Descrição de chapéu África

Militares da Guiné proíbem funcionários do governo de deixar o país após golpe de Estado

Fronteiras terrestres e aéreas, que haviam sido fechadas na véspera, foram reabertas nesta segunda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Conacri (Guiné) | Reuters e AFP

Os militares que tomaram o poder na Guiné e capturaram o presidente Alpha Condé proibiram nesta segunda-feira (6) autoridades do governo derrubado de deixar o país por tempo indeterminado, um dia depois de aplicarem um golpe de Estado alvo de críticas da comunidade internacional.

Mamady Doumbouya, comandante de um grupo de elite do Exército responsável pela manobra, ordenou que funcionários públicos entregassem veículos oficiais às Forças Armadas. ​Em reunião com ex-ministros e o premiê, convocada na sede do Parlamento, ele afirmou que "não haverá nenhuma caça às bruxas” por parte dos insurgentes.

Soldados armados em rua
Soldados da Guiné patrulham ruas da capital, Conacri, nesta segunda (6), um dia após golpe de Estado - Souleymane Camara /Reuters

Entre outras medidas anunciadas nesta segunda, as fronteiras terrestres e aéreas, que haviam sido fechadas na véspera, foram reabertas. Doumbouya também suspendeu um toque de recolher nas minas de bauxita. A Guiné tem as maiores reservas do mundo desse minério, utilizado na produção de alumínio.

A instabilidade política no país da África ocidental fez o preço da bauxita disparar no mercado internacional e atingir o maior valor em dez anos, embora não haja informações sobre uma eventual interrupção no fornecimento do elemento.

Na capital, Conacri, algumas lojas reabriram nesta segunda-feira, e o trânsito voltou às ruas. No bairro de Kalum, porém, onde estão escritórios do governo, foram montadas barricadas, e policiais impedem que as pessoas se aproximem do palácio presidencial. No domingo (5), foram registrados tiroteios na região da sede do Executivo durante a tomada de poder.

Doumbouya disse na TV estatal que as instituições e a Constituição haviam sido dissolvidas, que o presidente Condé fora capturado e que governantes regionais haviam sido substituídos por militares. Para justificar a tomada de poder, citou “a pobreza e a corrupção endêmica”.

Os golpistas afirmaram que o estado de saúde de Condé é bom e que ele está sendo tratado de forma adequada. No domingo, o presidente apareceu cercado por militares, de jeans e camiseta e recusando-se a falar, em um vídeo divulgado nas redes sociais.

O golpe de Estado na Guiné foi alvo de críticas da comunidade internacional. O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, condenou “qualquer tomada do poder pela força do fuzil” e pediu a “libertação imediata do presidente Alpha Condé". O Departamento de Estado dos EUA, responsável pela diplomacia americana, também condenou os eventos na Guiné, dizendo que eles podem minar a ajuda fornecida pelo e por outros parceiros internacionais.

O movimento também foi condenado por atores regionais. O presidente de Gana, Nana Akuffo-Addo, líder da Ecowas (Comunidade Econômica de Estados do Oeste Africano), ameaçou impor sanções à Guiné. ​

A União Africana também pediu a liberação de Condé e informou que deve convocar uma reunião sobre o assunto para discutir "medidas apropriadas". Nesta segunda-feira, a Rússia fez coro às críticas e pediu “a libertação de Condé e a garantia de que ele terá imunidade”. “Consideramos necessário que a situação na Guiné retorne às normas constitucionais assim que possível”, diz comunicado da chancelaria de Moscou.

O país africano tem enfrentado uma grave crise política e econômica nos últimos meses, agravada pela pandemia de Covid-19 —de acordo com dados enviados à OMS (Organização Mundial da Saúde), o país registrou quase 30 mil casos e 341 mortes pela doença.

Recentemente, Condé elevou impostos e o preço dos combustíveis, buscando aumentar a arrecadação federal, o que desencadeou uma nova onda de protestos. Atos violentos já haviam atingido o país em outubro de 2020, quando o presidente garantiu seu terceiro mandato após uma manobra para poder concorrer.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.