Descrição de chapéu Governo Biden Ásia

Chefe militar dos EUA ordenou que oficiais não obedecessem a Trump no fim do governo, diz livro

Obra aponta que Mark Milley se alarmou com saúde mental de republicano e falou com a China para evitar guerra

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Guarulhos

Ao longo dos últimos meses do governo de Donald Trump, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, se viu obrigado a assumir funções de diplomacia e a revisar procedimentos para eventos como o lançamento de armas nucleares, de forma que eles não se dessem sem a supervisão dele próprio —ainda que essas decisões fossem de atribuição do presidente.

Isso porque o general temia à época, poucos dias após a invasão do Capitólio por apoiadores do político republicano, uma deterioração em seu estado mental.

As revelações foram feitas pelos jornalistas Bob Woodward e Robert Costa, do jornal americano The Washington Post, em livro que será lançado na próxima semana. O volume, terceiro de uma série de Woodward que vem tornando públicos os bastidores do governo Trump, dedica-se ao período que vai do fim da Presidência do republicano até os primeiros meses do mandato de Joe Biden na Casa Branca.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump e o líder chinês, Xi Jinping, durante encontro em Pequim
O ex-presidente dos EUA Donald Trump e o líder chinês, Xi Jinping, durante encontro em Pequim - Nicolas Asfouri - 9.nov.17/AFP

Nesta terça (14), o Post publicou alguns trechos inéditos do livro, batizado de "Peril" (perigo).

Segundo o material, divulgado também pela emissora CNN, nos estertores do mandato de Trump o general Milley convocou oficiais de sua equipe para revisar os procedimentos para o lançamento de armas nucleares. Na reunião secreta, ele disse que só o presidente poderia dar essa ordem, mas enfatizou que ele, Milley, deveria estar envolvido na decisão para que ela fosse posta em prática.

Depois de dar essa orientação de certa limitação à obediência dos oficiais ao presidente, o militar teria perguntado pessoalmente a cada um dos presentes: "Entendeu?". Os autores do livro disseram que ele viu esse momento como um juramento.

Ainda segundo o livro, Milley, instruído por sua equipe de inteligência, por duas vezes ligou para Li Zuocheng, chefe do Estado-Maior chinês, para assegurar que não havia possibilidade de ataques americanos. A primeira chamada teria ocorrido em outubro de 2020, pouco antes da eleição que alçou Biden à Presidência; e a segunda, em janeiro, pouco após a invasão ao Capitólio, insuflada por Trump.

"O governo americano é estável, e tudo vai ficar bem”, teria dito Milley a seu homólogo chinês. “Não vamos atacar ou conduzir nenhuma operação contra vocês."

As suspeitas chinesas, segundo os autores, teriam surgido após tensões com os EUA no mar do Sul da China —principal rota de comércio de Pequim, que tem 20% do PIB ligado às exportações— e ganhado fôlego com os ataques retóricos proferidos por Trump contra o país.

Enquanto atenuava a situação com os chineses, Milley desconfiava do então presidente. Ainda de acordo com as revelações do livro, o general estaria preocupado com uma suposta "deterioração da saúde mental" de Trump após assumir a Presidência dos EUA. "[Trump] tem construído sua própria realidade alternativa sobre conspirações eleitorais [...] Nunca se sabe qual é o ponto de gatilho de um presidente."

O general teria compartilhado as apreensões com outras autoridades do país. Em janeiro, segundo mostra transcrição obtida pelos autores do livro, Milley deu essa avaliação para a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. A democrata, então, concordou com a avaliação de que Trump era instável.

A atual diretora da CIA (agência de inteligência americana), Gina Haspel, também concordava com os temores e teria dito que "estamos a caminho de um golpe de direita".

Já em relação ao início do governo Biden, as principais revelações do livro giram em torno da retirada das tropas americanas do Afeganistão, após duas décadas de ocupação militar, que resultaram em uma veloz retomada do grupo radical Talibã ao poder e fizeram despencar os índices de aprovação de Biden.

Segundo o material, conselheiros de Biden e figuras como o secretário de Defesa, Lloyd Austin, e o secretário de Estado, Antony Blinken, cogitaram durante os meses anteriores maneiras de estender a missão americana em busca de vantagem diplomática. Ao final, porém, atenderam aos chamados de Biden, defensor da retirada completa.

Para a pesquisa do livro, os autores entrevistaram mais de 200 pessoas, em conversas conduzidas sob condição de anonimato. Trump e Biden se recusaram a ser entrevistados para o material.

Os dois volumes anteriores da série capitaneada por Bob Woodward —um dos jornalistas que revelaram o escândalo que culminaria no fim do governo de Richard Nixon em 1974, o Watergate— também trouxeram revelações sobre o governo Trump.

No primeiro, "Fear" (medo), o repórter mostra como assessores do republicano atuaram para impedi-lo de tomar decisões como sair do acordo comercial com a Coreia do Sul, deixar a Otan (aliança militar do Ocidente) e assassinar o ditador Bashar al-Assad, da Síria.

Já no segundo, “Rage” (raiva), Woodward mostra como Trump minimizou intencionalmente a gravidade da pandemia de Covid-19, postura que alarmou as principais autoridades sanitárias do país.

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