Refugiado é aquele forçado a abandonar o seu território por motivos de guerra, violência, conflitos ou perseguição e que cruzou uma fronteira internacional para encontrar segurança em outro país.
A definição usada nos documentos e na convenção da ONU, das quais 145 países do mundo são signatários, serviu de base para um protesto-performance ocorrido em Brasília nesta terça (21), ao mesmo tempo que o presidente Jair Bolsonaro discursava na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
Um jatobá de mais de 6 metros de altura viajou da Amazônia até Brasília, onde bateu às portas da embaixada da Noruega para pedir asilo. A árvore típica da região amazônica foi levada à representação diplomática pela coordenadora-executiva da Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara, que ali leu aos diplomatas noruegueses uma carta com um pedido de socorro.
O jatobá teve seu pedido aceito pelo governo da Noruega e foi acolhido na embaixada.
A ação, registrada desde a saída da floresta até o plano piloto da capital do Brasil, é uma iniciativa da Apib e do Grupo de Trabalho Infraestrutura e Justiça Social para chamar a atenção pública mundial para a destruição em curso na floresta, que vem batendo recordes de desmatamento nos anos de governo Bolsonaro.
Em nota, as organizações afirmam que se trata “de um acolhimento simbólico para representar a luta de ambientalistas pela preservação da nossa floresta”. “Pode parecer estranho ao homem branco, que vive apartado do mundo natural e se considera acima das árvores”, disse Guajajara. “[Mas] é um clamor pela vida das espécies ameaçadas por uma visão corrompida e ultrapassada de convívio com a natureza.”
Segundo Sérgio Guimarães, secretário-executivo do GT Infraestrutura, "cabe a nós, cidadãos, nos posicionarmos em defesa dessa e de milhões de árvores".
Sônia conta que, de início, os funcionários noruegueses disseram que aceitariam apenas a carta-pedido e não a árvore. Mas, após uma breve reunião internam, decidiram por acolher o jatobá, que vai ser plantado na embaixada da Noruege, considerado território norueguês no Brasil.
"Seria muito contraditório fazer uma ação dessas em tempos normais: trazer uma árvore da Amazônia para perdir arrego no cerrado", explica Guajajara. "Mas, em se tratando do Brasil de hoje, é algo simbolicamente necessário para demonstrar a urgência que é preservar a floresta", explica ela sobre o protesto que teve coordenação internacional dos assessores estratégicos Marcus Vinicius Ribeiro e Zachary Kuipers.
"Escolhemos a Noruega por ter sido o primeiro país a proibir o desmatamento enquanto, no Brasil, todas as árvores, todos os biomas estão altamente ameaçados e nada se faz para conter essa destruição, que é quase toda ela ilegal", diz Guajajara. "O governo poderia tomar providências de acabar com esse desmatamento."
Para ela, o discurso de Bolsonaro na ONU foi trágico "Diante da crise política, social, econômica e ambintal do Brasil, o presidente segue mentindo para o mundo inteiro. No momento em que vivemos uma emergência climática, temos um presidente que finge que vivemos na Suécia", diz. "Bolsonaro é um desastre para o Brasil e é um desastre para o mundo."
A ação pretende também destacar um documento proposto por mais de 60 organizações da sociedade civil e coletivos, chamado "Cinco Medidas para Combater a Crise do Desmatamento na Amazônia".
Os pontos incluem moratória ao desmate e endurecimento das penas aos crimes ambientais, incluindo o bloqueio de bens dos cem maiores desmatadores da Amazônia. Eles recomendam ainda a demarcação de terras indígenas e a titulação de territórios quilombolas, além da retomada imediata do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal) e da reestruturação do Ibama, do ICMBio e da Funai, desarticulados pelo atual governo federal.
Para Guimarães, a solução começa pela implementação das medidas, "o que permitirá que milhões de árvores, nossas florestas e seus habitantes possam viver em paz no Brasil, prestando seus relevantes serviços climáticos para nós e todo o planeta".
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