Descrição de chapéu Governo Biden

Chefe militar dos EUA nega ter driblado autoridade de Trump em contato com a China

Presidente Joe Biden diz ter 'total confiança' no general Mark Milley; republicanos pedem que ele seja demitido

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Washington | Reuters

Chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, o general Mark Milley refutou nesta quarta-feira (15) a acusação de que ele extrapolou sua autoridade legal quando, por duas vezes, conversou com autoridades militares chinesas para afirmar que os EUA não planejavam um ataque contra o país asiático.

Por meio de um porta-voz, o chefe militar americano disse ter atuado apenas para assegurar uma estabilidade estratégica, sem assumir atribuições que, em sua origem, caberiam ao então presidente, o republicano Donald Trump.

A revelação das duas conversas de Milley com Li Zuocheng, chefe do Estado-Maior chinês, nos meses de outubro e janeiro, foi feita no livro "Peril" (perigo), dos jornalistas Bob Woodward e Robert Costa, que deve ser lançado na próxima semana. Na terça (14), o jornal americano The Washington Post, para o qual trabalham os repórteres, adiantou trechos do material.

O chefe do Estado-Maior dos EUA, Mark Milley, conversa com o republicano Donald Trump, à época presidente - Oliver Douliery - 4.fev.20/AFP

De acordo com a apuração feita para a obra, que envolveu mais de 200 entrevistas, Milley tentou apaziguar a relação com os chineses e, internamente, chegou a revisar procedimentos para o lançamento de armas nucleares —de modo a assegurar que uma decisão do tipo, ainda que seja de atribuição do presidente, tivesse de passar por ele. O general afirmava temer uma deterioração do estado mental de Trump.

Porta-voz de Milley, o coronel Dave Butler afirmou em um comunicado que o chefe do Estado-Maior se comunica regularmente com homólogos em todo o mundo, "inclusive com a China e a Rússia".

Diz o texto: "Essas conversas permanecem vitais para melhorar a cooperação mútua dos interesses de segurança nacional dos EUA, reduzir as tensões, fornecer clareza e evitar consequências ou conflitos não intencionais".

Butler afirmou ainda que todas as ligações de Milley para seus homólogos, incluindo as relatadas no livro, são coordenadas com o Departamento de Defesa e as agências americanas de inteligência e que o general "continua a agir dentro de sua autoridade legal e seu juramento à Constituição".

Em comunicado divulgado na terça, Trump chamou a história revelada pelos repórteres do Washington Post de "fabricada" e disse que, caso fosse verdade, o general Milley deveria ser julgado por traição. "Só para constar, nunca pensei em atacar a China", emendou. Os bastidores do governo do republicano são tema de outros dois livros de Woodward —"Fear" (medo) e “Rage” (raiva).

Milley foi nomeado por Trump para a chefia do Estado-Maior em 2018, mas começou a ser alvo de críticas do republicano, assim como outros funcionários do alto escalão, após as eleições que alçaram Joe Biden à Presidência, em novembro de 2020.

Após as revelações do livro, nesta quarta, o senador republicano Marco Rubio pediu que o general fosse demitido, mas a demanda recebeu baixo apoio dos demais parlamentares, em especial os democratas. Em carta endereçada a Biden, o senador alegou que as ações relatadas mostram que Milley realizou "uma traição ao vazar informações confidenciais para o Partido Comunista da China".

O presidente, por sua vez, afirmou ter "total confiança na liderança de Milley". A Casa Branca rejeitou as críticas ao general argumentando que as ações eram compreensíveis, uma vez que ele estava trabalhando com Trump, que havia incitado a invasão ao Capitólio em janeiro —uma das ligações de Milley para o chefe do Estado-Maior chinês foi feita dois dias após o episódio na sede do Legislativo americano.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, fez coro à curta declaração dada anteriormente por Biden. "O atual presidente [Biden], que segue a Constituição, que não está fomentando uma insurreição e que segue o Estado de Direito, tem total confiança no general Milley, que continuará a servir em seu posto."

As suspeitas chinesas sobre um possível ataque americano, segundo a apuração dos repórteres do Washington Post, teriam surgido após tensões com os EUA no mar do Sul da China —principal rota de comércio de Pequim— e ganhado fôlego com os ataques retóricos proferidos por Trump contra o país.

Figuras como a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e a atual diretora da CIA (agência de inteligência americana), Gina Haspel, teriam concordado com as avaliações de Milley, segundo as quais Trump era instável. "Estamos a caminho de um golpe de direita", teria dito Haspel, de acordo com conversas relatadas no livro.

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