Bolsonaro discutirá com Boris meio ambiente e restrição de viagens antes de assembleia

Chanceler Carlos França terá reunião com secretário de Estado de Biden, o primeiro encontro de alto nível com novo governo dos EUA

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro terá nesta segunda (20) o primeiro encontro bilateral com o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, durante a sua viagem a Nova York para participar da Assembleia-Geral da ONU.

Eles devem tratar de ambiente e sustentabilidade, de vacinas contra a Covid, do apoio à entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da expansão do comércio no pós-brexit. Existe a expectativa, do lado brasileiro, de que tratem da restrição de viagens ao Reino Unido.

Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, terá uma reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, responsável pela diplomacia dos EUA.

Será o encontro presencial de mais alto nível entre as duas administrações até o momento, uma vez que Bolsonaro e o presidente americano, Joe Biden, ainda não tiveram nenhuma reunião ou conversa bilateral.

Bolsonaro já chegou aos EUA e está instalado em um hotel em Nova York, onde entrou por uma porta alternativa na tarde deste domingo e não falou com a imprensa. A assessoria de comunicação havia orientado os jornalistas a aguardar na portaria principal e garantido que ele passaria ali.

Mais tarde, porém, avisou que ele já estava no hotel e entrou por outra porta. Um grupo de cerca de dez pessoas levou faixas em defesa dos indígenas e pedindo a saída de militares. Ao saber que Bolsonaro já tinha entrado no hotel, eles gritaram palavras de ordem como “criminoso entra pelos fundos”.

Manifestantes protestam contra o presidente Jair Bolsonaro em frente a hotel da comitiva brasileira em Nova York
Manifestantes protestam contra o presidente Jair Bolsonaro em frente a hotel da comitiva brasileira em Nova York - Rafael Balago/Folhapress

O presidente viajou com uma comitiva de 18 pessoas, a princípio. Deveriam fazer parte os ministros Carlos França (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Marcelo Queiroga (Saúde), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Joaquim Álvaro Pereira Leite (Meio Ambiente) e Gilson Machado (Turismo).

A lista também inclui o deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), os embaixadores do Brasil nos Estados Unidos e junto à ONU, respectivamente Nestor Forster e Ronaldo Costa Filho, além do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e do secretário de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha.

Também foram a Nova York a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, três intérpretes e, na condição de convidado, o advogado Rodrigo Mudrovitsch, indicado por Bolsonaro em dezembro de 2020 para uma vaga na Corte Interamericana de Direitos Humanos. A eleição deve ser realizada até o fim deste ano.

A primeira agenda do presidente brasileiro será justamente o encontro com Boris, que foi pedido pelo primeiro-ministro. O líder britânico tem urgência em tratar de questões climáticas e de sustentabilidade e estimular o Brasil a adotar uma "economia verde".

Além de ser um tema de grande importância para o Reino Unido, o país trabalha para evitar um fracasso da COP-26, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, que será realizada em Glasgow.

Um dos principais pontos de discussão da conferência será a redefinição das metas para zerar as emissões de carbono. Por isso, o Reino Unido quer que o Brasil promova uma nova atualização da chamada NDC (da sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada).

A última versão, apresentada no ano passado, foi considerada insuficiente, indicando que o Brasil poderia atingir a neutralidade climática apenas em 2060.

Na cúpula do clima de abril, Bolsonaro já prometeu antecipar essa meta para 2050 e, de acordo com negociadores, o governo brasileiro não pretende submeter uma nova NDC.

O foco do Brasil na COP-26 deve ser, disseram interlocutores, mostrar que o país tem condições de cumprir os compromissos assumidos tanto na sua NDC quanto no encontro de líderes de abril, como, por exemplo, o fim do desmatamento ilegal até 2030. Outro ponto de destaque na reunião global do clima de novembro serão as negociações sobre a regulamentação do mercado internacional de carbono.


Boris quer se reunir com outros líderes e o secretário-geral da ONU, António Guterres, para tratar do tema.

Do lado brasileiro, os interesses principais estão relacionados a comércio e apoio à entrada do Brasil na OCDE. O Reino Unido já é um dos países que mais se mostram favoráveis ao ingresso brasileiro na organização e inclusive financia projetos para que o país atenda às demandas exigidas aos candidatos.


Bolsonaro quer que os europeus agora atuem internamente para angariar mais apoio, principalmente diante da resistência de membros da organização em razão da política ambiental do presidente brasileiro.

Também em outubro, haverá uma cúpula de ministros da OCDE, que terá a participação brasileira. No entanto, uma parte do evento será com reunião fechada dos membros, na qual será discutido o ingresso de novos integrantes. O Brasil espera que o Reino Unido atue internamente em seu favor.

O governo brasileiro também pretende discutir questões comerciais, mais especificamente a abertura de oportunidades com o brexit. O Brasil pretende aproveitar as dificuldades de negociação dos britânicos com a União Europeia para tentar aumentar a exportação de produtos agrícolas e industriais.

Segundo interlocutores, o presidente Jair Bolsonaro também pode pedir a Boris o levantamento das restrições de viagens para brasileiros entrarem no país europeu.

O Reino Unido anunciou na sexta-feira (17) uma simplificação das regras para a entrada de estrangeiros, com uma lista única dos países cujos viajantes são vetados. O Brasil permanece entre eles.

Também está na pauta a discussão de questões referentes à vacina AstraZeneca, produzida também no Brasil, em função de um acordo de transferência de tecnologia com a Fiocruz.

Ainda na segunda-feira (20), está prevista uma recepção para Bolsonaro oferecida pelo embaixador da delegação brasileira junto à ONU, Ronaldo Costa Filho. A agenda oficial ainda prevê dois encontros na manhã de terça (21). Um deles será com o secretário-geral da ONU, e o outro, com o presidente da Polônia, Andrzej Duda, ultraconservador que vem colocando em prática medidas contra mulheres e homossexuais.

Colaborou Rafael Balago, de Nova York

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