Coalizão de centro-direita pode tirar 'Trump tcheco' do poder

Partido de Andrej Babis fica em segundo lugar, com 27,2%; coalizão Juntos lidera pleito, com 27,7%

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Praga | Reuters e AFP

Com 99,9% dos votos apurados, o cenário na República Tcheca aponta para uma possível nova coalizão de centro-direita no poder, levando à saída do premiê conservador Andrej Babis, 67, no cargo desde 2017.

Ao contrário da maioria confortável indicada pelas pesquisas de intenção de voto, o partido fundado por Babis, ANO (sim, em tcheco), obteve 27,2% dos votos na eleição parlamentar de sexta (8) e sábado (9). A coalizão Juntos, de centro-direita, obteve 27,7%; e a coalizão Pirata com o movimento Prefeitos e Independentes alcançou 15,5%.

Primeiro-ministro da República Tcheca e líder do ANO, Andrej Babis, participa de de entrevista coletiva em Praga após eleição parlamentar
Primeiro-ministro da República Tcheca e líder do ANO, Andrej Babis, participa de de entrevista coletiva em Praga após eleição parlamentar - Bernadett Szabo/Reuters

Com as porcentagens somadas, as alianças têm chance de formar um governo e já anunciaram que vão iniciar conversas neste domingo (10). Projeções da mídia tcheca indicam que, juntas, as coalizões podem conseguir 108 dos 200 assentos na Câmara baixa —para obter maioria, é preciso ter 101 cadeiras.

O partido Liberdade e Democracia Direta (SPD), de ultradireita e defensor da saída do país da União Europeia (UE) obteve 9,6% dos votos. Outras siglas, como os Sociais-democratas e o Partido Comunista, que apoiavam Babis, não alcançaram a porcentagem mínima de 5% dos votos e, assim, deixaram o Parlamento. É a primeira vez desde 1948 que os comunistas ficam de fora do Legislativo tcheco.

As alianças de centro-direita se recusam a costurar coalizões com Babis, a quem são críticas. As legendas questionam, em especial, o império empresarial que o premiê ergueu antes de entrar na política e dizem haver conflito de interesses, o que o premiê nega.

O argumento ganhou fôlego na última semana da campanha eleitoral, quando o nome do primeiro-ministro apareceu na investigação dos Pandora Papers, que revelou operações de ao menos 35 líderes mundiais em paraísos fiscais. A apuração internacional apontou que, em 2009, ele usou dinheiro de empresas em paraísos fiscais para adquirir algumas propriedades, incluindo um castelo no sul da França.

Por seus negócios, Babis enfrentou ainda um litígio com a União Europeia, acusado de suposta fraude em subsídios do bloco, que o denuncia por seu conflito de interesses como empresário e político.

Babis também sai enfraquecido devido à gestão da pandemia de coronavírus —no início do ano, o país chegou a liderar a estatística mundial de mortes por Covid por habitante— e por "colocar uma enorme pressão sobre o orçamento do Estado para distribuir benefícios", além de continuar afirmando que não aumentaria os impostos, o que Tomas Lebeda, analista da Universidade Palacky em Olomouc (leste do país), classifica como populismo fiscal.

O governo do premiê também foi marcado pelo discurso anti-imigração, o que o lhe rendeu comparações com o ex-presidente americano Donald Trump e o o apelido de "Trump tcheco". Durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, em 2019, o assunto foi inclusive tema de reunião de Babis com Jair Bolsonaro. A saída do premiê enfraquece ainda outros governos de ultradireita na região, como o do polonês Andrzej Duda e o do húngaro Viktor Orbán.

"Trouxemos uma chance de que vamos parar de acumular dívidas, que vamos permanecer como uma parte da Europa democrática", afirmou o líder da coalizão Juntos, Petr Fiala. "Os resultados são claros, a oposição democrática venceu com uma maioria clara." Já Ivan Bartos, líder do Partido Pirata, disse que "a era do caos provavelmente ficará para trás" com o fim do domínio de Babis.

A vitória, no entanto, pode ainda sofrer um revés. O presidente Milos Zeman, aliado do premiê, indicou que daria a Babis uma primeira chance para formar governo se o ANO conquistasse a maioria dos votos, o que a sigla conseguiu individualmente, já que os demais partidos possuem maioria se considerada a coalizão. O cenário pode manter o primeiro-ministro no poder por mais alguns meses e já era temido pela oposição.

Apesar de ter reconhecido a vitória do Juntos, Babis disse que, se Zeman o autorizasse, ele iria liderar as negociações para formar governo. Reuniões entre o premiê e o presidente estão previstas para este domingo e para quarta-feira (13).

Fiala já rebateu a possibilidade, defendendo que qualquer governo precisa ter o apoio da maioria no Parlamento e que esperava que Zeman respeitasse isso.

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