Descrição de chapéu Coronavírus Governo Biden

EUA controlam alta da Covid com reforço na vacinação, mas mantêm alerta

Biden busca convencer empresas a exigir imunização, enquanto escolas continuam abertas e restrições sociais não são apertadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

Em setembro, 700 mil bandeirinhas brancas foram fincadas na grama do National Mall, parque perto da Casa Branca, em Washington, para homenagear cada uma das vítimas da pandemia nos Estados Unidos. Num sábado, dezenas de pessoas se aglomeravam, muitas sem máscaras, para fotografar a ação.

Pessoas caminham pelo centro de Manhattan, em Nova York, que vê movimento cada vez maior na região
Pessoas caminham pelo centro de Manhattan, em Nova York, que vê movimento cada vez maior na região - Spencer Platt - 1º.out.21/Getty Images/AFP

Entre a lembrança dos mortos e a sensação de que a pandemia chegou ao fim, a cena resume o quadro atual do país. Uma piora preocupante nos números, seguida agora por uma aparente retomada do controle da situação —vista com cautela por especialistas.

Desde agosto, os EUA vivem o segundo pico mais alto de casos de Covid desde o início da pandemia. Nos últimos dois meses, a média de diagnósticos chegou a 172 mil por dia, e a de mortes voltou à casa de 2.000. Os números continuam elevados, mas melhoraram a partir da segunda quinzena de setembro: estão hoje na faixa de 100 mil infecções e 1.700 óbitos por dia.

A tática dos governos para lidar com esse recrudescimento recente é conhecida: vacinação, testagem e uso de máscaras. Restrições sociais, porém, foram evitadas desta vez. A maioria das escolas e universidades, que voltaram às aulas presenciais em agosto, continuou aberta. O comércio, restaurantes e eventos também, com precauções como a exigência de máscara em ambientes internos ou comprovante de imunização, a depender da cidade.

"Esta onda atingiu os EUA de forma mais regional. Começou no centro do país e depois foi a partes do sul e do meio-oeste. Estados com alto nível de pessoas vacinadas não tiveram grande alta de casos", diz David Dowdy, professor de imunologia na Universidade Johns Hopkins. "E a vacinação aumentou nos estados mais atingidos."

Hoje, a alta de contágios se concentra no Alasca e em Wyoming, estados distantes das áreas mais populosas.

Dowdy atribui a melhora a dois fatores. Primeiro, ao aumento da imunização: o ritmo de aplicação de doses voltou a ficar próximo de 1 milhão por dia, e cidades como Nova York e Los Angeles determinaram que estabelecimentos exijam um passaporte vacinal em ambientes que geram aglomerações (restaurantes e casas de shows, por exemplo).

Depois, à ampliação dos cuidados, como o uso de máscaras. Ainda que ela já tenha se tornado pouco comum ao ar livre, onde não é mais obrigatória, ainda é cobrada no transporte público, em escolas, instalações de saúde e áreas internas onde há aglomeração. Locais como Washington D.C. e Califórnia retomaram a obrigatoriedade em mais situações em agosto.

Nos EUA, 56,2% da população está com o ciclo vacinal completo. E, com o tempo, a parcela de não imunizados, com mais tendência a ser infectada por novas variantes, vai diminuindo.

Mesmo com a nova onda, a rotina em boa parte do país teve poucas mudanças. Em Washington e em Nova York, por exemplo, bares e restaurantes continuam cheios aos fins de semana. Jogos de futebol americano e beisebol são disputados em arenas lotadas. Shows e espetáculos vão sendo retomados, em escala cada vez maior —a Broadway voltou a ter apresentações com plateia cheia em setembro.

Já a volta ao trabalho presencial se dá de modo mais lento. Órgãos públicos têm chamado funcionários a dar expediente pessoalmente, mas muitas empresas se mantêm reticentes. Facebook, Google e PwC, por exemplo, postergaram o retorno, e dois em cada três trabalhadores de escritórios continuam atuando de forma remota, segundo a Kastle Systems, que controla acessos em 341 mil prédios corporativos nos EUA.

