Castelo de cartas do dinheiro sujo do regime na Venezuela vai cair, diz Iván Duque

À Folha presidente da Colômbia fala sobre extradição de empresário ligado a Maduro e defende que seu país eleja sucessor 'longe da demagogia e do populismo'

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Brasília

O presidente da Colômbia, Iván Duque, afirmou à Folha que a extradição para os Estados Unidos do empresário Alex Saab, apontado por ele como "banqueiro" do chavismo, vai derrubar o "castelo de cartas do financiamento sujo" do regime do ditador Nicolás Maduro.

"Devem estar com muito medo de tudo o que Saab vai revelar. Porque ele conhece todos os segredos sobre como movimentaram dinheiro sujo dentro e fora do regime", disse Duque.

O líder colombiano se reuniu com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) nesta terça-feira (19), em Brasília.

Em entrevista à Folha, o presidente da Colômbia, Iván Duque, elogiou Bolsonaro e negou que tenha havido repressão policial nos recentes protestos no país
Em entrevista à Folha, o presidente da Colômbia, Iván Duque, elogiou Bolsonaro e negou que tenha havido repressão policial nos recentes protestos no país - Pedro Ladeira/Folhapress

A extradição de Saab, que é cidadão colombiano, para os EUA é vista como um golpe para Maduro. A primeira reação do regime após a notícia de que Cabo Verde havia entregado o empresário para as autoridades americanas foi suspender negociações com a oposição —que teriam nova rodada no domingo (17), no México, com Saab como um dos representantes da ditadura.

Saab virou réu em 2019 por lavagem de dinheiro em Miami e havia sido preso durante uma escala de avião em Cabo Verde em junho de 2020.

Após o encontro nesta terça, Duque e Bolsonaro destacaram que seus países devem trabalhar de forma conjunta na reunião global do clima da ONU, a COP26, que começa no dia 31 na Escócia.

Na entrevista, o presidente colombiano elogiou o brasileiro, negou que tenha havido repressão policial nos recentes protestos no país e rebateu as críticas de que seu governo não estaria implementando os Acordos de Paz com as Farc na velocidade necessária.

Durante o governo Donald Trump, Colômbia e Brasil participaram de uma estratégia de máxima pressão contra o regime Maduro. Ele permanece no poder até hoje. A estratégia fracassou? Não são apenas três países. Muitos países do hemisfério trabalharam na defesa da democracia; vários governos reconheceram o presidente interino da Assembleia [venezuelana, Juan Guaidó, como presidente interino].

Foram vários os governos que pediram sanções contra o ditador. [No caso da Colômbia] é uma política de Estado, não de um governo. Nos EUA também existe uma política bipartidária para enfrentar essa ditadura atroz. O que começou sendo uma ação do governo Trump se materializou na gestão do presidente Joe Biden: a extradição [aos EUA] de Alex Saab, que será processado por narcotráfico e que é o banqueiro do regime Maduro.

Que impacto a extradição de Saab deve ter para o regime? Devem estar com muito medo de tudo o que Saab vai revelar. Porque ele conhece todos os segredos de como movimentaram dinheiro sujo dentro do regime e fora dele.

Mas, adicionalmente, [Saab conhece] o conluio que [o regime] mantém com o narcotráfico e com o terrorismo internacional. Por isso vimos [os chavistas] muito desesperados e dando declarações nervosas, eles sabem que depois de Saab vai cair o castelo de cartas do financiamento sujo do socialismo do século 21.


O ano de 2021 marca os cinco anos dos Acordos de Paz na Colômbia. Que balanço faz desse período? Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que houve um acordo com um grupo, as Farc. Mas [na Colômbia] seguia existindo o ELN [Exército de Libertação Nacional], Los Caparros, Los Pelusos e o Clan del Golfo.

No que se refere ao processo de desmobilização, desarme e reinserção com as Farc, o escritório do Defensor do Povo divulgou há poucos dias um informe: [diz] que foi feito mais pela implementação dos acordos nesses três anos do meu governo do que nos primeiros 20 meses depois da assinatura [durante a administração Juan Manuel Santos].

Como eu disse na ONU, nós herdamos uma paz frágil, mas hoje temos um processo que ocorre sobre bases sólidas, sustentáveis e financiáveis ao longo do tempo.

