Mais do que um artigo, este texto é uma carta aberta a vocês, 20 jovens diplomatas da turma do Instituto Rio Branco que formalizou, na última quarta-feira (1º), sua entrada no Itamaraty.
A escolha que fizeram do nome de meu pai, embaixador José Jobim, torturado até a morte pela ditadura militar que durante 25 anos manchou de sangue o chão do nosso país, para patrono da turma à qual para sempre pertencerão é uma declaração explícita de que não compactuam com o negacionismo e com a corrupção nem concordam que o nosso país se sujeite a ser um pária na comunidade internacional.
Tenho certeza de que saberão honrá-lo, agindo com firme delicadeza na defesa dos interesses do país.
Vocês conseguiram resgatar em mim o respeito que José Jobim sentia e me ensinou a sentir pela Casa a que pertenceu. Durante anos, disse a mim mesma que não sabia o que o Itamaraty havia feito a meu pai, mas sabia perfeitamente o que não havia feito.
Com sua omissão, fez com que meu caminho até a conquista de um atestado de óbito que retratasse a verdade responsabilizando o Estado por sua morte fosse muito mais árduo. Com seu silêncio, endossou a tese inicial de suicídio. Mas vocês, dentro da instituição à qual ele dedicou sua vida, o colocaram de volta no lugar respeitado que durante anos seus colegas lhe negaram.
O orgulho que sinto por saber que parte da juventude que meu pai tanto gostava reconhece nele um exemplo a ser seguido é imenso. A emoção de ouvir seu nome ser proclamado patrono fez com que não conseguisse segurar as lágrimas. Foi lindo ver a esperança de dias mais dignos brilhar naquele momento!
Por favor, não percam esse brilho. Nós dependemos dele.
Lamento que tenham que começar a carreira tendo na Presidência uma figura tão nefasta quanto Jair Messias Bolsonaro. Mas vocês têm uma vida pela frente e verão dias melhores. Nunca se esqueçam de que, por pior que seja o presidente, defendem e representam o Brasil, não o governo.
Assim, não percam nunca a humanidade. Não se dobrem. Não abandonem nunca a dignidade que demonstraram ter ao defender com firmeza a escolha do patrono da turma. Ela vale muito mais que uma promoção ou uma remoção.
Só me resta dizer obrigada a cada um e esperar, em breve, conhecê-los pessoalmente para abraçar aqueles que, por opção, tornaram-se meus irmãos.
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