Descrição de chapéu União Europeia taleban

'Taleban venceu a guerra; temos que negociar com eles', diz chefe da diplomacia da UE

Após reunião do bloco, Borrell defende diálogo para exigir respeito a direitos humanos

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Bruxelas

"O Taleban ganhou a guerra; teremos que negociar com eles", afirmou nesta terça-feira (17) o responsável por Relações Exteriores e política de segurança da União Europeia, Josep Borrell, após reunião com ministros da área dos 27 países-membros do bloco.

Borrell disse que estabelecer o diálogo com o grupo é a única forma de conseguir tirar do país estimados 380 afegãos e familiares que trabalhavam em instituições da UE, além de um número ainda impreciso de cidadãos europeus de diferentes missões e órgãos.

“Não se trata de reconhecer governo, mas de olhar para o futuro e lidar com as autoridades, sejam quais forem, para obter o respeito aos direitos humanos, principalmente de mulheres e crianças, e garantir que o terrorismo seja combatido”, disse.

Manifestantes com placas e a bandeira do Afeganistão durante ato em Berlim, na Alemanha, nesta terça (17), que pediu a transferência segura de pessoas que queiram deixar o país asiático após a tomada do poder pelo Taleban - John Macdougall/AFP

Grupo que foi sinônimo de radicalismo fundamentalista islâmico no final do século 20, o Taleban derrubou o governo do Afeganistão no último domingo (15), numa rápida campanha militar em meio à retirada das tropas dos Estados Unidos do país.

O chefe da diplomacia da UE afirmou que o colapso do governo afegão e a tomada de poder pelos talebans terá “grande impacto na segurança regional e internacional”: “É o mais importante evento desde que a Crimeia foi arrebatada pela Rússia, com grandes consequências para o mundo ocidental”.

De acordo com Borrell, o Ocidente precisará refletir sobre o fracasso de duas décadas de intervenção e investimentos na construção de uma nova sociedade no país asiático.

A luta contra a organização Al Qaeda no Afeganistão foi bem-sucedida nesse período, segundo ele, mas o processo de construção da nação falhou, "apesar da enorme quantidade de recursos direcionados ao país".

A União Europeia, um dos principais doadores para programas de desenvolvimento afegão, afirmou que esses repasses estão suspensos, mas que ajuda humanitária será mantida.

Nesta segunda, em discurso sobre a vitória do Taleban, o presidente americano, Joe Biden, lamentou a situação, mas foi taxativo ao dizer que o objetivo dos EUA no Afeganistão nunca foi construir um país.

A reunião desta terça da UE também discutiu como evitar que a crise afegã resulte em milhões de refugiados chegando às portas da Europa, como aconteceu em 2015 e 2016.

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O tema será assunto de novo encontro, marcado para esta quarta, entre os ministros do Interior —que também discutirão a crise imigratória na Lituânia e em vizinhos, provocada pelo que o bloco chama de “guerra híbrida” promovida pela Belarus.

Segundo Borrell, uma das formas de lidar com o fluxo migratório afegão será apoiar países limítrofes, como Paquistão e Irã.

Fora da UE, países europeus como Albânia e Kosovo aceitaram pedido dos Estados Unidos para abrigar em seus territórios refugiados afegãos que procuram asilo na América do Norte.

Questionado sobre se acreditava que o Taleban de hoje pudesse ser diferente do que foi vencido 20 anos atrás, Borrell respondeu que a tomada de poder era ainda muito recente para qualquer avaliação. “Aparentemente são os mesmos. Mas falam inglês melhor”, acrescentou.

Ainda nesta terça, o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, criticou o que chamou de "fracasso das autoridades afegãs" ante o Taleban e a rapidez com que os rebeldes ocuparam Cabul.

"Os aliados sabiam que a alternativa não seria continuar [no Afeganistão] com presença militar limitada, mas provavelmente continuar com presença ampliada de tropas da Otan e mais uma vez se envolver em combates", disse, em Bruxelas.

Para Stoltenberg, as forças da Otan "combateram com coragem", mas não conseguiram "controlar o país" por causa do fracasso das autoridades locais em se opor aos talebans e chegar a uma solução pacífica.

Depois de tomar o poder, o grupo lançou uma ofensiva nesta terça para se mostrar mais tolerante, que incluiu uma entrevista na TV para uma apresentadora mulher.

Em outra conversa com jornalistas, o porta-voz Zabihullah Mujahid disse que o Taleban quer paz, negou represálias contra antigos adversários e afirmou que os direitos das mulheres serão protegidos —dentro do "arcabouço do Islã".

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