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Taiwan pede aos EUA para mudar nome de escritório, e China repudia movimento

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Igor Patrick

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Uma mudança de nome pode despertar mais uma briga entre Estados Unidos e China. Nesta semana, o jornal britânico Financial Times revelou que Washington considera autorizar Taiwan a alterar o nome da representação oficial nos EUA de “Escritório de Representação Econômica e Cultural de Taipei” (Tecro) para “Escritório de Representação de Taiwan”.

Pode parecer pouco, mas, na visão de Pequim, trata-se de mais um passo norte-americano no reconhecimento tácito da ilha como um país soberano. Para os chineses, ela é uma província rebelde.

O território serviu de salvaguarda para os derrotados nacionalistas ao fim da guerra civil em 1949 e clama soberania sobre todo o território da China desde então.

Nas últimas décadas, com a expansão da economia e a implantação de uma democracia representativa, cresceu o número de taiwaneses que defendem o separatismo.

Ilustração chinesa mostra cinco pessoas, uma bandeira vermelha ao fundo, e a frase "definitivamente devemos libertar Taiwan" em chinês.
Na propaganda chinesa, o clamor: “Definitivamente devemos libertar Taiwan”

Os americanos mudaram o reconhecimento de quem consideram os legítimos representantes da China em 1979, e a antiga embaixada foi renomeada como "escritório de representação" em virtude da decisão.

No entanto, Pequim tem se mostrado irredutível nos últimos anos quanto a qualquer sinalização de independência taiwanesa e também pressionou por reversões semelhantes na Nigéria, na Jordânia e no Equador. Em julho, quando a Lituânia aceitou receber um "escritório de Taiwan", a China expressou forte descontentamento e chegou a ameaçar chamar de volta o embaixador em Vilnius.

A mudança do nome em Washington demandaria uma ordem executiva assinada pelo próprio Joe Biden. A embaixada chinesa no país se adiantou e, em comunicado, disse que os Estados Unidos "devem interromper qualquer interação oficial com Taiwan, abster-se de enviar quaisquer sinais errados para as forças de 'independência de Taiwan' ou tentar desafiar os resultados financeiros da China e lidar de forma adequada e prudente com questões relacionadas a Taiwan, de modo a não prejudicar seriamente as relações China-EUA e a paz e estabilidade através do Estreito".

Por que importa: reconquistar Taiwan é um objetivo histórico da China comunista desde o primeiro dia da fundação da República Popular. Por muitos anos, Pequim acreditava que conseguiria convencer os compatriotas em Taipei usando o modelo de "Um País, Dois Sistemas" implementado em Macau e Hong Kong. No entanto, a repressão a protestos e a erosão de movimentos democráticos nesta última em 2019 afastaram os taiwaneses de possíveis tratativas nesse sentido.

Os chineses devem continuar tentando o feito de forma pacífica. Parece haver consenso entre os burocratas comunistas de que uma guerra colocaria em perigo a trajetória econômica ascendente. Porém, movimentos americanos que garantam a independência da ilha certamente não serão tolerados, e o separatismo é a linha vermelha para Xi Jinping: se ocorresse, e ele se recusasse a usar a força, cairia em desgraça e seria engolido pelo partido e pela população.


o que também importa

Por falar na delicada relação sino-americana, os líderes dos dois países conversaram no último dia 10 em uma tentativa de administrar a rivalidade e encontrar áreas de possível cooperação. Foi a primeira chamada entre Joe Biden e Xi Jinping desde fevereiro, e as tratativas duraram cerca de uma hora e meia.

Durante a conversa, Xi pediu "coragem para colocar os laços China-EUA de volta nos trilhos". O líder chinês destacou que o relacionamento é "a questão do século" e que acertar os ponteiros "não é uma opção, mas algo que devemos fazer e fazer bem". Ele também alertou que "o mundo se beneficiará se a China e os EUA cooperarem, mas sofrerá se a China e os EUA se confrontarem”, de acordo com o comunicado divulgado pela chancelaria chinesa.

Biden respondeu que Washington quer "manter a dinâmica competitiva" com Pequim, mas que evitaria "confrontos não intencionais". O presidente teria oferecido se encontrar pessoalmente com o líder chinês em uma cúpula bilateral, mas a imprensa americana reportou que, além das preocupações quanto ao deslocamento da liderança em tempos de pandemia, Xi demandou melhorias nas relações antes que a reunião acontecesse. A informação foi negada tanto por Joe Biden quanto por Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional.

A Casa Branca anunciou que pretende deixar o canal de comunicação aberto entre os dois países, mas não há previsão de uma nova conversa no futuro próximo.


Nas últimas semanas, falamos aqui sobre como a censura chinesa parecia estar mais permissiva em relação a denúncias online de má conduta sexual. Para não deixar dúvidas sobre o quanto o tema permanece um tabu, o Tribunal Popular do Distrito de Haidian (Pequim) rejeitou na quarta (15) as alegações de uma mulher que diz ter sido abusada pelo chefe, um dos primeiros casos do tipo a chegarem às cortes do país.

