Ações do YouTube contra desinformação impactaram Twitter e Facebook, diz relatório

Proporção de vídeos enganosos sobre eleições nos EUA caiu após ações mais severas da empresa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Davey Alba
The New York Times

Uma pesquisa divulgada neste mês revelou que as medidas mais duras contra desinformação eleitoral adotadas pelo YouTube resultaram em uma queda acentuada na prevalência de vídeos falsos e enganosos no Facebook e no Twitter, enfatizando o poder da plataforma no universo das redes sociais.

Pesquisadores do Centro de Mídia Social e Política da New York University constataram um aumento importante no número de vídeos do YouTube sobre fraude eleitoral compartilhados no Twitter imediatamente após a eleição americana, em 3 de novembro.

Logo da plataforma de vídeos YouTube
Logo da plataforma de vídeos YouTube - Dado Ruvic/Reuters

Ao longo daquele mês, esses vídeos eram um terço de todos os clipes ligados à eleição compartilhados no Twitter. Os principais conteúdos vieram de fontes que haviam promovido desinformação eleitoral no passado, como Project Veritas, Right Side Broadcasting Network e One America News Network.

Mas as denúncias de fraude eleitoral compartilhadas no Twitter diminuíram nitidamente depois de 8 de dezembro. Foi nesse dia que o YouTube anunciou que tiraria do ar vídeos que promovessem a teoria infundada de que erros e fraudes amplas teriam mudado o resultado da eleição presidencial.

Até 21 de dezembro a parcela de conteúdos do YouTube sobre fraude eleitoral compartilhados no Twitter caíra para menos de 20% pela primeira vez desde a eleição.

Essa parcela diminuiu mais ainda depois de 7 de janeiro, quando o YouTube anunciou que qualquer canal que violasse sua política sobre desinformação eleitoral receberia uma advertência e que canais que recebessem três advertências num período de 90 dias seriam removidos permanentemente. No dia da posse presidencial, a parcela de vídeos contendo desinformação sobre a eleição caíra para cerca de 5%.

Essa tendência se reproduziu no Facebook. Depois da eleição ocorreu um grande aumento na partilha de vídeos contendo teorias sobre fraude eleitoral, que logo antes de 8 de dezembro chegaram a um pico, formando 18% de todos os vídeos compartilhados na rede.

Depois de o YouTube lançar suas medidas mais restritivas, essa parcela caiu fortemente por boa parte do mês, voltando a subir um pouco antes do ataque de 6 de janeiro ao Capitólio. Depois que as novas políticas foram adotadas, em 7 de janeiro, ela voltou a cair, chegando a 4% no dia da posse presidencial.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores colheram uma amostra aleatória de 10% dos tuítes transmitidos a cada dia. Em seguida, isolaram tuítes que continham links para vídeos do YouTube.

Fizeram o mesmo com links para vídeos do YouTube compartilhados no Facebook, usando para isso o CrowdTangle, uma ferramenta de análise de mídia social pertencente ao Facebook.

A partir desse grande conjunto de dados, os pesquisadores filtraram os resultados sobre a eleição e sobre fraude eleitoral, usando um conjunto de palavras-chaves como "Stop the Steal" e "Sharpiegate", o que lhes proporcionou uma visão do volume de vídeos do YouTube sobre fraude eleitoral em diferentes momentos e como esse volume mudou no final de 2020 e no início de 2021.

A desinformação tem proliferado nas grandes redes sociais nos últimos anos. O YouTube, em especial, demorou mais que outras plataformas para combater diferentes tipos de desinformação, frequentemente anunciando a adoção de medidas mais duras semanas ou meses depois do Facebook e Twitter.

Nas últimas semanas, contudo, o YouTube vem endurecendo sua política, tendo por exemplo proibido toda desinformação antivacinas e suspendido as contas de conhecidos ativistas antivacinas, entre os quais Joseph Mercola e Robert F. Kennedy Jr. Ivy Choi, uma porta-voz do YouTube, disse que a empresa é a única grande plataforma online que adotou uma política de integridade em relação à eleição presidencial americana. "Além disso, destacamos conteúdos idôneos em buscas relacionadas à eleição e reduzimos a propagação de desinformação nociva ligada à eleição", disse ela.

Megan Brown, pesquisadora do Centro de Mídia Social e Política da NYU, disse que é possível que, depois de o YouTube proibir o conteúdo, as pessoas não consigam mais compartilhar os vídeos que promoviam a teoria de que a eleição foi fraudada. Também é possível que o interesse por essas teorias tenha diminuído consideravelmente depois de os Estados americanos terem certificado os resultados de suas eleições.

Em última análise, porém, disse ela, "sabemos que essas plataformas são profundamente interligadas". O YouTube foi identificado como um dos domínios mais compartilhados em outras plataformas, incluindo nos relatórios de conteúdos do Facebook divulgados recentemente e em pesquisas da própria NYU.

"O YouTube é uma parte importantíssima do ecossistema de informação", disse Brown. "Assim, quando a plataforma do YouTube fica mais sadia, a mesma coisa se dá com as outras."

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.