Descrição de chapéu Governo Biden

Ato em Washington em apoio a invasores do Congresso tem pouco público e muita polícia

Organizador buscou se dissociar de Donald Trump e disse que movimento era apartidário

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Washington

Um protesto pelo fim das punições a invasores do Congresso, convocado por um ex-colaborador de Donald Trump neste sábado (18), em Washington, teve pouco público e muita presença de policiais.

O ato reuniu cerca de 400 pessoas, segundo a polícia, que esperava ao menos 700. O protesto durou cerca de uma hora e terminou de modo pacífico. O público encheu a área perto do palco, mas a maior parte da área reservada ao ato, em frente ao Congresso, ficou vazia. Em algumas partes, parecia haver mais jornalistas do que manifestantes.

Apoiadores dos acusados por invasão ao Capitólio em 6 de janeiro se manifestam em Washington
Apoiadores dos acusados por invasão ao Capitólio em 6 de janeiro se manifestam em Washington - Eric Baradat/AFP

A Folha presenciou ao menos três pequenos incidentes, que foram contidos rapidamente. Dezenas de policiais surgiram de várias direções para conter um ativista mascarado que gritava palavras contra os manifestantes. Um fotógrafo vestido com capacete, colete à prova de balas e calça militar foi detido para averiguações.

A polícia disse ter feito ao menos quatro prisões, de um homem com uma arma e outro com uma faca no evento. Outros dois foram detidos em um carro, por terem mandados de prisão contra eles, emitidos no Texas.

O ato deste sábado, batizado de "Justice for J6" (justiça por 6 de Janeiro), expressou apoio aos acusados de participar da invasão ao Congresso e lembrou a morte de Ashli Babbitt, ativista baleada por um policial.

Ao abrir o evento, o organizador Matt Braynard buscou se distanciar dos partidos e disse que o ato não tinha relação com Donald Trump ou Joe Biden. "Se você odeia Trump, não nos odeie também", afirmou. "Este ato não é de direita ou de esquerda. Se os detidos fossem democratas, também estaríamos aqui."

Braynard foi colaborador da campanha de Trump. Ele criou um movimento para defender manifestantes que participaram da invasão ao Capitólio em 6 de janeiro. Naquele dia, apoiadores dele tentaram impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições e fazer com que o republicano seguisse no cargo de modo ilegal.

Com cinco mortos e centenas de feridos, a invasão terminou sem que seus objetivos fossem atingidos. Desde então, o FBI tem sido duro nas investigações e já prendeu mais de 600 participantes da insurreição.

Os organizadores do ato dizem concordar que haja punição para os invasores que causaram danos ou confrontaram policiais, mas que a maioria dos que entraram naquele dia no Congresso estava seguindo a multidão durante um protesto e depois foi embora sem causar danos. E que esse segundo grupo não deve ser alvo de punições mais severas, pois estariam apenas exercendo seu direito a se expressar.

O ex-presidente Trump havia dado apoio público aos atos, mas não compareceu. "Nossos corações e mentes estão com as pessoas processadas de modo tão injusto por relação com o protesto de 6 de janeiro sobre a eleição presidencial manipulada", escreveu na quinta (16).

Entre os ativistas que foram ao evento, muitos faziam críticas a Biden. Tomas Smith, um jovem negro, levava um cartaz que chamava o atual presidente de "ditador", por defender a vacinação obrigatória contra a Covid. "Civis foram mortos no Afeganistão e ninguém fala em impeachment para Biden", disse.

"Joe Biden não toma nenhuma decisão. Ele só faz o que mandam. Ele mal consegue pensar", criticou um jovem branco, que não quis dar seu nome e veio vestido com um chapéu de castor, colete de couro bege e calças militares.

Alguns manifestantes também levaram cartazes e bandeiras com referência à China e à Rússia, com alertas de que os EUA poderiam virar um país comunista e autoritário. Outros símbolos que costumavam frequentar atos de Trump, como a bandeira amarela que traz uma serpente e a frase "não pise em mim", adotada por movimentos de direita como o Tea Party, circulavam pelo ato.

Do outro lado da praça, uma dezena de ativistas veio criticar o ato, com cartazes que chamavam Trump de "perdedor" e diziam que mentiras e liberdade de expressão são coisas diferentes. Uma caixa de som tocava um rap que satirizava o ex-presidente. A polícia buscou evitar confronto entre os dois grupos.

Os protestos deste sábado foram encarados pela polícia como uma oportunidade de treinar novas formas de defender o Congresso e evitar cenas como as de janeiro. Uma das principais mudanças foi justamente na preparação: as autoridades passaram a buscar mais informações, para se antecipar aos manifestantes, e a trocar mais dados entre si. A busca de dados é feita em redes sociais e nos pedidos de autorização de atos nas ruas.

Desta vez, a polícia adotou medidas muito mais rígidas. Pediu reforço de mais de 1.600 agentes, que circulam pela região de forma ostensiva. Cercou a área ao redor do Congresso com grades e barreiras de concreto. Caminhões foram levados para a região, para serem usados como barreiras instantâneas, se necessário. A praça em frente à Casa Branca também foi fechada.

O grupo Look Ahead America, que organizou o ato, enviou uma queixa à Comissão de Direitos Humanos da ONU para questionar a forma como os invasores de janeiro estão sendo tratados e pedir sanções. Num comunicado, clamou "aos governos ao redor do mundo" para impor restrições de viagem a Biden, ao secretário de Justiça, Merrick Garland, ao diretor do FBI, Christopher Wray, e a outras autoridades "envolvidas nessa violação grosseira aos direitos humanos".

Os acusados estão sendo indiciados por diversas razões, de acordo com o nível de envolvimento nas cenas de violência e no planejamento da ação. Ao menos 185 foram processados por atacar ou impedir a ação de agentes de segurança, incluindo 55 que usaram armas perigosas no ataque, mais de 550 foram autuados por entrar em um prédio federal sem autorização e 40, por conspirar para obstruir um procedimento do Congresso. Até o começo de setembro, seis réus haviam sido condenados.

O FBI continua investigando um conjunto de mais de 200 mil pistas recebidas de cidadãos, para identificar mais ativistas que tenham participado dos atos de alguma maneira, e segue em busca de mais denúncias.

Apesar do apoio de Trump, a cúpula republicana, por outro lado, tem buscado se afastar dos atos. Os líderes do partido na Câmara e no Senado disseram que nenhum parlamentar da legenda deveria participar dos protestos, embora alguns deles tenham criticado os processos contra invasores nos últimos meses.

Entre os democratas, como esperado, houve críticas duras. Nancy Pelosi, presidente da Câmara, acusou os participantes de "voltarem para celebrar as pessoas que saíram para matar" em 6 de janeiro.

Nas últimas semanas, houve ao menos duas tentativas de ataque em Washington. Em 19 de agosto, um homem parou uma van perto da biblioteca do Congresso e disse ter uma bomba, o que era uma mentira —ele se rendeu depois de algumas horas. Na segunda (13), um supremacista branco armado com um facão foi detido perto do Comitê Nacional Democrata.

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