Ao final da segunda rodada de negociações entre a oposição venezuelana e a ditadura de Nicolás Maduro, ambos os lados chegaram a pré-acordos para destravar a entrada de ajuda humanitária no país e ratificar a soberania do território de Esequibo —uma zona de disputa entre a Venezuela e a Guiana.
Segundo comunicado conjunto, emitido na noite desta segunda (6), "as partes entraram em acordo para estabelecer mecanismos para a entrada de recursos que atendam às necessidades da pandemia de Covid, incluindo aqueles de organismos multilaterais". Num primeiro momento, haverá a formação de uma mesa, com integrantes de ambos os lados, além de médicos e representantes da sociedade, para criar soluções.
A próxima rodada de conversas ocorrerá de novo na Cidade do México, entre 24 e 27 de setembro. A pauta agora será a reforma do Judiciário e a recuperação de direitos políticos e civis, já que questões relacionadas a esses temas, como a situação de presos políticos, não foram discutidas desta vez.
Pelo lado chavista, o atual presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, afirmou estar otimista. Ele celebrou a ratificação da soberania da Venezuela sobre a Guiana Esequiba —"uma vitória do povo venezuelano"— e disse que as negociações sobre os recursos para a pandemia buscaram "recuperar bens e ativos venezuelanos, além do dinheiro que está depositado em contas no exterior e bloqueado".
"Esses recursos foram subtraídos ilegalmente dos homens e mulheres venezuelanos. Eles nos dizem que são sanções, mas para nós são medidas coercitivas." O líder chavista afirmou ainda que "a Venezuela não pedirá nada a organismos internacionais" e que "apenas quer o que lhe é de direito e lhe foi roubado".
O chefe da delegação opositora, Gerardo Blyde, por sua vez, afirmou que a "mesa nacional de atenção social" será um "espaço pluripartidário com apoio de especialistas para avançar nas questões de saúde, alimentação e para adquirir mais vacinas contra o coronavírus".
Mas, enquanto Rodríguez afirma que "a Venezuela não quer pedir dinheiro a ninguém, quer apenas o seu dinheiro", Blyde diz que a oposição buscará recursos "com a ajuda de organismos multilaterais".
O grupo opositor passou a contar com a presença do ex-congressista Freddy Guevara, aliado de Juan Guaidó e recém-saído da prisão do Helicoide, onde ficam presos políticos. "Falta muito, e não será fácil alcançar um acordo a curto prazo, mas demos um passo em direção a uma solução da crise."
Enquanto o tom do chavismo foi otimista, o do lado opositor mostrou-se mais cauteloso. "Não chegamos a discutir o tema dos presos políticos, dos exilados e perseguidos. Esse processo será longo e complexo", disse. "Não quero alimentar falsas expectativas, quero dizer aos venezuelanos que as coisas caminharão pouco a pouco, discutidas a fundo, e que as decisões serão tomadas depois de pensar bem e com boa assessoria."
Blyde afirmou, ainda, que o bloco opositor "tem mantido a linha fundamental de objetivos, que é a da reinstitucionalização do nosso país e um regresso à democracia". Já Rodríguez reforçou, em sua fala, que o regime se guia pela frase "nada está acordado até que tudo esteja acordado".
Na semana passada, a oposição venezuelana, reunida em um grupo partidário, anunciou que vai romper o boicote que dura desde 2017, ao confirmar participação nas eleições regionais marcadas para 21 de novembro.
"Havíamos pedido três coisas: eleições livres, fim da usurpação e governo de transição. Era nosso desejo e achávamos que era inegociável. Agora, chegamos à conclusão de que essas coisas talvez não possam ocorrer todas de uma só vez e de que é preciso ir dialogando e fazendo a transformação aos poucos", disse Guevara no último dia 31, indicando a mudança de posição.
Nesta quarta (7), a Venezuela recebeu o primeiro carregamento de vacinas contra a Covid enviadas pelo consórcio Covax, ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo informou a agência AFP, a Organização Pan-Americana de Saúde contabilizou o envio de 693 mil doses do fármaco produzido pelo laboratório chinês Sinovac.
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