Descrição de chapéu The New York Times

Esvaziado, Empire State Building sinaliza futuro do trabalho no pós-pandemia em NY

Planos de empresas que ocupam prédio símbolo da metrópole americana trazem à tona mudança cultural de peso

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Empire State Building, em Nova York

O Empire State Building, em Nova York Angela Weiss - 9.set.21/AFP

Nova York | The New York Times

O Empire State Building, como a cidade que habita, depende de um fluxo constante de turistas, estabelecimentos comerciais prósperos e empresas interessadas em alugar seu número enorme de espaços comerciais. A pandemia de coronavírus esvaziou as atrações, as lojas e os escritórios, tanto no edifício quanto na cidade, por meses.

Agora, quando o retorno prometido à normalidade foi novamente suspenso, os planos sendo feitos pelos ocupantes do edifício trazem à tona uma mudança cultural de peso.

Entrevistas realizadas com dezenas de locatários de espaços no prédio, somadas a uma análise de documentos públicos, sugerem que o papel do edifício comercial na América se transformou, possivelmente de modo permanente, e que as economias locais antes centradas no dia de trabalho tradicional das 9h às 17h enfrentam um futuro incerto.

OBSERVATÓRIO

Como outras atrações turísticas em Nova York e arredores, os famosos observatórios do 86º e do 102º piso do Empire State Building passaram meses quase vazios.

Quase 1 milhão de pessoas visitaram o observatório no segundo trimestre de 2019.

No segundo trimestre de 2021 o lugar recebeu 162 mil visitantes —mais que no primeiro trimestre, mas ainda 83% abaixo da frequência do mesmo período de 2019.

A situação difícil do mirante exemplifica o colapso do turismo em Nova York, que em 2020 recebeu estimados 45 milhões de visitantes menos que no ano anterior, privando a cidade de mais de US$ 30 bilhões em receita vinda dos gastos dos turistas.

COMÉRCIOS

O espaço varejista no térreo do Empire State Building normalmente era altamente disputado, graças à sua proximidade dos funcionários de escritórios e dos turistas que percorrem o centro da cidade. Mas a pandemia reduziu o tráfego pedestre a uma fração do que era no passado.

Os valores médios dos aluguéis de espaços comerciais varejistas em Manhattan já estavam em baixa antes mesmo de 2020 e agora, segundo a empresa de serviços imobiliários CBRE, caíram para o nível mais baixo em quase uma década.

Além dos espaços no edifício que já estavam desocupados antes de 2020, pelo menos três estabelecimentos fecharam as portas temporariamente durante a pandemia. Um restaurante de sushi na rua 33, que ainda não reabriu, e cafés da rede Starbucks —um na rua 33 e outro na rua 34.

O Starbucks pequeno na rua 33, que só servia para viagem, fechou em abril de 2020 por dois meses e meio. Esse café atendia principalmente a funcionários de escritórios, segundo um funcionário, Ricardo Aspilaire. “Sem eles, está difícil”, ele comentou.

Os pedidos diários vêm aumentando novamente desde que o café foi reaberto, ele disse, mas ainda não voltaram ao nível anterior à pandemia. “Muita gente está voltando, então a esperança é que isso nos ajude”, ele disse.

O outro Starbucks do edifício, este na rua 34, era um lugar mais tradicional, que incluía assentos no café. Também esse fechou em abril de 2020, tendo sido reaberto em janeiro deste ano em um espaço próximo no edifício, agora servindo apenas para viagem.

Gregory Foy, gerente da Juice Press, na rua 33, comentou que o movimento em seu estabelecimento também cresceu nos meses recentes, mas que as vendas ainda estão 60% abaixo dos níveis anteriores à pandemia. “Sem os turistas, sofremos um prejuízo enorme”, ele comentou.

A maior loja varejista do Empire State Building é uma filial da rede Walgreens que ocupa dois andares na esquina sudeste. Antes da pandemia a loja ficava aberta 24 horas por dia. Hoje, abre às 8h e fecha às 22h. Tamia Acker, que começou a trabalhar no local no verão deste ano, disse que durante muitos meses a loja funcionou apenas com uma equipe mínima e agora está começando a receber um fluxo constante de fregueses.

Nova York já se adaptou a outros choques grandes, mas outros locatários do Empire State, analisando como têm se saído na economia pandêmica, deixam claro que há muitos meses de incertezas dolorosas pela frente.

ESCRITÓRIOS

A maior parte do Empire State Building é composta de espaços de escritório. Com seu misto de empresas grandes e pequenas, o edifício talvez constitua um barômetro melhor da situação dos espaços de escritório em Nova York e da economia da cidade do que as torres ocupadas por empresas globais.

A companhia proprietária do Empire State e seu diretor-executivo, Anthony Malkin, se negaram a responder a perguntas para esta reportagem. Mas 48 locatários, representando quase metade do espaço de escritórios no edifício, compartilharam com o New York Times seus planos para retornar a seus locais de trabalho ou os anunciaram publicamente.

