

Porta-vozes disseram à agência de notícias Reuters que o grupo deve consolidar a formação de um governo nas próximas semanas, destacando equipes para lidar com finanças e questões de segurança. Haverá ainda um gabinete de gestão de crise, composto também por membros da gestão anterior.

Outro porta-voz, Zabihullah Mujahid, em entrevista coletiva no começo da semana, iniciou uma espécie de ofensiva do grupo extremista para mostrar moderação. Ele negou represálias do Talibã contra antigos adversários e afirmou que os direitos das mulheres serão protegidos —dentro do "arcabouço do islã".

Por outro lado, entrevista do membro da cúpula Waheedullah Hashimi à Reuters destacara, entre os pontos do governo projetado, que ele não seria um sistema democrático, "porque isso não tem base no nosso país; [...] é a lei da sharia".

Baradar, que tem na agenda nos próximos dias encontros com militares, jihadistas, líderes locais e religiosos, também deve se encontrar com dirigentes da rede Haqqani, de acordo com a AFP. A esse grupo radical, considerado terrorista pelos EUA e pela ONU, foi confiada a segurança da capital, Cabul.

Na última quinta (19), líderes da facção já haviam se reunido com o ex-chanceler Abdullah Abdullah e o ex-presidente Hamid Karzai, também como parte das negociações para montar um novo governo. Um deles, Khalil Haqqani, foi aplaudido ao falar a fiéis numa mesquita após as orações de sexta.
As movimentações do Talibã fizeram com que a embaixada americana emitisse um alerta a seus cidadãos e aliados no Afeganistão. Citando "potenciais ameaças de segurança" na região do aeroporto da capital, pediu que as pessoas só se dirigissem ao terminal caso fossem orientadas individualmente a fazê-lo.
Sob condição de anonimato, integrantes das forças americanas disseram que o aeroporto em si está seguro e que rotas alternativas até ele seriam definidas, em razão de ameaças de grupos terroristas como Al Qaeda e Estado Islâmico —ao jornal The New York Times, porém, acrescentaram ser pouco claro o risco de um atentado por parte desta facção. Na sexta, um grupo de 169 pessoas foi retirado de um hotel num helicóptero militar, em uma rara operação americana fora do aeroporto nos últimos dias.
Em Cabul, a Alemanha também alertou seus cidadãos, em um email da embaixada, sobre riscos de segurança no terminal, orientando que a ida a ele deveria ser evitada.

A confusão vista ao longo da semana, com registro de ao menos 12 mortos e vários feridos —além de cenas que se tornaram um dos símbolos do noticiário, de afegãos tentando agarrar-se à fuselagem de um cargueiro e ao menos duas pessoas caindo do avião após a decolagem—, permanece.

Afegãos lotam estrada próxima ao aeroporto de Cabul nesta sexta (20) - Walil Kohsar - 20.ago.21/AFP

Neste sábado, o governo suíço informou ter adiado a decolagem de um voo fretado rumo ao Uzbequistão. "A segurança no entorno do aeroporto de Cabul piorou significativamente nas últimas horas. Uma multidão em frente ao terminal e por vezes confrontos violentos impedem acesso ao local", disse em nota o Ministério das Relações Exteriores.

Os esforços dos EUA para a evacuação de Cabul incluem parcerias para receber voos —desafogando a sobrecarregada base militar americana no Qatar— e refugiados. Nesta sexta, o secretário de Estado, Anthony Blinken, anunciou que 13 países, incluindo Chile, Colômbia e México, concordaram em abrigar afegãos retirados pelo país.

Na Europa, a retirada recebeu duas críticas. O ex-premiê britânico Tony Blair, que envolveu o Reino Unido na invasão ao Afeganistão em 2001, escreveu no site de sua fundação um artigo sobre o que chamou de abandono do país. "É algo trágico, perigoso e desnecessário", disse. "Não é do interesse do povo afegão nem do nosso."

E o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, afirmou, sobre o prazo de 31 de agosto, definido para a saída definitiva das tropas dos EUA: "Querem retirar 60 mil pessoas de hoje até o fim do mês. É matematicamente impossível".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, por sua vez, disse que a UE não reconheceu o Talibã nem manterá conversas com o grupo neste momento. Ela instou europeus a acolher refugiados afegãos e assegurou que países-membros teriam apoio financeiro do bloco. "Faço um chamado a todos os países que participaram de missões no Afeganistão, principalmente os europeus, que determinem cotas suficientes de admissão de refugiados afegãos." Von der Leyen acrescentou que a UE irá direcionar recursos orçamentários para apoiar quem se dispuser a acolher refugiados.

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