Militares juram defender Constituição, não um líder, diz chefe do Comando Sul dos EUA

Craig Faller afirma não ter vindo ao Brasil para tratar de temas políticos, mas destaca comportamento das Forças em seu país

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Brasília

Em sua última visita ao Brasil à frente do Comando do Sul dos Estados Unidos, o almirante Craig Faller afirmou que as Forças Armadas americanas são uma instituição apolítica e que os militares não juram lealdade a um líder, mas à Constituição do país.

“Após os encontros com meus homólogos brasileiros, acredito que eles têm a mesma visão sobre o que são militares profissionais”, disse o americano nesta quinta-feira (23), destacando que não veio ao Brasil para discutir temas políticos.

Chefe do Comando Sul dos EUA, o almirante Craig Faller, depõe no Senado americano, em Washington
Chefe do Comando Sul dos EUA, o almirante Craig Faller, depõe no Senado americano, em Washington - Saul Loeb - 7.fev.19/AFP

Responsável pelo comando militar do Departamento de Defesa que atua na América Latina e no Caribe, Faller conversou durante cerca de 30 minutos com um grupo de jornalistas em Brasília.

O foco da viagem do almirante é a cooperação militar com o Brasil, o que inclui acordos, exercícios conjuntos e formação de oficiais.

O alto comandante americano chega ao país cerca de duas semanas após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter liderado manifestações de cunho golpista no feriado de 7 de Setembro.

Na ocasião, o mandatário ameaçou o STF (Supremo Tribunal Federal) e o presidente da corte, Luiz Fux. Dias depois, divulgou uma carta em que fazia um recuo tático.

Ao longo dos últimos meses, Bolsonaro também promoveu uma escalada de declarações autoritárias que geraram tensão entre opositores e governadores. Ele chegou a questionar a realização das eleições em 2022 e a afirmar que sua derrota só seria possível em caso de fraude. Causou apreensão, ainda, a adesão de policiais militares ao bolsonarismo e as falas do mandatário sobre as Forças Armadas.

Em mais de uma ocasião neste ano, Bolsonaro usou a expressão "meu Exército", o que gerou críticas por ser interpretada como uma tentativa de politizar a instituição. Ele também se referiu às Forças Armadas como “poder moderador" —apesar de decisão do STF estabelecer que militares não têm essa atribuição.

Faller foi questionado por jornalistas nesta sexta sobre as declarações de Bolsonaro que indicavam politização das Forças Armadas brasileiras. Num primeiro momento, ele argumentou que o propósito da visita a um “parceiro estratégico importante” é tratar “do progresso feito nos últimos três anos [período em que ele chefiou o Comando do Sul]" no relacionamento militar entre os países, "olhando para a frente”.

Em seguida, no entanto, detalhou como vê o funcionamento das instituições militares nos EUA.

“Uma das coisas que me agradam nas Forças Armadas dos EUA, uma das razões pelas quais eu permaneci nelas por tanto tempo, é que nós somos apolíticos. Nós fizemos um juramento à Constituição e temos lealdade a ela. Após os encontros com meus homólogos brasileiros, acredito que eles têm a mesma visão sobre o que são militares profissionais”, afirmou.

"Eu não vim [ao Brasil] para falar de política nem levantei temas políticos nas minhas conversas."

Questionado sobre qual é, em sua visão, o propósito das Forças Armadas num regime democrático, Faller respondeu que elas devem defender a Constituição e que o juramento dos militares não é ao líder da vez.

“O propósito das Forças Armadas é defender a Constituição, é o nosso juramento. Não é um juramento a qualquer líder. Pela Constituição americana, o líder democraticamente eleito é também o comandante em chefe das Forças Armadas. Nós seguimos as ordens legítimas. E, nos quatro anos [do governo Donald Trump] antes da posse do novo comandante em chefe [Joe Biden], foi exatamente o que fizemos”, disse.

Diante de novas perguntas sobre se militares deveriam participar de demonstrações políticas, Faller foi duro: “Acho que já fui bastante claro que uma das coisas que eu absolutamente respeito sobre ser militar há 38 anos é nossa natureza apolítica”.

Em maio, o general da ativa Eduardo Pazuello, recém-saído do Ministério da Saúde, participou de um ato político no Rio de Janeiro em apoio a Bolsonaro.

Sob pressão do presidente, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, decidiu livrar o ex-ministro de qualquer punição. Além disso, o ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto, participou de atos políticos pró-Bolsonaro, inclusive nas manifestações de 7 de Setembro.

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