O FBI divulgou na noite de sábado (11) o primeiro documento relacionado às investigações sobre o 11 de Setembro e as alegações de apoio do governo saudita aos sequestradores que participaram do ataque.
O relatório de 16 páginas, publicado horas depois de o presidente Joe Biden comparecer à cerimônia de homenagem às vítimas dos atentados terroristas, que completaram 20 anos no sábado, é o primeiro a ser liberado desde que o democrata ordenou, na semana passada, a divulgação de materiais que por anos permaneceram em sigilo. Biden vinha sendo pressionado por familiares dos mortos no 11 de Setembro para tornar públicas as informações da investigação.
O documento descreve conexões que o FBI examinou entre os sequestradores e o governo saudita, mas não menciona evidências conclusivas de que Riad tenha desempenhado um papel ativo nos ataques, de acordo com informações publicadas no jornal americano The New York Times.
O memorando apresenta ligações entre Omar al-Bayoumi, suspeito de ter colaborado com os serviços de inteligência sauditas, e dois terroristas da Al Qaeda que prepararam as ações em Nova York e Washington.
O relatório, baseado em entrevistas realizadas em 2009 e 2015 com uma fonte cuja identidade não foi divulgada, detalha os contatos e encontros de Bayoumi com Nawaf al-Hazmi e Khalid al-Mihdhar, depois de ambos chegarem ao sul da Califórnia em 2000, portanto antes dos ataques terroristas.
Também reafirma a relação entre os dois terroristas e Fahad al-Thumairy, imã conservador da mesquita King Faad de Los Angeles e funcionário do consulado da Arábia Saudita naquela cidade.
De acordo com o memorando, a fonte disse ao FBI que Bayoumi estava escondendo, por trás da identidade de estudante, uma "posição muito alta" no consulado saudita. "A ajuda de Bayoumi a Hazmi e a Mihdhar inclui tradução, viagem, acomodação e financiamento". Ainda assim, o relatório não apresenta nenhum vínculo direto e claro entre o governo saudita e os sequestradores.
A Arábia Saudita sempre negou qualquer papel nos ataques que deixaram 2.977 vítimas. Em comunicado de 8 de setembro, a embaixada do país afirmou defender a transparência em torno dos eventos de 11 de setembro de 2001 e apreciar a divulgação de documentos confidenciais relacionados aos ataques.
“Assim como investigações anteriores mostraram, incluindo a Comissão do 11 de Setembro, nenhuma evidência surgiu indicando que o governo saudita ou seus funcionários tivessem conhecimento prévio do ataque terrorista ou estivesse de alguma forma envolvido”, afirmou a embaixada no comunicado.
Quinze dos 19 sequestradores que articularam os ataques eram sauditas, assim como Osama bin Laden, morto em 2011. Uma comissão do governo dos Estados Unidos não encontrou evidências de que o país árabe financiou diretamente a Al Qaeda, grupo que recebia apoio do Talibã à época. O documento, porém, deixou em aberto a possibilidade de autoridades sauditas terem participado individualmente da ação.
As famílias de cerca de 2.500 dos mortos no ataque e mais de 20 mil pessoas prejudicadas no episódio, além de empresas e várias firmas seguradoras, processaram a Arábia Saudita para pedir bilhões de dólares em compensação.
Em um comunicado em nome da organização 9/11 Families United, Terry Strada, cujo marido foi morto no 11 de Setembro, disse que o documento divulgado pelo FBI elimina dúvidas sobre o envolvimento saudita nos ataques. "Agora os segredos dos sauditas foram divulgados, passou do momento deste reino assumir o papel de seus funcionários no assassinato de milhares de pessoas em território americano."
Biden assumiu uma postura mais dura com a Arábia Saudita do que Donald Trump e já criticou o regime ao divulgar um relatório envolvendo o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman no assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi.
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