Após terremoto, premiê do Haiti promete eleições 'o quanto antes'

Organização do pleito para cargo de líder assassinado foi interrompida por tremor

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Washington e Porto Príncipe | AFP

O primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, prometeu nesta sexta-feira (20) realizar eleições "o quanto antes", apesar da devastação causada pelo terremoto recente que deixou mais de 2.000 mortos, em um país ainda abalado pelo assassinato de seu presidente, em julho.

Durante sessão extraordinária remota do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre o Haiti, Henry reconheceu que a comunidade internacional vê com receio a instabilidade política crônica no país caribenho, agravada pelo "assassinato infame" de Jovenel Moïse, em 7 de julho.

O premiê do Haiti, Ariel Henry, durante entrevista coletiva em Porto Príncipe
O premiê do Haiti, Ariel Henry, durante entrevista coletiva em Porto Príncipe - Ricardo Arduengo - 28.jul.21/Reuters

"Eu me comprometi a fazer o que estiver ao meu alcance para colocar o meu país de volta aos trilhos de uma democracia funcional, com a organização de eleições livres e transparentes o quanto antes", afirmou Henry, que assumiu o cargo em 20 de julho, após ter sido designado por Moïse.

O primeiro-ministro admitiu que o processo eleitoral em curso foi interrompido pelo terremoto, "que mobilizou todas as energias", mas garantiu que será retomado "o mais rapidamente possível". Ele não especificou uma data, no entanto.


Na semana passada, antes do terremoto, o conselho eleitoral provisório havia dito que o primeiro turno das eleições presidenciais, inicialmente programadas para setembro, seria em 7 de novembro. Para o mesmo dia estão previstas eleições legislativas, que deveriam ter sido realizadas em 2019, e um referendo constitucional apoiado por Moïse, adiado duas vezes em razão da pandemia.
O então presidente, assassinado em casa por um comando armado, governava por decreto, depois de as eleições legislativas de 2018 serem adiadas e surgirem disputas sobre se seu mandato deveria terminar em fevereiro de 2021 ou 2022.

Nesta sexta, Henry agradeceu a solidariedade da comunidade internacional após o terremoto de sábado, que devastou o sudoeste do país. Foram mais de 2.200 mortos, 53 mil casas destruídas e outras 77 mil danificadas durante a catástrofe.

"O desafio é grande, e precisaremos do apoio de todos vocês", disse, lembrando que a temporada de furacões não terminou ainda e que a pandemia continua infectando e matando haitianos.

Os EUA enviaram de Honduras oito helicópteros do Exército para manter o esforço de retirada dos feridos mais graves para centros médicos especializados na capital haitiana. Um hospital de campanha também será instalado na cidade de Les Cayes, a que sofreu mais danos humanos e materiais com o tremor.

Um navio de transporte americano e outro britânico serão enviados para facilitar as operações dos helicópteros. A União Europeia mobilizou 3 milhões de euros, fora contribuições materiais de países-membros. O Brasil deve enviar um avião com bombeiros e remédios neste fim de semana.

Henry afirmou que, para não repetir erros da gestão da crise humanitária de 2010, quando um terremoto matou mais de 200 mil pessoas no país, a coordenação da resposta neste momento vai se concentrar na Direção de Proteção Civil haitiana.

"Para garantir a total transparência na gestão das ajudas, criei um grupo de trabalho ad hoc", afirmou.

A prioridade das autoridades e dos agentes humanitários é evitar a concentração de pessoas em grandes acampamentos informais. "Não haverá distribuição de barracas nem criação de acampamentos. Vamos adotar estratégias que permitam às pessoas reparar e reconstruir suas casas", disse Federica Cecchet, coordenadora da Organização Internacional para as Migrações (OIM) no Haiti.

​Além de alimentos, água e ajuda médica, lonas de plástico, tábuas de madeira e pregos estão sendo levados de caminhão da capital, Porto Príncipe, às regiões afetadas. No pós-terremoto de 2010, as intervenções controladas de grupos estrangeiros reforçaram o apelido do Haiti de "República das ONGs".

Alguns afetados que moram nas áreas mais remotas foram ignorados por agentes humanitários, e muitos agiam sem prestar contas às autoridades nacionais, incapazes de responder à emergência diante da morte de vários funcionários públicos no terremoto que destruiu quase todos os ministérios e prédios administrativos.

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