Brasil fica de fora de 1ª viagem de secretário de Estado dos EUA à América do Sul

Antony Blinken irá a Equador e Colômbia e fará discurso sobre desafios à democracia na região

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Washington

O Brasil ficou de fora da primeira viagem do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, à América do Sul. O chefe da diplomacia na gestão de Joe Biden viajará a Equador e Colômbia de 19 a 21 de outubro.

Blinken se encontrará com o presidente do Equador, Guillermo Lasso, em Quito, na terça (19). No dia seguinte, vai a Bogotá, para uma reunião com o presidente Iván Duque, e ficará no país até quinta (21).

Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, durante evento em Washington - Jonathan Ernst - 14.out.21/AFP

Na Colômbia, discursará sobre os desafios enfrentados pela democracia na região e iniciará um diálogo de alto nível entre os dois países sobre democracia e direitos humanos que incluirá jovens ativistas.

Blinken também tratará do combate à imigração ilegal, ao narcotráfico e às mudanças climáticas, além de meios para criar oportunidades comerciais e empregos, segundo anúncio do Departamento de Estado.

No cargo desde o início da administração democrata, que tomou posse em janeiro, ele viaja pela primeira vez para a América do Sul. Na América Latina, Blinken já visitou México e Costa Rica.

Procurada pela Folha para comentar a ausência do Brasil no itinerário da viagem, a Embaixada do Brasil em Washington se limitou a desejar ao secretário "uma excelente viagem". "Esperamos ter, em futuro próximo, a satisfação de acolher o secretário Blinken no Brasil", diz a nota.

Nesta quinta-feira (14), o almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, se reuniu com Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, na Casa Branca.

Segundo comunicado do governo americano, Sullivan elogiou o Brasil por ter 47% da população com ciclo vacinal completo contra a Covid, reiterou o apoio dos EUA no acesso à OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico) e "enfatizou a necessidade de progressos concretos no clima por todas as partes na próxima Conferência de Mudanças Climáticas da ONU", em referência à COP26, marcada para o começo de novembro na Escócia.

Sullivan esteve em Brasília em agosto, quando se encontrou com Rocha e o presidente Jair Bolsonaro. Um dos principais objetivos da viagem foi reiterar a oposição dos EUA à participação de fornecedores chineses, como a Huawei, na infraestrutura do 5G brasileiro, além de discutir política ambiental.

O assessor de Biden também disse a Bolsonaro que o governo americano acredita que as instituições brasileiras são fortes e podem conduzir eleições livres e justas com o sistema eleitoral atual. Naquele momento, o presidente insistia em questionar a confiablidade das urnas eletrônicas.

O governo americano tem mantido certa distância do brasileiro. Os dois presidentes ainda não se encontraram desde a posse do democrata —Bolsonaro era próximo de Donald Trump e torceu publicamente pela derrota de Biden nas eleições americanas de 2020.

O líder brasileiro foi a Nova York em setembro para participar da Assembleia-Geral da ONU. Mesmo que Biden tenha discursado no evento logo em seguida, regras para barrar o contágio por coronavírus evitaram uma interação entre os dois. Ainda assim, se houvesse interesse mútuo, ambos poderiam ter marcado uma conversa —como a que ocorreu, de ambas as partes, com o britânico Boris Johnson.

Na semana do encontro na ONU, porém, Blinken se reuniu com o chanceler brasileiro, Carlos França, e pediu ao Brasil que aceitasse receber mais refugiados do Afeganistão e do Haiti. Na ocasião, diplomatas brasileiros ouvidos sob condição de anonimato disseram ter considerado o encontro bastante positivo e que os americanos teriam reconhecido esforços feitos pelo Brasil na área ambiental.

Antes, em julho, William J. Burns, diretor da CIA, a agência de inteligência dos EUA, fez uma visita oficial a Brasília, onde se encontrou com autoridades do governo, entre os quais Bolsonaro.

Biden sofre pressão de membros de seu partido para se afastar do Brasil, tanto pela questão ambiental quanto por atos antidemocráticas. Na quinta-feira (14), um grupo de 64 deputados democratas enviou uma carta a Biden pedindo que o status do Brasil de aliado extra-Otan seja retirado, além de um recuo na relação Brasil-EUA até que "um novo líder seja eleito".

O parlamentar democrata Hank Johnson, do estado da Geórgia, e outros legisladores apontaram as tentativas de Bolsonaro de deslegitimar as eleições presidenciais de 2022 e o apoio dele à contestação da vitória de Biden no pleito americano de 2020.

“Bolsonaro apoiou as declarações falsas de Trump sobre fraude na eleição e foi um dos últimos líderes globais a reconhecer sua vitória eleitoral, o que põe em dúvida a disposição dele de aceitar os resultados da eleição brasileira em 2022”, escreveram.

No fim de setembro, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Bob Menendez, e outros três parlamentares enviaram mensagem a Blinken alertando sobre a deterioração da democracia no Brasil e pedindo que Biden deixasse claro que "qualquer ruptura democrática terá sérias consequências".

Na ocasião, o embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, disse que o senador estava mal informado. "O dinamismo e a vitalidade das instituições democráticas brasileiras contrastam vivamente com os regimes autoritários do hemisfério, fonte de preocupação para nossos dois governos."

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