No campo da educação, ao menos 17 estados determinaram regras que exigem máscaras em escolas —a maioria nas costas leste e oeste, como Nova York e Califórnia. Outros 7, incluindo Texas e Arizona, fizeram o contrário: impediram os colégios de obrigar alunos a usar a proteção. A questão foi parar na Justiça, e tribunais regionais ratificaram as decisões de governadores republicanos; a Suprema Corte, por outro lado, rejeitou um pedido de bloqueio à exigência de máscaras em NY.

Levantamento do CDC em 999 escolas mostrou que as instituições sem a obrigatoriedade da proteção têm risco 3,5 vezes maior de um surto de Covid do que as que demandam o uso por alunos e professores, mesmo que vacinados.

O governo Joe Biden, que defende as máscaras nas escolas e que elas continuem abertas, tem comemorado a melhora gradual na situação, mas de forma contida.

“Casos e hospitalizações estão baixando. Estamos indo na direção certa, mas precisamos manter o foco. Ainda temos um longo caminho pela frente”, disse o presidente, em visita a Illinois, na quinta (7), para promover a vacinação. “Temos uma pandemia dos não vacinados. Eles estão lotando hospitais e UTIs, tirando o espaço de alguém que teve um ataque cardíaco ou precisa tratar um câncer.”

Biden viu recentemente suas taxas de aprovação caírem, movimento atribuído a crises de política externa, mas também à piora na gestão da pandemia, elogiada no início de seu mandato. Agora, entre as apostas do presidente para estimular o público reticente a tomar as doses está convencer grandes empresas a exigir que seus funcionários se vacinem —ou tenham de realizar testes frequentes de Covid.

Biden celebrou ter conseguido baixar o total de americanos elegíveis a imunização de 95 milhões para 67 milhões desde julho, quando a obrigatoriedade de vacinação para funcionários começou a ser implantada. Instituições que adotaram a medida, como o funcionalismo federal, companhias aéreas e hospitais de Nova York, tiveram adesão de mais de 90% dos colaboradores.

O Departamento do Trabalho debate criar uma regra para exigir que todas as empresas com cem funcionários ou mais tenham de exigir a vacinação deles ou adotar testes de Covid rigorosos. A medida atingiria 100 milhões de pessoas.

O empenho na imunização, que já vê a reabertura de grandes centros de aplicação de doses em algumas cidades, tem outras duas frentes. O reforço vacinal foi iniciado em agosto, para imunossuprimidos e maiores de 65 anos, e já chegou até aqui a mais de 6 milhões de americanos.

O governo americano e as farmacêuticas também planejam imunizar crianças a partir de 5 anos. A Pfizer pediu autorização emergencial para isso na quinta (7), e a expectativa é que, havendo aprovação, a aplicação de doses comece em novembro.

A Casa Branca ainda anunciou que dobrará a oferta de testes rápidos e gratuitos de Covid, para mais de 200 milhões ao mês. E fez parcerias com laboratórios para acelerar o desenvolvimento de tratamentos para a Covid. Além do remdesmivir, aprovado pelo FDA no ano passado, técnicas como o uso de anticorpos monoclonais têm tido bons resultados em estudos.

O governo busca agilizar as medidas antes da chegada do inverno, em dezembro. As baixas temperaturas favorecem a circulação do coronavírus, já que as pessoas tendem a ficar mais tempo em lugares fechados e com mais risco de apresentar problemas respiratórios.

“A situação que virá próximos meses ainda é uma grande dúvida. O vírus mostrou que não deve ir embora, mas uma nova onda pode não ser tão grande. Nos EUA, no Brasil e na maioria dos lugares, as coisas estão ficando um pouco melhores, graças à imunização da população", diz Dowdy. "Na soma global, estamos no menor patamar de mortes por Covid deste ano. Há espaço para otimismo.”

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.