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Papa defende em encontro que Biden siga recebendo comunhão frente a crise sobre aborto

Reunião entre lideranças antecede cúpula do G20 e COP26, com americano sob pressão de católicos dos EUA

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Cidade do Vaticano | Reuters

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta sexta-feira (29), logo após encontro com o papa Francisco, que o aborto não foi um dos temas abordados na conversa com o pontífice. Ainda assim, disse que Francisco afirmou que ele deveria continuar recebendo a comunhão.

O apoio do democrata ao direito ao aborto é tema de debate nos EUA, com lideranças da igreja americana afirmando que o presidente não deveria ter o direito de receber a comunhão. Segundo Biden, Francisco lhe disse que estava feliz por ele ser um bom católico e que deveria seguir recebendo o sacramento.

De acordo com o Vaticano, Biden e Francisco conversaram durante uma hora e 15 minutos e passaram mais 15 minutos trocando presentes e tirando fotos. A reunião foi considerada incomumente longa —o papa falou por 30 minutos com Donald Trump em 2017 e por 50 minutos com Barack Obama, em 2014.

O presidente dos EUA, Joe Biden, encontra-se com o papa Francisco no Vaticano
O presidente dos EUA, Joe Biden, encontra-se com o papa Francisco no Vaticano - Vatican Media via Reuters

A Casa Branca disse que Biden agradeceu ao pontífice "por sua defesa dos pobres do mundo e daqueles que sofrem de fome, conflito e perseguição". O democrata, segundo o comunicado, "elogiou a liderança do papa Francisco na luta contra a crise climática, bem como sua defesa para garantir o fim da pandemia para todos por meio do compartilhamento de vacinas e de uma recuperação econômica global equitativa. ​

De acordo com o relato oficial da Santa Sé, Biden e Francisco "insistiram em seu compromisso comum com a proteção e o cuidado do planeta, a situação da saúde e a luta contra a pandemia de Covid-19, bem como a questão dos refugiados, e como prestar assistência aos migrantes".

O governo americano vive uma crise migratória, com recorde de detenções na fronteira com o México, o que representa um desafio à promessa de Biden de praticar uma "abordagem mais humana" que a de seu antecessor na Casa Branca. "Ambas as partes falaram também sobre a proteção dos direitos humanos, incluindo o direito à liberdade de religião e de consciência", acrescentou o Vaticano.

Biden chegou ao Vaticano junto a muitos membros das forças de segurança. Na Itália, ele também participará da cúpula do G20, encontro das principais economias do mundo, neste fim de semana.

Em seus tradicionais uniformes coloridos, os guardas suíços responsáveis pela segurança dos líderes da Igreja Católica receberam o presidente americano e sua esposa, Jill Biden, com uma saudação de honra no pátio do Palácio Apostólico. A bandeira dos EUA tremulava na varanda da residência oficial do papa.

"Muito obrigado, é bom estar de volta", disse Biden a um dos funcionários do Vaticano. A outro oficial, que estava conversando com a primeira-dama, o democrata, bem humorado, disse: "Sou o marido de Jill".

O encontro entre o primeiro papa latino-americano e o segundo presidente católico a ocupar a Casa Branca ocorre em meio a um debate acirrado na igreja dos EUA, em que Biden sofre pressão de lideranças conservadores por sua posição em relação aos direitos das mulheres ao aborto.

O presidente americano vai à missa semanalmente e mantém uma foto do papa Francisco atrás de sua mesa no Salão Oval. Em nível pessoal, ele já manifestou sua oposição ao aborto, com a ressalva de que, como líder eleito democraticamente, não pode impor suas opiniões ao país que governa.

Na hierarquia da igreja, críticos mais fervorosos já disseram que Biden deveria ser proibido de receber a comunhão, um dos principais sacramentos da fé católica. "Caro papa Francisco, você afirmou com ousadia que o aborto é 'assassinato'. Por favor, desafie o presidente Biden neste assunto crítico. O apoio persistente dele ao aborto é uma vergonha para a igreja e um escândalo para o mundo", escreveu o bispo Thomas Tobin, do estado de Rhode Island, em uma publicação no Twitter.

O cardeal Raymond Burke, também um conservador, não mencionou Biden diretamente, mas escreveu em seu site sobre o "grave escândalo causado por alguns políticos católicos". "Eles têm, de fato, contribuído de forma significativa para a consolidação de uma cultura de morte nos EUA, na qual o aborto é simplesmente um fato da vida cotidiana", disse Burke.

Em junho, a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) submeteu a votação uma resolução sobre como os líderes religiosos americanos devem lidar com políticos católicos, incluindo o presidente. O tema deve voltar à discussão no próximo mês, embora o Vaticano tenha advertido que o processo semearia discórdia em vez de promover a unidade.

Questionado no mês passado, o papa Francisco disse a jornalistas que considera o aborto um "assassinato". O pontífice criticou, porém, a posição dos bispos católicos americanos por lidarem com o tema da comunhão de forma política, em vez de pastoral. "Comunhão não é um prêmio para os perfeitos. Comunhão é um presente, a presença de Jesus e de sua igreja", disse Francisco, acrescentando que os bispos devem usar "compaixão e ternura" com os políticos católicos que apoiam o direito ao aborto.

Apesar da pressão, a decisão final sobre permitir ou não que Biden (ou qualquer outro fiel) receba a comunhão cabe ao bispo responsável por cada diocese. No caso do democrata, que frequenta missas em Washington e em Wilmington, no estado de Delaware, a proibição é altamente improvável.

Líderes devem oferecer 'esperanças concretas' na COP26, diz Francisco

Às vésperas da COP26, a conferência da ONU sobre o clima que começa neste domingo (31) em Glasgow, no Reino Unido, Francisco fez um apelo para que os líderes políticos que participarão do evento ofereçam às gerações futuras "respostas eficazes" e "esperanças concretas" de que estão tomando as medidas necessárias para enfrentar as mudanças climáticas.

"Essas crises nos apresentam a necessidade de tomar decisões, decisões radicais que nem sempre são fáceis", disse o pontífice em entrevista nesta sexta à rede britânica BBC. "Ao mesmo tempo, momentos de dificuldade como este também apresentam oportunidades, oportunidades que não devemos desperdiçar."

O Vaticano enviará uma delegação à COP26, mas Francisco não irá à conferência. O líder da Igreja Católica, no entanto, pediu que os líderes políticos em todo o mundo se comprometam com a urgência das mudanças de direção nas questões climáticas.

"Podemos enfrentar essas crises nos retirando para o isolacionismo, protecionismo e exploração. Ou podemos ver nelas uma chance real de mudança, um momento genuíno de conversão, e não simplesmente no sentido espiritual", disse. "Esta última abordagem por si só pode nos guiar em direção a um horizonte mais brilhante."

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