Reino Unido contradiz Bolsonaro e nega pedido de ajuda: declarações 'não condizem' com o que ocorreu, diz gabinete de Boris Johnson

Nos bastidores, entendimento é o de que o governo britânico trata as declarações de Bolsonaro como falsas

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Luís Barrucho
Londres | BBC News Brasil

As alegações do presidente Jair Bolsonaro de que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, lhe pediu um acordo "emergencial" para diminuir a escassez de um produto alimentício não especificado "não condizem com a lembrança dos eventos", informou o gabinete do premiê britânico à BBC News Brasil.

Nos bastidores, contudo, o entendimento é o de que o governo britânico trata as declarações de Bolsonaro como falsas. Boris e Bolsonaro se encontraram na semana passada, quando ambos viajaram a Nova York, nos Estados Unidos, para a Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

O presidente Jair Bolsonaro e o premiê Boris Johnson durante encontro em Nova York - Michael M. Santiago/Getty Images - 20.set.21/AFP

Durante a reunião, Boris falou a Bolsonaro sobre os benefícios da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19, desenvolvida no Reino Unido. Bolsonaro respondeu dizendo que não havia sido vacinado.

Dois dos integrantes de sua equipe receberam resultado positivo para coronavírus —o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e um diplomata que havia viajado a Nova York antes para organizar a viagem do presidente brasileiro. Queiroga já havia tomado as duas doses do imunizante, enquanto o diplomata, apenas a primeira. Nesta sexta, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente que também o acompanhou na viagem aos EUA, disse nas redes sociais que também recebeu diagnóstico de Covid-19.

'Acordo emergencial'

Em sua live semanal a apoiadores nesta quinta-feira (23), Bolsonaro disse que Boris lhe pediu um acordo emergencial para importar "algum tipo de mantimento nosso que está em falta na Inglaterra".

"Ele quer um acordo emergencial conosco para importar algum tipo de mantimento nosso que está em falta na Inglaterra. Então, a inflação veio para todo mundo depois do 'fique em casa, a economia a gente vê depois', e alguns países estão com falta de alimento. Essa batata já passei lá para a dona Tereza Cristina [ministra da Agricultura]", afirmou ele, sem mencionar a qual produto Boris teria se referido.

As especulações são as de que o produto não especificado possa ser carne de peru. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais dessa matéria-prima. Na mesma transmissão para as redes sociais, Bolsonaro também falou que Boris lhe pediu para facilitar as importações de uísque para o Brasil.

O Reino Unido passa por uma crise de desabastecimento, e há fortes preocupações sobre uma possível escassez de alimentos nas prateleiras dos supermercados no período que antecede o Natal.

Isso se deve a uma combinação de fatores, entre os quais falta de funcionários para preencher vagas importantes da cadeia alimentícia, sobretudo motoristas de caminhão, além de problemas na oferta de CO2, usado para o abate de animais e para criar gelo seco para manter os alimentos frescos.

O brexit —a saída do Reino Unido da União Europeia— e a Covid-19 seriam os principais culpados pela atual crise. O governo britânico pediu à população que não estocasse produtos, como aconteceu no início da pandemia, após o anúncio da BP de que pode haver falta de combustível em alguns postos de gasolina.

Algumas das maiores redes de supermercados britânicas —como Tesco e Iceland— já haviam feito o mesmo apelo, apesar de confirmarem que o setor passa por um "momento de alerta".

Na semana passada, a gigante americana CF Industries decidiu interromper as operações de suas duas fábricas de fertilizantes no Reino Unido, que respondem por 60% da produção nacional de CO2, sob a alegação de que os preços em alta do gás natural as tornaram não lucrativas.

Para evitar um colapso do setor de alimentos e bebidas, que depende dessa matéria-prima, o governo britânico decidiu intervir na empresa. A retomada das operações deve levar "vários dias".

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