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Xi Jinping pesa como agir no caso Evergrande de olho em terceiro mandato

Líder chinês teme que resgate da incorporadora imobiliária possa criar precedente de alto custo

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Tom Mitchell Edward White Sun Yu
Singapura, Seul e Pequim | Financial Times

A apenas um ano de distância de um inusitado terceiro mandato no poder, Xi Jinping está fazendo uma das maiores apostas econômicas de sua Presidência, deixando a Evergrande chegar à beira da falência.

Um colapso da incorporadora imobiliária chinesa fortemente endividada teria graves consequências para centenas de milhares de compradores de imóveis e investidores individuais, sem falar na estabilidade financeira e no crescimento econômico da segunda maior economia do mundo.

No entanto, a administração de Xi ainda não ofereceu nenhuma garantia de que vai intervir para estabilizar a situação, como fez recentemente com dois outros grandes conglomerados que quase desabaram sob o peso de suas dívidas significativas.

Prédio da Evergrande em Xangai, com bandeira da China em primeiro plano
Prédio da Evergrande em Xangai, com bandeira da China em primeiro plano - Aly Song - 22.set.21/Reuters

Um assessor do governo, sob anonimato, disse que as altas autoridades estão extremamente preocupadas com a Evergrande, destacando que a razão entre dívida e PIB na China subiu de 250% para 290% em menos de dois anos.

Mas, segundo ele, isso não passa da ponta do iceberg. Para esse assessor, se algo de realmente dramático acontecer com a Evergrande, o risco para a dívida de outras incorporadoras imobiliárias será muito mais alto, criando outro problema sério para o setor.

Depois de sofrer quedas acentuadas em Hong Kong no início da semana, os mercados chineses se mostraram relativamente estáveis na quarta-feira, na medida em que a Evergrande anunciou que honrará um pagamento de títulos onshore que venceria na quinta-feira.

Mas a incorporadora privada, fundada e comandada pelo bilionário Hui Ka Yan, não disse o mesmo em relação a um pagamento de títulos offshore que também venceria nesta quinta-feira.

Na quinta-feira, o banco central chinês injetou 110 bilhões líquidos de renminbi no sistema financeiro do país, segundo dados da Bloomberg —a maior injeção de liquidez em oito meses.

Recentemente, Pequim foi responsável por uma série de restruturações de grupos altamente endividados, entre os quais a estatal de gerenciamento de ativos Huarong e o conglomerado de aviação, logística e turismo HNA. Mas a Evergrande se destaca devido ao impacto direto sobre a vida de milhões de pessoas.

Além dos estimados US$ 300 bilhões que a Evergrande deve a bancos, acionistas e fornecedores, o grupo já emitiu mais de US$ 6 bilhões em títulos de gestão de patrimônio de alta rentabilidade a cerca de 80 mil investidores individuais, incluindo seus próprios funcionários, que na semana passada promoveram um protesto na sede da empresa em Shenzhen, no sul do país.

Compradores de imóveis já pagaram a Evergrande antecipadamente por estimados 1,6 milhão de apartamentos que a incorporadora não entregou. “Isso vai ser diferente devido à pressão adicional que virá de cidadãos comuns”, comentou o especialista na indústria financeira David Yu, da NYU em Xangai.

A Evergrande é a segunda maior incorporadora no setor imobiliário, em termos de vendas, sendo responsável por mais de um quarto do produto econômico da China. Mas, por mais que a administração de Xi hesite em deixar um motor econômico tão crítico falir, ela também se preocupa com o precedente muito caro que será criado se organizar um resgate liderado pelo Estado.

Uma pessoa a par das discussões da Evergrande com reguladores financeiros chineses disse que muitas incorporadoras estão sob pressão devido ao arrocho das políticas. Segundo ela, se o governo intervir, todas as grandes incorporadoras vão pedir a mesma coisa —e o governo não teria como salvar todas.

Se Xi Jinping e sua equipe econômica de fato decidirem que o Estado precisa intervir na Evergrande para evitar um derretimento econômico e do mercado muito maior, uma dificuldade política importante será como salvar o grupo sem necessariamente salvar Hui, seu presidente e fundador.

No mês passado, Xi anunciou uma agenda política doméstica que vai enfocar a “prosperidade comum”, um elemento central de sua candidatura a um inusitado terceiro mandato na direção do Partido Comunista Chinês, a partir do final de 2022. Resgatar Hui, o quinto homem mais rico do país, não combina com a visão de Xi de uma sociedade mais equitativa.

Hui controla mais de 70% da Evergrande. O Relatório Hurun estimou sua fortuna em US$ 35 bilhões no final de 2020. A parte líquida deve diminuir fortemente após a queda de 86% das ações da firma nos últimos 12 meses, mas, mesmo assim, ele ganhou bilhões de dólares em dividendos nos últimos anos.

“Um resgate em grande escala não é provável”, prevê Larry Hu, economista-chefe para a China na Macquarie. “Os acionistas e os credores podem sofrer prejuízos grandes. Mas o governo vai se certificar de que os apartamentos vendidos antecipadamente sejam entregues aos compradores.”

O assessor governamental disse que a abordagem seguida por Pequim com a HNA, que tinha dívidas de mais de US$ 75 bilhões, ofereceu um modelo potencial de como lidar com a Evergrande.

O presidente da HNA foi substituído por um indicado pelo governo, que então reorganizou o conglomerado em quatro unidades distintas e encontrou um investidor estatal bem intencionado para injetar fundos em sua divisão mais conhecida, a Hainan Airlines.

Segundo o assessor, a Evergrande sobreviveria, mas sua direção seria afastada. Foi o que aconteceu na HNA, diz. A intervenção estabilizou a empresa, os preços de suas ações e de seus títulos. Para ele, as autoridades sentem muita confiança nessa abordagem.

Tradução de Clara Allain

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