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Repressão aos atos contra golpe militar no Sudão deixa ao menos três mortos

Pelo menos 14 manifestantes morreram desde tomada do poder pelos militares

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Cartum (Sudão) | AFP e Reuters

As forças do Sudão mataram três pessoas que protestavam neste sábado (30) contra o golpe militar no país, naqueles que são considerados os maiores atos desde a tomada do poder pelo Exército.

Nas primeiras horas da madrugada da última segunda-feira (25), forças lideradas pelo general Abdel Fattah al-Burhan detiveram o premiê Abdallah Hamdok e outros integrantes civis do gabinete, aplicando um golpe que interrompeu um processo de quase três anos de transição para um poder civil.

Os três manifestantes foram mortos a tiros por soldados em Omdurman, cidade próxima à capital, Cartum, de acordo com o Comitê Central de Médicos do Sudão no Twitter. Uma testemunha disse ter ouvido tiros e visto pessoas sendo carregadas sangrando na direção do prédio do Parlamento.

Manifestantes contrários ao golpe militar no Sudão protestam na cidade de Omdurman, próxima à capital, Cartum
Manifestantes contrários ao golpe militar no Sudão protestam na cidade de Omdurman, próxima à capital, Cartum - AFP

Relatório do comitê de médicos também afirmou que 38 pessoas ficaram feridas na cidade, algumas delas devido a disparos. Ao menos 14 opositores foram mortos pelas forças de segurança nesta semana.

Neste sábado, os sudaneses tomaram as ruas de várias cidades do país. Em Cartum, centenas de milhares de pessoas participaram do ato, segundo a agência de notícias Reuters. "O povo deu a sua mensagem: a retirada é impossível, e o poder pertence ao povo", disse o manifestante Haitham Mohamed.

As forças de segurança também usaram gás lacrimogêneo para tentar dispersar a multidão depois que os manifestantes montaram um palco e discutiram a realização de um protesto. A polícia, no entanto, nega ter feito disparos durante os atos, e a TV estatal afirmou que um policial foi ferido por arma de fogo.

Militares bloquearam as estradas que levam ao aeroporto e ao complexo do Ministério da Defesa. No centro da capital, havia a presença de tropas armadas, que incluem o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido. Nos bairros, manifestantes bloquearam ruas durante a noite com pedras, tijolos, galhos de árvores e canos de plástico para tentar manter as forças de segurança afastadas.

Ao contrário de protestos anteriores, muitas pessoas carregaram fotos do premiê Hamdok, que continua popular apesar da crise econômica que se agravou sob seu governo. Com internet e linhas telefônicas restritas, os opositores se mobilizaram por meio de panfletos, SMSs, grafites e atos locais.

Comitês de resistência baseados em bairros, ativos desde a revolta contra o presidente deposto Omar al-Bashir, que começou em dezembro de 2018, foram centrais para a organização dos protestos. Bashir, que governou o Sudão por quase três décadas, foi forçado a sair pelo Exército após meses de protestos.

"Feche uma rua, feche uma ponte, Burhan, estamos indo direto até você", gritavam os manifestantes.

O general diz ter removido o gabinete do primeiro-ministro para evitar uma guerra civil, depois que políticos alimentaram hostilidades contra as Forças Armadas. Ele afirmou ainda que está comprometido com uma transição democrática, inclusive com as eleições marcadas para julho de 2023.

Os EUA e o Banco Mundial já suspenderam a assistência ao Sudão, onde uma crise econômica causou escassez de alimentos e remédios e quase um terço da população precisa de ajuda humanitária urgente.

Embora os países ocidentais tenham denunciado o golpe, os aliados regionais do Sudão —Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito— enfatizaram a necessidade de estabilidade e segurança.

O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, o príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, disse à Reuters que o reino espera que todos os lados no Sudão possam dialogar e traçar um caminho a seguir.

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