Descrição de chapéu África mudança climática

Mais de 118 milhões serão afetados por mudanças climáticas na África até 2030, diz ONU

Relatório reforça importância de medidas para adaptar continente, como alertas precoces para agricultores

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Assolada pela emergência climática com intensidade maior que a dos demais continentes, a África registrou em 2020 o terceiro ano mais quente da região. A temperatura média do ar subiu entre 0,45°C e 0,86°C em relação a 2010, e o aquecimento intensificou a insegurança alimentar e a crise socioeconômica.

Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicado nesta segunda (18) desenhou as principais consequências: se seguir assim, em dez anos o continente terá 118 milhões de pessoas —cerca de 10% dos habitantes— em situação de extrema pobreza expostas aos eventos extremos, e o PIB será reduzido em 3% até 2050.

Criança recolhe garrafas de plástico ao lado de uma casa destruída pelo ciclone Idai, que deixou centenas de mortos, no bairro da Praia Nova na Beira, em Moçambique, - Karel Prinsloo/UNCDF - 26.FEV.21/AFP

Ainda que seja responsável por menos de 4% das emissões de carbono, a África vê as temperaturas médias se aquecerem mais rapidamente que a média global, concluiu o material. A exposição cada vez maior dos habitantes a eventos extremos, como secas, inundações e ondas de calor, vai “colocar um fardo adicional sobre a pobreza e os esforços de mitigação, o que dificulta o crescimento”, diz o texto.

O índice de insegurança alimentar, ou seja, a ausência de condições que assegurem o acesso da população a alimentos para inibir a ocorrência da fome, aumenta de 5% a 20% a cada inundação ou seca nos 47 países da África Subsaariana, de acordo com os cálculos da OMM.

Em um cenário sem moradia e comida, o problema ganha um novo desdobramento: a migração. Dos novos deslocamentos populacionais em todo o mundo, 12% ocorrem no leste africano e na região conhecida como Chifre da África e, nesses locais, a migração de ao menos 1,2 milhão de pessoas se deu por razões climáticas.

Inundações e tempestades foram os eventos que mais contribuíram para os deslocamentos, seguidas por secas. O Sudão e o Quênia são os dois maiores exemplos: no primeiro, 800 mil pessoas foram afetadas, e, no segundo, 900 mil. Os números contabilizam impactos diretos, mas há também efeitos indiretos, como doenças.

O aquecimento global deve ainda impactar as geleiras africanas que, embora não tenham importância significativa como reservatórios de água, são importantes regiões turísticas e de pesquisa.

Segundo o relatório, as últimas três montanhas do continente cobertas por geleiras (os montes Quênia, Ruwenzori e Kilimanjaro) já possuem menos de 20% de seu volume de gelo inicial e serão descongeladas dentro de 20 anos —no caso do monte Quênia, o descongelamento aconteceria uma década antes, em 2030, devido às mudanças climáticas.

Implementar adaptações à crise do clima é a tarefa mais urgente na região, destacou o documento. Para isso, novos impactos econômicos: na África Subsaariana, os custos da adaptação necessária são estimados entre US$ 30 bilhões e US$ 50 bilhões (R$ 167 bi a R$ 279 bi), o que equivale a 3% do valor regional do PIB a cada ano ao longo da próxima década, mostram as projeções.

“O desenvolvimento resiliente ao clima na África requer investimentos em infraestrutura hidrometeorológica e em sistemas de alerta para se preparar para eventos perigosos de alto impacto”, descreve o relatório.

Pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI) em países como Etiópia, Maláui, Mali, Níger e Tanzânia mostrou que ampliar o acesso aos sistemas de alerta precoce —como mensagens de texto para informar agricultores sobre quando plantar, irrigar e fertilizar, de acordo com previsões do clima— pode reduzir a chance de insegurança alimentar em 30 pontos percentuais.

O desafio vai além do montante econômico, já que a África é um dos continentes com menor volume de produção científica sobre os impactos da emergência climática, o que dificulta a destinação de fluxos financeiros para a adaptação, como mostrou pesquisa recente publicada na revista Nature.

Nos últimos 50 anos, ainda segundo dados da OMM, a África registrou 1.672 desastres climáticos, ficando atrás apenas da Ásia (3.454) e das Américas do Norte e Central (1.977). Como consequência direta, mais de 731 mil pessoas morreram. Neste período, a frequência dos eventos extremos aumentou cinco vezes na Terra.

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