Os Estados Unidos retiraram quatro cidadãos americanos do Afeganistão nesta segunda-feira (6) por meio de uma rota terrestre em direção a um país vizinho, na primeira evacuação organizada por Washington desde o fim da ocupação militar no país da Ásia Central, há uma semana.
“Facilitamos a saída de quatro cidadãos americanos do Afeganistão por meio de uma rota terrestre. Nossa embaixada saudou os americanos após eles cruzarem a fronteira em direção a um terceiro país”, disse um funcionário do governo americano à agência de notícias Reuters, sem especificar o destino.
Outro funcionário dos EUA afirmou à agência de notícias AFP que o Talibã, grupo fundamentalista islâmico que tomou o controle do Afeganistão em meio à retirada americana, foi informado da operação e “não impediu” a saída. Segundo o deputado americano Ronny Jackson, os quatro cidadãos são oriundos de seu distrito no Texas e a evacuação ocorreu após “várias tentativas sob risco de vida”.
No mês passado, o governo do presidente Joe Biden liderou a retirada de cerca de 124 mil pessoas por meio de uma megaoperação no aeroporto de Cabul, em paralelo ao fim dos 20 anos de presença militar americana. Dezenas de pessoas morreram em meio à confusão na pista e nos arredores do terminal aéreo, palco também de um atentado do braço afegão do grupo Estado Islâmico.
De acordo com autoridades dos EUA, ainda permanecem no Afeganistão cerca de cem americanos que desejam sair do país. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chegou a Doha nesta segunda para participar de negociações com autoridades qataris e alemãs, aliadas dos americanos na retirada de Cabul, sobre o futuro do Afeganistão.
O Qatar, sede de um escritório político de Talibã, tornou-se o principal mediador entre o grupo extremista e governos do Ocidente em meio à transição de poder.
DISPUTA NO VALE DE PANJSHIR
Também nesta segunda, o Talibã voltou a afirmar ter tomado o controle do vale de Panjshir, região que tem registrado combates entre a facção fundamentalista e a chamada Frente Nacional de Resistência, coalizão que reúne membros de milícias e soldados do governo deposto de Ashraf Ghani.
“Panjshir, que era o último esconderijo do inimigo fugitivo, foi capturado”, disse o porta-voz talibã Zabihullah Mujahid em uma entrevista coletiva, acrescentando que não haverá “ações de discriminação” contra moradores da região.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram combatentes do Talibã em frente ao portão do palácio do governo provincial em Panjshir.
No entanto, o líder da Frente, Ahmad Massoud, não reconheceu a vitória dos extremistas e afirmou que seus combatentes seguem atuando no vale. “Nós estamos em Panjshir, e a resistência continuará”, afirmou ele, que disse estar em segurança, sem informar sua localização.
"Onde quer que vocês estejam, dentro ou fora [do Afeganistão], convoco para que iniciem um levante nacional pela dignidade, pela liberdade e pela prosperidade de nosso país."
No domingo (5), o líder da Frente disse que estava preparado para retomar negociações com o Talibã para pôr fim aos combates, já que, ao longo da última semana, o grupo radical ora no poder chegou a cantar vitória sobre os opositores na região, o que foi negado pela Frente.
Cercado por montanhas, o terreno do vale de Panjshir dificulta invasões e permaneceu fora do controle do Talibã durante o primeiro regime do grupo extremista, entre 1996 e 2001. Desta vez, porém, a região se encontra completamente cercada pelos fundamentalistas.
Massoud é filho do militar que liderou os rebeldes daquela época, Ahmad Shah Massoud, o "Leão de Panjshir". Outro dos comandantes da Força de Resistência atual é o ex-vice-presidente Amrullah Saleh.
Mujahid, o porta-voz do Talibã, disse ter recebido informações de que Massoud e Saleh haviam fugido para o vizinho Tadjiquistão. A informação não pôde ser verificada.
O Talibã voltou ao poder no Afeganistão 20 anos depois de ter sido deposto por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, na esteira do 11 de Setembro. Os americanos acusavam o grupo de abrigar os terroristas da Al Qaeda responsáveis pelos atentados. Diante da perspectiva da retirada das tropas americanas do país, concluída na última segunda-feira (30), combatentes talibãs conduziram uma ofensiva fulminante sobre o país, avançando sobre diversas capitais provinciais até retomar Cabul.
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