Descrição de chapéu The New York Times

Pertences de Al Capone oferecidos em leilão revelam dois lados do gângster

Diane Capone diz que expectativa é mostrar ao público que avô foi mais do que um chefe da máfia

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Maria Cramer
The New York Times

Os primeiros objetos listados no site de leilões que está oferecendo os pertences de Al Capone retratam um filho e pai de família afetuoso. Há uma foto em preto e branco dele e de sua mãe sorrindo alegremente um para o outro. E há uma foto numa moldura dourada do mafioso com o braço em volta de seu único filho, Albert Francis. Ambos estão elegantes, usando chapéu de feltro e paletó engomado.

Mas continue percorrendo os objetos à venda no site da Witherell’s Auction House e você verá artigos mais sinistros, lembrando aos potenciais compradores que, embora Capone possa ter sido “Papa” para seus netos, foi também um chefão mafioso violento que teria sido o mandante do Massacre do Dia de São Valentim (ou do Dia dos Namorados), em que sete homens foram abatidos numa oficina mecânica de Chicago por gângsteres que se fizeram passar por policiais.

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Uma das fotografias de Al Capone que será leiloada mostra o gângster, então com 27 anos, ao lado de seu filho, Albert Francis, no Arkansas, por volta de 1925 - Witherell's via The New York Times

Intitulada “Um Século de Notoriedade: o Legado de Al Capone”, a coleção também inclui várias das armas de fogo do mafioso, entre as quais uma pistola Colt .45 de 1911 descrita como sua arma favorita. Os lances ao vivo só vão começar em 8 de outubro, mas duas ofertas por valores de seis dígitos já foram feitas para a pistola, segundo Brian Witherell, fundador da casa de leilões em Sacramento, na Califórnia.

É um sinal do fascínio exercido até hoje por um mafioso morto há mais de 70 anos.

“Este será um leilão grande”, disse Witherell. “Estamos fazendo este trabalho há tempo suficiente para saber o que atrai compradores. Mas esta coleção está superando nossas maiores expectativas.”

Conhecido como Scarface (cara de cicatriz), Capone morreu em janeiro de 1947 em sua mansão em Palm Island, na Flórida, de complicações decorrentes de um derrame cerebral e pneumonia. Tinha 48 anos.

Seus pertences continuaram com a família e acabaram chegando às mãos das quatro filhas de Albert Francis Capone, conhecido como Sonny. Uma das filhas, Diane Capone, disse que ela e suas duas irmãs ainda vivas, todas residentes em Auburn, na Califórnia, decidiram vender os objetos de seu avô porque estão envelhecendo e temiam o que poderia acontecer com eles se os incêndios que vêm devastando o norte da Califórnia recentemente as obrigassem a abandonar suas casas de uma hora para outra.

“Passamos os dois últimos verões com as malas feitas e ao lado da porta”, disse Diane.

Os objetos, 174 ao todo, também incluem móveis, relógios, uma capa branca e dourada de uma caixa na qual Capone guardava fósforos para seus charutos e uma carta que escreveu a Sonny Capone da prisão.

Também estarão à venda algumas das joias do mafioso, incluindo alfinetes de diamante usados para prender sua gravata borboleta e um alfinete chamativo com a palavra “AL” cravada em diamantes, usado para prender sua gravata à camisa para que não saísse do lugar.

Diane Capone, 77, disse que entende existir “um abismo enorme” entre a vida privada de seu avô e sua vida pública, que já foi exposta detalhadamente em jornais, filmes e livros.

“Se eu sei que ele foi responsável por muitas coisas ruins ou por mandar seus homens fazerem coisas ruins?”, perguntou. “É claro que sei. Mas também tenho consciência de que ele tinha características multidimensionais. Ele era capaz de separar sua vida pública da vida que levava como homem de família.”

Diane tinha 3 anos quando seu avô morreu, mas disse que tem recordações claras de Capone lendo para ela, segurando-a no colo e conduzindo-a pelos jardins da mansão, apontando para flores e estatuetas enquanto ela se agarrava aos dedos dele. “Ele era muito, muito afetuoso.”

Filho de imigrantes italianos, Al Capone cresceu em Nova York e escolheu ser gângster quando era adolescente, segundo biografia escrita por Deirdre Bair. Ele era engraxate, via mafiosos extorquindo comerciantes locais e decidiu criar sua própria gangue. Adulto, formou seu império vendendo bebidas alcoólicas na época da Lei Seca, entre 1920 e 1933, em que o consumo de álcool foi proibido nos EUA.

Ele ganhava cerca de US$ 100 milhões por ano, segundo pesquisadores da Harvard Business School, para os quais as estratégias de Capone foram um reflexo das “formas destrutivas de empreendedorismo americano do início do século 20”.

Capone teria sido responsável por mais de 200 mortes, incluindo a de um promotor público. O momento culminante das guerras de gangues de Chicago opôs Capone a seu principal rival, George Moran (também conhecido como Bugs), e se deu em 14 de fevereiro de 1929. Sete homens, em sua maioria membros da gangue de Moran, estavam no interior de uma oficina quando outros quatro invadiram o local e anunciaram uma blitz. Mandaram os presentes se alinharem contra a parede e os fuzilaram.

Capone, que estava passando férias na Flórida, não foi preso, e algumas pessoas manifestaram dúvidas quanto a ter sido ele quem encomendou o crime. Ele nunca chegou a ser condenado por homicídio.

Foi sentenciado em 1931 por sonegação de impostos e cumpriu sete anos e meio de reclusão em um presídio federal. De acordo com o FBI, enquanto Capone esteve detido sua saúde deteriorou gravemente em função da paresia, uma paralisia parcial decorrente de sífilis.

Libertado, ele foi hospitalizado em Baltimore e em seguida foi para sua mansão em Palm Island. “Ele ficara mentalmente incapaz de voltar à política mafiosa”, disse o FBI.

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Al Capone com sua esposa e os três netos em 1946 - Witherell's via The New York Times

Sua neta disse duvidar dessa teoria. Ela afirma crer que seu avô ficou contente em deixar a vida anterior para trás. Ela contou que sua avó certa vez descreveu como antigos associados de Capone vinham visitá-lo quando ele deixou a prisão. Quando iam embora, a esposa de Capone os ouvia comentar: “Ele está completamente doido".

“Minha avó mencionou isso a meu avô, e a resposta de Papa foi: ‘Deixe que pensem o que quiserem –é minha passagem de saída’”, contou.

Diane Capone disse que pretende doar parte de seus lucros com o leilão a entidades beneficentes, como o banco local de alimentos. Era o tipo de organização beneficente apoiada por seu avô, que patrocinou restaurantes comunitários durante a Grande Depressão.

A neta de Capone disse que nunca vai conseguir entender essa dicotomia. “Não faço ideia de como uma pessoa pode ser capaz de viver a vida pública que ele viveu e ser o homem de família que ele foi."

Tradução de Clara Allain

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