Seu governo é acusado de não implementar os acordos na velocidade necessária. Na política sempre tem gente que fala mentiras, especulações ou tem intenções eleitorais. Os fatos são os fatos.

O sr. foi eleito com uma plataforma que se opôs aos Acordos de Paz. Hoje eles são irreversíveis? Nós nunca fomos contra a paz. Eu fui porta-voz do "não" [no plebiscito sobre os acordos] não porque fosse contra a paz, mas porque era preciso apresentar ao país a possibilidade de introduzir melhorias.

No meu governo apresentamos mudanças estruturais. Por exemplo, a que define que nem o narcotráfico nem os sequestros são crimes conexos a delitos políticos, por consequência não passivos de anistia.

Outra: uma política que permite lutar contra o fenômeno das drogas e não incentivar o crescimento dos cultivos ilícitos. Mais coca é menos paz na Colômbia. Por isso, se queremos consolidar a paz, temos de derrotar o fenômeno do narcotráfico.

A Colômbia tem eleições em 2022 e o sr., embora não vá concorrer, enfrenta altos índices de impopularidade. Esse cenário será um obstáculo para o candidato que seu partido venha a lançar? As pesquisas mudam todos os dias. No primeiro turno da minha eleição tive 39% dos votos. Eu trabalho todos os dias para materializar minha proposta de governo, não trabalho para as pesquisas.

Tenho certeza de que o povo colombiano entenderá que as melhores opções estão no centro; que estão longe dos radicalismos, da demagogia e do populismo —longe do socialismo do século 21.

O sr. critica opções populistas, mas o presidente Bolsonaro é definido por críticos como populista de extrema direita. Vou dizer o que vi no presidente Bolsonaro: primeiro, uma pessoa que tem apreço e carinho pela Colômbia; que trabalhou com a Colômbia e levou adiante políticas públicas para que haja mais investimentos, exportações e para que os laços com outras nações sejam fortalecidos.

Também o vejo promovendo o Brasil no exterior para gerar mais investimentos, exportações e bem-estar. É o que posso dizer pela forma com que trabalhei com ele.

O candidato que lidera as pesquisas na Colômbia é Gustavo Petro, um político da esquerda. Como vê um possível governo dele? É muito prematuro fazer essas previsões eleitorais. O que tenho certeza é que a Colômbia não cairá nas garras do socialismo do século 21, que o país vai se concentrar em quem realmente esteja oferecendo uma agenda de crescimento econômico e de bem-estar que seja realizável.

Nós já sabemos como terminam esses discursos econômicos de expropriação e intervenção. O povo colombiano, que viu a tragédia na Venezuela, não vai tomar o caminho do caos.

A repressão aos protestos sociais neste ano, que deixaram dezenas de mortos, são uma mancha em seu mandato? Na Colômbia não existe repressão, sempre soubemos respeitar os protestos pacíficos, que são um direito constitucional. Mas também atuamos com apego à lei quando ocorrem atos de violência, de vandalismo ou terrorismo urbano de baixa intensidade.

Temos uma força pública comprometida, por isso temos uma política de tolerância zero com qualquer conduta violadora de direitos humanos.

Respondemos a muitos clamores legítimos e pacíficos dos cidadãos com uma agenda muito clara, que explico da seguinte forma: quase 47% das transferências econômicas sociais feitas na Colômbia neste século ocorreram no meu governo.

Mas com o número de mortos registrados nas manifestações, como é possível afirmar que não houve repressão? Não houve nenhuma repressão contra as pessoas que se pronunciaram pacificamente. E onde ocorreram fatos violentos, assassinatos —seja de um membro da força pública ou de um civil—, nós estamos contribuindo com a Procuradoria para que as investigações avancem.


Raio-x | Iván Duque Márquez, 45

Advogado e ex-senador, foi eleito presidente da Colômbia em 2018 com o apoio do ex-presidente Álvaro Uribe. Foi porta-voz do "não" no plebiscito sobre os Acordos de Paz, posição que acabou prevalecendo e obrigou o então governo de Juan Manuel Santos a fazer modificações no texto. Desde o início de seu mandato, Duque tentou se afastar das posições mais radicais do partido de Uribe

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