Descrição de chapéu terrorismo

Tiroteios são ouvidos na periferia de Cabul, alarmando moradores

Na sexta (13), ofensiva do Taleban havia chegado a 70 km da capital do Afeganistão

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São Paulo

Um forte tiroteio foi ouvido por moradores de Cabul no início de madrugada de domingo —tarde de sábado (14) em Brasília—, gerando ansiedade acerca de um eventual início de invasão da capital afegã pelo Taleban.

A ação, que se desenrolou de forma intermitente, ocorreu no 12º Distrito da capital, uma região periférica no leste de Cabul que tem cerca de metade de sua área tomada por pequenas propriedades rurais.

Como o Taleban, que iniciou sua ofensiva para retomar o poder no domingo retrasado, havia tomado a cidade de Pul-i-Alam (70 km a sudoeste da capital) na sexta (13), o temor de que a batalha por Cabul tivesse começado só fez crescer.

Migrantes afegãos que deixaram suas províncias de origem após a ofensiva do Taleban se aglomeram para receber comida na capital Cabul - Wakil Kohsar - 13.ago.21/AFP

"Estamos no escuro, as pessoas ficam mandando mensagens, mas aqui no centro está tudo calmo", afirmou o jornalista Ali Ahmed, também por aplicativo.

Não se sabe até aqui, contudo, se os tiroteios tiveram algo a ver com o Taleban. Parece difícil que o grupo tivesse tido condições de iniciar a ofensiva à região onde o governo de Ashraf Ghani concentra suas defesas tão rapidamente, apesar da velocidade vertiginosa do assalto às cidades nas duas últimas semanas.

A suposição de Ahmed é de que uma patrulha taleban possa ter feito uma incursão para testar o sistema defensivo da cidade.

Militarmente, o movimento principal do sábado parecia ser a tomada da última grande cidade ao norte nas mãos do governo, Mazar-i-Sharif. São 24 de 34 capitais provinciais conquistadas, e o governo parece paralisado em sua reação. Só 2 das em suas mãos são de fato importantes.

A pressão toda irá se voltar para Cabul e o leste afegão, com o bastião governista de Jalalabad, no meio do caminho para a fronteira paquistanesa. Não é casual a retirada de pessoal americano e britânico da capital, além do fechamento de embaixadas ocidentais.

O Taleban busca voltar ao poder do qual foi expulso, após cinco anos de um regime aberrante moldados num califado islâmico medieval, em 1996.

Isso se tornou possível com a retirada dos americanos e seus aliados ocidentais, que haviam invadido o país em 2001 para punir o grupo por abrigar os terroristas da rede Al Qaeda, que haviam perpetrado os atentados do 11 de Setembro nos EUA, matando cerca de 3.000 pessoas.

A retirada americana foi acertada por Donald Trump no ano passado, e previa um pacto nacional no qual o Taleban abriria mão de radicalismos e contatos com terroristas em troca de um lugar na divisão de poder com o governo.

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Os americanos, por sua vez, sairiam em maio. Com a entrada de Joe Biden na Casa Branca, contudo, o cronograma mudou. Em abril, o novo presidente disse que a retirada ocorreria até 11 de setembro, numa ideia esquisita de coincidir com os 20 anos dos ataques que levaram à mais longa guerra já travada por Washington.

Depois, o americano antecipou a saída para 31 de agosto mas hoje há apenas tropas residuais no Afeganistão. Isso fez o Taleban ao mesmo tempo dizer que os EUA não cumpriram o prometido e, por sua vez, rasgar o compromisso de acordo político.

​Se há alguma chance de uma acomodação final com o país todo nas mãos talebans, é incerto e vai depender de atores externos como Paquistão, China, Rússia e Turquia, cada qual com um interesse diverso na região.

Os EUA mantiveram contato com o Taleban em Doha na quarta-feira passada (11), mas nada transpareceu e tudo o que ocorreu foi Biden enviar 5.000 soldados para uma operação de evacuação com ecos da queda de Saigon para os comunistas vietnamitas em 1975.

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