  • Zhou Xiaoxuan acusava o famoso apresentador Zhu Jun de acariciá-la e beijá-la à força quando trabalhou como estagiária do programa dele no canal estatal CCTV em 2014. Após ser exposto por ela nas redes sociais, o apresentador negou as acusações e processou em 2018 a ex-funcionária, pedindo mais de R$ 520 mil em reparações por difamação.

Zhou resolveu então entrar com uma ação contrária formal, tornando-se um símbolo do movimento que na China ficou conhecido como #MiTu (em referência ao #MeToo americano).

Após mais de três anos de batalhas judiciais, a corte em Haidian decidiu que "não havia provas suficientes" para levar o caso adiante. De acordo com Zhou, o tribunal recusou o pedido dela para incluir novas evidências no processo, incluindo um vídeo mostrando o suposto incidente e uma avaliação psicológica com um especialista em casos de assédio sexual. A decisão é definitiva e não caberá recurso.


Conhecido pelas reportagens que produziu no caso “Watergate”, o jornalista Bob Woodward lança no próximo dia 21 o livro-reportagem “Peril” (“Perigo”). Cópias da obra que começaram a circular entre as Redações americanas trouxeram uma grande revelação: a de que altos oficiais militares americanos trabalharam por meses para conter o ex-presidente Donald Trump e evitar uma guerra com a China.

De acordo com Woodward e Robert Costa, que cobre a Casa Branca para o jornal The Washington Post, o presidente do Estado-Maior Conjunto americano, o general Mark A. Milley, realizou dois telefonemas secretos ao homólogo chinês, Li Zuocheng, general do Exército da Libertação Popular. Milley temia que a inconstância de Trump durante a campanha eleitoral levasse a um conflito militar com os chineses.

A primeira chamada, feita em outubro do ano passado, teria sido motivada por relatórios de inteligência que indicavam a crença entre os chineses sobre um possível ataque americano. Ele teria apelado aos laços de amizade entre os dois e prometido que avisaria antes caso os EUA resolvessem entrar em um conflito armado com a China.

A segunda ligação ocorreu após a invasão do Capitólio, no dia 6 de janeiro. Os chineses teriam ficado exasperados com a possibilidade de um golpe. Milley reduziu os temores ao dizer que o país estava "100% firme" e que a "democracia pode ser desajeitada às vezes".

Milley se manifestou por meio de um porta-voz. Ele negou ter ignorado a autoridade de Trump e, embora não tenha confirmado a íntegra dos diálogos revelados no livro, declarou que “conversas [com homólogos] permanecem vitais para melhorar a cooperação mútua dos interesses de segurança nacional, reduzir as tensões, fornecer clareza e evitar consequências ou conflitos não intencionais”.


fique de olho

Jornalistas passam em frente a uma imagem de Xi Jinping no museu do Partido Comunista da China. Ele aparece acenando e há fotos menores ao redor.
Imagem de Xi Jinping exposta no museu do Partido Comunista da China. - Noel Celis/AFP

Em viagem para participar da abertura dos Jogos Nacionais em Xi'an, Xi Jinping fez uma parada para visitar ícones da história revolucionária comunista: a vila Yangjiagou e o condado de Suide, ambos na província de Shaanxi. Além de serem importantes para o partido, os dois locais carregam significado familiar para o líder chinês: em 1947, o pai dele, Xi Zhongxun, participou de uma reunião com Mao Tse-tung em Yangjiagou, e Suide foi o local onde os pais dele se conheceram.

Por que importa: nostalgia à parte, vários observadores e sinólogos apontaram a viagem como uma sinalização de Xi antes da realização do 6º Plenário do Comitê Central, reunião histórica que promete consolidar o líder chinês como o centro do desenvolvimento nacional. Ao entrelaçar a história do partido comunista com a sua própria, Xi confirmaria suas “credenciais vermelhas” junto aos colegas correligionários, tirando do caminho possíveis dúvidas sobre a lealdade à legenda.


para ir a fundo

  • A pressão para conseguir boas notas no Gaokao, exame de acesso às universidades chinesas, é tão massacrante que muitos adolescentes sofrem de transtornos emocionais. O Sixth Tone conta como uma empresa oferece terapia por mensagem para jovens da zona rural massacrados pelas cobranças e pela competitividade. (gratuito, em inglês)
  • Quando anunciou a abertura de uma filial em Budapeste, a prestigiosa Universidade de Fudan em Xangai esperava receber os louros pelo primeiro campus chinês no exterior. A iniciativa, porém, encontra dura resistência dos húngaros. A prefeitura tem renomeado ruas próximas ao local do futuro campus para termos provocativos aos chineses, como “rua Dalai Lama”, “rua Liberte Hong Kong” e outros. O China Media Project explica a confusão. (gratuito, em inglês)
  • O músico chinês Coco Zhao, conhecido por misturar sons tradicionais e jazz, fez uma música em parceria com o capixaba Zé Renato, que a publicou no YouTube. Batizada de “Sutil Cintilar”, a canção foi composta pelo brasileiro e gravada pelos dois a distância. Eles devem se encontrar novamente no fim de setembro, em uma live que conectará músicos da China e do Brasil. (gratuito, em português)
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