Locatários que representam 41% do espaço de escritórios no edifício disseram que, quando retornarem ao escritório, vão adotar um modelo de trabalho híbrido, em que os funcionários podem optar por trabalhar a distância pelo menos parte do tempo. Os inquilinos que pretendem retornar ao trabalho no escritório em tempo integral ou que não decidiram ainda sobre seus planos para o retorno representam apenas 2% dos espaços.

Os locatários de outros 2% disseram que decidiram deixar o edifício e que a pandemia influenciou sua decisão. Outros, que decidiram partir e que representam cerca de 3% do espaço, afirmaram que a decisão não foi influenciada pela pandemia.

A maioria dos inquilinos que compartilharam seus planos vai permanecer no edifício, e apenas uma pequena parcela decidiu abrir mão de seu espaço de escritório. Mas o fato de uma empresa ter ou não a opção de partir é determinado, de modo geral, por seu contrato de locação.

Todos que disseram ter deixado o edifício ou que pretendem fazê-lo tinham contratos de locação ou sublocação que chegaram ao fim durante a pandemia ou vão terminar em breve.

Michael Feldschuch, diretor-executivo da Daxor, companhia de equipamentos médicos que está no Empire State desde 1990, disse que seus funcionários começaram a trabalhar de casa em março de 2020 e nunca voltaram. Quando o contrato de locação da empresa terminou, no verão de 2021, a Daxor optou por não renová-lo.

“Descobrimos que conseguimos trabalhar de maneiras que antes não teríamos imaginado que fossem possíveis”, explicou. “Durante muito tempo pensamos que precisávamos de um escritório para sermos eficientes, mas não é verdade.”

Muitos poucos locatários cujos contratos chegariam ao fim durante a pandemia disseram que decidiram renová-los. Um deles é a firma de contabilidade Allen C. Schneider & Co., que aluga um conjunto no 31º andar. Ira Lippel, sócio-gerente, disse que a direção do edifício ofereceu incentivos à companhia para que permanecesse.

“A direção estava muito ansiosa para garantir que eu renovasse o contrato. E está fazendo o possível para assegurar que eu fique”, disse. “Houve uma economia considerável."

Muitos dos inquilinos que pretendem continuar ainda têm anos restantes de contratos de locação de longo prazo e geralmente são obrigados a pagar o aluguel completo, quer ocupem seus escritórios plenamente ou não. Em muitos casos, a única maneira de cobrir o custo de espaços ociosos é sublocá-los. É por isso que locadores em Nova York têm conseguido receber aluguéis e evitar um grande arrocho financeiro, mesmo quando há espaços de escritório desocupados.

Quando as firmas de fato chamam seus funcionários de volta aos escritórios, muitas os deixam trabalhar remotamente pelo menos parte do tempo. Em Manhattan, segundo pesquisa recente, 70% dos empregadores pretendem adotar o modelo híbrido.

Um desses é o LinkedIn, maior locatária do Empire State, que tem contratos de locação de longo prazo de dez pisos inteiros e parte de mais um, pagando pelo menos US$ 26 milhões anuais de aluguel. A empresa anunciou recentemente que está flexibilizando seus planos de retorno ao escritório de modo a dar mais liberdade a seus funcionários para trabalharem de casa.

“Estamos abraçando a flexibilidade, com modelos híbridos e remotos, prevendo que mais de nossos funcionários vão trabalhar remotamente do que era o caso antes da Covid e removendo a expectativa de que estejam presentes no escritório 50% do tempo”, escreveu num blog em julho o diretor-executivo Ryan Roslanky.

Para cada LinkedIn, que cresceu durante a pandemia, pode haver várias outras empresas que estão tendo dificuldades em lidar com as transformações e os transtornos econômicos. Por exemplo, o Global Brands Group, empresa de calçados e roupas sediada em Hong Kong que é uma das maiores inquilinas no Empire State, deu entrada em pedido de falência em julho, devendo aluguéis que o edifício talvez não consiga recuperar.

“Se você está numa crise, ninguém sabe realmente quando o mercado vai se recuperar”, diz Daniel Alpert, calejado investidor em imóveis comerciais e sócio da Westwood Capital.

De acordo com a companhia de serviços imobiliários Newmark, 19% do espaço de escritórios em Manhattan está disponível para aluguel. É aproximadamente o dobro da média disponível nos últimos dez anos.

Alpert disse que o Empire State Building, arranha-céu mais velho e que tem muitas empresas pequenas e médias como locatárias, é mais vulnerável às convulsões atuais do que os edifícios comerciais enormes e novos erguidos mais recentemente em Manhattan.

“Mas, como as pirâmides, ele estará presente para sempre.”

Keith Collins , Nikolas Diamant , Peter Eavis , Or Fleisher , Matthew Haag , Barbara Harvey , Lingdong Huang , Karthik Patanjali , Miles Peyton e Rumsey Taylor

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.