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Macron inaugura museu e pede que Dreyfus, vítima de antissemitismo, não seja esquecido

Sediado na casa que foi de Émile Zola, memorial será aberto ao público nesta quinta-feira

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Médan (França) | AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, instou a população a não esquecer as batalhas do passado ao inaugurar, nesta terça-feira (26), um museu sobre Alfred Dreyfus, vítima de um complô judicial e antissemita no século 19.

Emmanuel Macron visita Museu Dreyfus, em Médan, na França
Emmanuel Macron visita Museu Dreyfus, em Médan, na França - Ludovic Marin/Reuters

"Não se esqueçam desses combates do passado, porque eles nos dizem que o mundo em que vivemos, como nosso país, como nossa República, não deve ser dado como certo e pode estar novamente ameaçado." A fala fez óbvia referência a casos recentes de antissemitismo no continente europeu, em um fenômeno que tem piorado nos últimos meses.

O museu, que será aberto ao público na quinta-feira (28) na casa de Émile Zola em Médan, na região metropolitana de Paris, perpetua a memória do famoso escritor francês e de Alfred Dreyfus, capitão que foi vítima de uma conspiração judicial e acabou sendo reabilitado em 1906.

"Esse homem sofreu o pior, a humilhação, o silêncio, o isolamento", disse Macron, referindo-se a Dreyfus. "Nada vai reparar essas humilhações, mas não vamos agravá-las deixando-as no esquecimento."

Acompanhado pelo ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls e pelo rabino-chefe da França, Haïm Korsia, Macron visitou o museu que apresenta mais de 500 documentos sobre o caso, entre eles um fac-símile da famosa reportagem falsa que incriminou o capitão e muitos cartazes antissemitas ou que insultavam Zola, que lançou o famoso manifesto "Eu acuso" em sua defesa.

"Zola também fez parte da luta pela qual correu enormes riscos, uma luta eminentemente republicana", acrescentou o presidente francês.

Descendentes de Dreyfus e do escritor compareceram à inauguração, que consolida uma promessa feita por Macron em março de 2018, no jantar anual do Crif (Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França).

o caso dreyfus

"J'accuse" [em português, "Eu acuso"] é o título do célebre artigo redigido por Zola na época do caso Dreyfus e publicado no jornal L'Aurore do 13 de janeiro de 1898, sob a forma de uma carta endereçada ao presidente da República da França da época, Félix Faure.

O caso polarizou os franceses em dois campos opostos: aqueles que, como Zola, defendiam a inocência do capitão Dreyfus na acusação de traição e espionagem, da qual finalmente foi inocentado depois de um longo processo, e aqueles que o consideravam culpado.

A condenação, no final de 1894, do capitão Dreyfus —por ter supostamente entregue documentos secretos franceses ao Império Alemão— teria sido, segundo especialistas, um "erro judicial ou mesmo uma conspiração judicial", com um pano de fundo de espionagem, em um contexto social particularmente favorável ao antissemitismo e ao ódio à Alemanha —conhecido como "revanchismo"—, após a anexação da Alsácia-Lorena em 1871.

O caso movimentou a sociedade francesa durante nada menos do que 12 anos, de 1894 a 1906, dividindo-a profunda e duramente em dois campos opostos: os "Dreyfusards", partidários da inocência de Dreyfus, e os "anti-Dreyfusards", que acreditavam na sua culpa. O processo virou filme em 2020, sob o título "O Oficial e o Espião", nas mãos do não menos polêmico Roman Polanski, com o oscarizado Jean Dujardin no papel principal.

Na época, o artigo de Zola foi publicado na primeira página e foi a manchete do diário L'Aurore, cujos 300 mil exemplares esgotaram-se em poucas horas. Vários intelectuais assinaram, na ocasião, uma petição em favor da revisão do processo Dreyfus, publicada também pelo jornal, entre eles nomes como Anatole France, Georges Courteline, Octave Mirbeau e Claude Monet. As assinaturas foram recolhidas por estudantes ou jovens escritores da época, como Marcel Proust.

Zola recebeu diversas mensagens de apoio, mas também cartas injuriosas e ameaças de caráter antissemita ou xenófobo —o pai de Zola era italiano. O caso Dreyfus, que iria inflamar as multidões na França e no mundo durante vários anos, acabara de nascer, no meio da polêmica.

Com RFI

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