Biden e Macron trocam elogios após crise dos submarinos, mas francês ainda espera 'prova de amor'

Encontro de líderes indica fim de impasse diplomático iniciado por acordo dos EUA que Paris considerou 'punhalada nas costas'

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BAURU (SP)

O encontro entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, nesta sexta-feira (29), pôs fim —de acordo com os dois líderes— à crise diplomática desencadeada pelo acordo americano com Reino Unido e Austrália para a construção de submarinos nucleares.

Batizado de Aukus, o pacto de segurança irritou os franceses porque significou o cancelamento de um contrato bilionário assinado em 2016 com os australianos. Agora, segundo Macron, é hora de olhar para o futuro. "O que realmente importa é o que faremos juntos nas próximas semanas e nos próximos meses", disse o francês durante um discurso em sua embaixada no Vaticano, após o encontro com Biden.

Mais cedo, o americano se reuniu com o papa Francisco. Por isso, Biden se atrasou por uma hora e meia para a reunião com Macron, durante a qual trataram de ambiente, combate ao terrorismo na África e defesa da Europa. Depois, os dois líderes posaram para as câmeras dando um aperto de mãos.

Os presidentes de EUA, Joe Biden, e França, Emmanuel Macron, após encontro em Roma, na Itália
Os presidentes de EUA, Joe Biden, e França, Emmanuel Macron, após encontro em Roma, na Itália - Ludovic Marin/AFP

Macron disse que o encontro foi importante para marcar o início de um "verdadeiro projeto conjunto" com os EUA. Desde o impasse diplomático, segundo o líder francês, houve "um esclarecimento indispensável sobre o que constitui a soberania e a defesa europeias e o que elas podem trazer à segurança global".

Questionado mais tarde sobre se a confiança em Biden foi completamente restaurada, o presidente francês deu uma resposta que dá a entender que o relacionamento entre as duas lideranças ainda pode conter alguns espinhos. "A confiança é como o amor: declarações são boas, mas provas são melhores."

O líder americano, por sua vez, admitiu que as ações dos EUA no episódio poderiam ter sido melhores.

"Acho que o que aconteceu foi desajeitado. Não foi feito com muita elegância", disse o presidente dos EUA. "Tive a impressão de que aconteceram certas coisas que não tinham que ter acontecido. Mas quero deixar claro: a França é um parceiro extremamente valioso —extremamente— e um poder por si mesma."

Biden disse que tinha a impressão de que a França já estava ciente de que seu acordo com a Austrália não estava indo bem na ocasião do anúncio americano. À época, o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, descreveu o Aukus como "uma punhalada nas costas" e disse que Biden agiu como o ex-presidente Donald Trump, de maneira "unilateral, brutal, imprevisível".

Nesta sexta, o democrata procurou encher Paris de elogios, dizendo que os EUA não têm um aliado mais antigo e leal do que a França e que não há lugar no mundo em que os dois países não possam trabalhar juntos.

Usando quase as mesmas palavras, o premiê britânico, Boris Johnson, que deve se encontrar com Macron durante o fim de semana, também procurou reforçar os laços com o vizinho europeu —depois de ambos os países subirem o tom nos últimos dias em uma contenda ligada à indústria pesqueira pós-Brexit.

"A França é um de nossos melhores, mais antigos e mais próximos aliados, amigos e parceiros", disse ele a jornalistas, a caminho da Itália. "Os laços que nos unem são muito mais fortes do que a turbulência que existe atualmente no relacionamento. É o que direi a Emmanuel, um amigo que conheço há muitos anos."

Esta foi a primeira vez em que Biden e Macron se encontraram desde o início da crise diplomática. Desde então, os dois presidentes se falaram por telefone em ao menos duas ocasiões. Na primeira delas, concordaram que "a situação [no caso Aukus] teria sido beneficiada por consultas abertas entre aliados sobre questões de interesse estratégico para a França" e outros parceiros europeus dos EUA.

Na mesma conversa, combinaram o encontro desta sexta-feira, e Macron decidiu que seu embaixador retornaria a Washington na semana seguinte —gesto diplomático que botou panos quentes na relação entre as lideranças. No jargão das relações internacionais, convocar um embaixador, como fez o líder francês à época, é um movimento que expressa forte insatisfação com o país que abriga os diplomatas.

A segunda ligação ocorreu na semana passada. Segundo a Casa Branca, "os dois líderes revisaram os esforços de suas equipes para apoiar a estabilidade e a segurança no Sahel e aumentar a cooperação no Indo-Pacífico". Também ficou agendada a visita da vice Kamala Harris a Paris em novembro.

Com Reuters

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