Líbano interrompe investigações sobre megaexplosão em porto após pressão política

Juiz responsável pelo caso é acusado de parcialidade por parlamentares chamados a depor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Beirute | AFP e Reuters

As investigações sobre a megaexplosão ocorrida em agosto de 2020 no porto de Beirute, no Líbano, foram interrompidas nesta terça (12) —pela segunda vez em três semanas— em meio à pressão de políticos sobre o juiz encarregado do caso.

Tariq Bitar havia emitido um mandado de prisão contra um parlamentar, o ex-ministro das Finanças Ali Hasan Khalil, que não havia respondido à convocação para um interrogatório. O mesmo procedimento havia sido usado contra o também ex-ministro Youssef Finianos no final de setembro.

Manifestação no dia em que se lembrou 1 ano da explosão em porto de Beirute, no Líbano - Kameel Rayes - 4.ago.21/AFP

Nas duas ocasiões, políticos apresentaram queixas sobre a conduta do magistrado à corte de apelações, forçando a interrupção das investigações até uma manifestação do Judiciário. No mês passado, o tribunal rejeitou os pedidos para a substituição de Bitar, com base em questões processuais, o que permitiu a retomada dos trabalhos na semana passada.

Khalil e Finianos —assim como Ghazi Zaayter, que deveria depor nesta quarta e também assinou a petição desta semana— são ligados ao movimento xiita Amal, aliado do Hizbullah.

Um líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, fez várias críticas públicas ao juiz nesta segunda (11). Em pronunciamento na TV, ele o acusou de politizar o inquérito com parcialidade e de comandar uma campanha de difamação.

O juiz havia chamado os políticos para depor para tentar aproveitar o recesso legislativo, durante o qual a imunidade parlamentar é suspensa, segundo a agência de notícias AFP. O período termina em 19 de outubro.

A investigação trabalha com a hipótese de que os deputados sabiam dos riscos de explosão do nitrato de amônio armazenado do porto, mas nada fizeram para impedi-la. O episódio deixou mais de 200 mortos, 6.000 feridos e destruiu bairros inteiros da capital libanesa. Depois, o país mergulhou em uma espiral de protestos da população e uma profunda crise política e econômica.

Em julho, Bitar chegou a convocar para depor várias autoridades, incluindo o ex-primeiro-ministro Hassan Diab. Políticos ignoraram os chamados, e os mandados de prisão emitidos tampouco têm sido cumpridos.

O juiz é o segundo responsável por tocar as investigações. Ele substituiu Fadi Sawan, afastado do caso em fevereiro com base no mesmo processo que o juiz enfrenta hoje: acusações de falta de parcialidade por políticos que se tornam alvo do inquérito.

De acordo com a Reuters, um representante do Hizbullah chegou a ameaçar Bitar há algumas semanas, dizendo que ele também seria removido do caso.

“Pela primeira vez o sistema judicial do Líbano quer funcionar, mas tem sofrido com a pressão política e seguidas intervenções”, disse à agência de notícias o professor de direito Paul Morcos.

À tarde, em entrevista a uma TV local, o ex-ministro Khalil chamou o mandado de prisão contra ele de ilegal e criticou a condução do caso. "Todas as opções para uma escalada política estão em aberto", disse, referindo-se a uma reunião agendada para esta quarta para debater o assunto.

O Líbano rechaça a possibilidade de realização de uma investigação internacional sobre a explosão, enquanto famílias das vítimas e organizações humanitárias acusam o governo de prejudicar a apuração local.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.