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Xi Jinping volta da praia e prega 'socialismo raiz' na China

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Xi e o 'socialismo raiz'

Em uma reunião sobre metas financeiras nacionais, o líder chinês, Xi Jinping, cobrou nesta semana que sejam feitos esforços para a promoção da "riqueza moderada a todos", a chamada "prosperidade comum" que entrou no léxico da mídia e do empresariado chinês.

A declaração foi feita após o retorno de Xi do resort em Beidaihe, na província de Hebei. É comum que líderes chineses passem as duas primeiras semanas de agosto em discussões políticas secretas na cidade de veraneio, localizada a cerca de 300 km da capital.

Xi disse que é preciso "ajustar a renda excessivamente alta e retificar a distribuição de renda".

  • O comentário indica que a China deve desacelerar a privatização de serviços públicos como assistência a idosos, acesso a médicos, custo de acessibilidade a pessoas com deficiência e educação.

  • Sobre o setor de ensino, as primeiras medidas já começaram, com a edição de duras regras para conter o mercado de "cursinhos" e tutores particulares.

Em reação ao discurso de Xi, a Tencent —dona do app de mensagens WeChat e uma das companhias de tecnologia mais lucrativas do país— anunciou uma doação no valor de ¥ 50 bilhões (mais de R$ 41,5 bilhões) a um projeto especial "dedicado à prosperidade comum". Para cair nas graças do governo, é provável que outras empresas sigam o mesmo caminho.

Por que importa: quando abriu a China para regras capitalistas, o ex-líder Deng Xiaoping admitiu que "alguns fiquem ricos primeiro", mas os 10% que integram esta parcela hoje concentram mais de 40% de toda a renda nacional. Na China, o índice Gini, que mede a desigualdade, é de 0,47, situação pior que a de países como Afeganistão, Etiópia e Sudão. O panorama é visto com preocupação pelo governo, que teme instabilidade se a desigualdade continuar crescendo.


o que também importa

Se você quiser viajar a Hong Kong em meio à pandemia de coronavírus, certamente terá de obedecer a uma série de regras. São exigidos a comprovação de que o deslocamento é essencial, uma carta convite, múltiplos testes PCR para detecção da Covid e uma rigorosa quarentena em hotéis designados na chegada.

Mas para a atriz australiana Nicole Kidman, bastaram um jatinho particular e a produção de uma série da Amazon.

No território chinês para a gravação da série “The Expats”, Kidman foi dispensada de apresentar os exames e pegou um jatinho saindo da Austrália direto para Hong Kong. O caso poderia ter passado despercebido se a atriz não fosse vista fazendo compras acompanhada de guarda-costas em Queen's Road Central, área comercial da cidade.

Os locais reagiram furiosos e cobraram explicações do governo. Depois da pressão, o Departamento de Comércio e Desenvolvimento Econômico de Hong Kong afirmou que Kidman foi autorizada a realizar "trabalho profissional designado propício para manter as operações necessárias e o desenvolvimento da economia de Hong Kong”.


Quem foi para a China sabe: em qualquer praça ou parque públicos, certamente haverá idosos dançando e cantando no início ou no final do dia. A tradição resiste ao tempo e remonta à China imperial, quando a reunião de senhores e senhoras no centro dos hutongs (espécie de ruelas antigas) para socializar era comum.

Mas, se depender do governo chinês, essa prática deve mudar. A agência de notícias estatal anunciou na terça (17) que o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo está discutindo uma emenda à lei de poluição sonora de 1997 para regular o uso de espaços públicos para essas danças coletivas.

  • Se aprovada, a lei vai exigir que os participantes se restrinjam a espaços designados e respeitem um horário limite. Os congressistas também pretendem criar um controle de ruídos noturnos. Quem desrespeitar a regra será multado entre ¥ 200 e ¥ 500 (R$ 166 a R$ 416).

Essa não é a primeira vez que autoridades chinesas tentam controlar as dancinhas dos idosos, consideradas muito barulhentas pela população em geral. Há quatro anos, a Administração Geral do Esporte da China emitiu um alerta avisando que “ruídos de danças e exercícios em praças não devem afetar os alunos que frequentam as aulas e a subsistência residencial". O alerta, porém, teve pouco efeito, já que não previa penalidades.


Na maior parte do mundo, quem compra produtos da Apple direto no site da empresa consegue personalizar o novo dispositivo com frases e emojis. Na China, porém, não é bem assim. O Citizen Lab, vinculado à Universidade de Toronto, divulgou nesta semana que há milhares de palavras proibidas de serem usadas para customização no país asiático.

  • Entre os termos censurados estão, por exemplo, a combinação numérica 8964 (em referência ao massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido no dia 4 de junho de 1989), 達賴 (Dá lài, referência ao Dalai Lama), 新聞自由 (Xīnwén zìyóu, ou liberdade de imprensa), 法輪功 (Fǎlún Gōng, religião banida na China) e 艾未未 (Ài Wèiwèi, artista dissidente, crítico do Partido Comunista).

A Apple respondeu ao grupo dizendo que o serviço de gravação "é conduzido por nossos valores" e impedem termos "vulgares ou culturalmente sensíveis, que podem ser interpretados como incitação à violência ou sejam considerados ilegais de acordo com regulamentações locais".


fique de olho

A porta-voz da chancelaria chinesa Hua Chunying disse nesta quinta (19) que o "julgamento que o mundo fazia do Talibã carecia de objetividade" e que a versão atual do grupo extremista "está mais calma e racional do que da última vez em que ocupou o poder".

A declaração acompanha nota divulgada pela China no início da semana, quando o governo de Ashraf Ghani, apoiado pelos EUA, caiu, e os fundamentalistas assumiram o controle do país. Na sequência, Pequim disse estar preparada para manter "relações amistosas" com o grupo e foi um dos poucos países a não fechar a embaixada em Cabul.

Por que importa: não se engane, a China não tem pretensões econômicas de curto prazo e certamente compartilha do temor expressado por outros países quanto a instabilidades na segurança regional, já que compartilha fronteira com o Afeganistão. Mesmo assim, o país deve ocupar parcialmente o vácuo de poder deixado pela retirada das tropas americanas e tentará moderar o Talibã, evitando que se associem a separatistas islâmicos na conturbada província de Xinjiang.

Chinese State Councilor and Foreign Minister Wang Yi meets with Mullah Abdul Ghani Baradar, political chief of Afghanistan's Taliban, in north China's Tianjin, July 28, 2021. (Xinhua/Li Ran)
Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, se encontrou em julho com Mullah Abdul Ghani Baradar, um dos líderes do Talebã - Xinhua/Li Ran

para ir a fundo

  • Com a saída dos EUA do Afeganistão, a China desempenhará um papel fundamental na estabilidade e reconhecimento do regime do Talibã. No blog, explico como Pequim reagiu à queda e o que esperar dos chineses na contenção da crise a partir de agora. (paywall poroso, em português)
  • O portal Sixth Tone faz um extenso perfil sobre Chao Xiaomi, ativista transgênero que luta pelo fim do binarismo de gênero na China. O texto traz, ainda, uma análise bastante aprofundada sobre a vida de minorias no país. (gratuito, em inglês)
  • A China vem adotando medidas para conter o rápido envelhecimento populacional e incentivar o nascimento de mais crianças. O Radii China explica por que esta política está falhando e como a insistência por mais crianças está levando millennials chineses a adotarem animais de estimação (gratuito, em inglês)
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