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Obstáculos para coalizão na Alemanha vão da economia à diplomacia

Partidos essenciais para formação de novo governo divergem em vários assuntos

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Berlim | AFP

Após as apertadas eleições alemãs deste domingo (26), os partidos do país se propuseram a formar uma coalizão antes do Natal. O mais provável é que os sociais-democratas (SPD) ou os democratas-cristãos (CDU), primeiro e segundo lugar, respectivamente, liderem um governo em aliança com Os Verdes e os liberais do FDP.

Ao todo, o SPD obteve 206 cadeiras, 28% do total de 735 assentos. Já a sua principal concorrente, a União (CDU/CSU), partido da atual primeira-ministra, Angela Merkel, ficou com 196 vagas.

Para alcançar a maioria do Bundestag —o Parlamento alemão—, o novo governo deve reunir 368 deputados. É aí que entram Os Verdes, que conseguiram 118 cadeiras, e o FDP, com 92.

Mas cada uma das partes enfrenta "desafios programáticos bastante fortes", diz Paul Maurice, pesquisador do Comitê de Estudos Franco-Alemães do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI). "O maior obstáculo será a incompatibilidade dos programas [dos Verdes e do FDP]."

As divergências que devem tornar as negociações entre os partidos ainda mais difíceis passam pela forma como o novo governo lidará com orçamento, dívida pública, políticas sociais e ambiente, além de qual será o tom nas relações com a Rússia e a China.

Orçamento e dívida

A questão orçamentária será um dos principais obstáculos. O FDP é um forte defensor da ortodoxia orçamentária e hostil à modificação da regra constitucional de freio do endividamento, que impede o Estado de tomar emprestado mais de 0,35% do PIB a cada ano. A posição é compartilhada pela CDU.

Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão, em Berlim
Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão, em Berlim - John Macdougall - 24.out.17/AFP

Já os Verdes e, em menor medida, o SPD, estão prontos para mais flexibilidade. Os ambientalistas querem tirar esse freio para financiar os investimentos caros que a transição verde exige.

A única esperança de se chegar a um acordo, segundo Maurice, viria do desejo do FDP de entrar no governo para atuar como “corretivo” e impedir que as propostas mais progressistas dos Verdes e do SPD sejam implementadas.

Políticas sociais e impostos

Olaf Scholz, o atual ministro das Finanças e líder dos sociais-democratas, está sob grande pressão da ala mais à esquerda de seu partido, que, durante as eleições, prometeu aumentar o salário mínimo e garantir aposentadorias seguras e estáveis.

Para reduzir as desigualdades, a legenda defende igualmente o aumento dos impostos para os mais ricos e a reforma do imposto sobre a herança, que deixa de fora boa parte das transferências das empresas familiares, a espinha dorsal da economia alemã —os Verdes também apoiam as medidas.

Mas isso é algo difícil para o FDP aceitar, já que a sigla defende cortes de impostos para as empresas e as famílias. "Impostos, política social, papel do Estado e do mercado: o FDP e os Verdes ainda não estão unidos nessas questões", listou o colíder verde Robert Habeck.

Já de acordo com Maurice, os sociais-democratas, com base nos resultados eleitorais, poderão "impor essas questões" aos futuros parceiros de coalizão, mas terão de fazer "alterações em benefício do FDP".

Política externa

Os Verdes se manifestaram claramente contra o gasoduto Nord Stream 2, que vai aumentar a quantidade de gás fornecida pela Rússia e tornar a Alemanha ainda mais dependente do país governado por Vladimir Putin. Por outro lado, o SPD apoiou o projeto.

O gasoduto já está terminado, mas ainda não entrou em funcionamento. Durante a campanha eleitoral, a candidata verde, Annalena Baerbock, reafirmou a posição contrária a ele, acusando os sociais-democratas e conservadores de terem "prestado um péssimo serviço à Alemanha" ao apoiar "um projeto que só beneficia Putin".

Além de exigirem uma relação mais firme com a Rússia, os Verdes também defendem um governo que seja rígido ao negociar com a China. Já os demais partidos são a favor do pragmatismo com o parceiro asiático, um dos mais importantes para a economia alemã.

O partido ambientalista ainda se opôs duramente à compra de drones de combate para o Exército alemão, enquanto o SPD pede um "debate profundo" sobre o assunto. O FDP, por outro lado, é favorável a essa compra, assim como a união formada pelo CDU e o CSU.

Clima

Acelerar a transição energética está no centro da agenda dos Verdes. O partido ambientalista quer antecipar o prazo para a Alemanha deixar de usar usinas a carvão de 2038 a 2030.

Porém, muitos dos liberais do FDP são céticos em relação a essa medida e, ainda em direção contrária aos Verdes, seus filiados pedem a neutralidade do carbono até 2050, cinco anos depois do já planejado pelo país —os Verdes querem adiantar o prazo para 2040.

Apesar das convicções partidárias, Maurice destaca que os liberais já divulgaram a intenção de seguir as orientações da União Europeia se as suas instâncias "decidirem algo diferente".

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