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Nicarágua prende dirigentes empresariais a poucos dias das eleições

Ditadura de Daniel Ortega deteve 39 opositores nos últimos quatro meses

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Belo Horizonte

Dois líderes da principal federação empresarial da Nicarágua foram detidos nesta quinta (21), a pouco mais de duas semanas das eleições presidenciais —que devem garantir o quarto mandato para o ditador Daniel Ortega, 75, no poder desde 2007. Nos últimos quatro meses, 39 políticos foram presos no país.

Os detidos desta quinta são Michael Healy e Álvaro Vargas, presidente e vice-presidente do Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep), maior entidade empresarial do país, que reúne quase 30 associações. Segundo a polícia, eles são investigados por crime de lavagem de dinheiro, bens e ativos.

Michael Healy chega à promotoria, em Manágua, horas antes de ser preso pelas forças policiais da ditadura de Daniel Ortega
Michael Healy chega à promotoria, em Manágua, horas antes de ser preso pelas forças policiais da ditadura de Daniel Ortega - AFP

Healy, empresário do setor açucareiro, e Vargas, fazendeiro, eram também membros da Aliança Cívica pela Justiça e pela Democracia (ACJD), grupo que participou das negociações fracassadas com o governo, em 2019. Na época, os diálogos buscavam uma saída para a crise política que já dura três anos.

Em nota, a polícia afirmou que eles responderão por "realizar atos que comprometem a independência, a soberania e a autodeterminação; incitar ingerência estrangeira em assuntos internos; solicitar intervenções militares e se organizar com financiamento de potências para realizar atos de terrorismo".

Como resposta, a Cosep escreveu em sua conta no Twitter que as prisões "violam os direitos individuais estabelecidos na Constituição e os direitos humanos reconhecidos pelos tratados internacionais assinados pela Nicarágua". A entidade termina o texto pedindo "paz e estabilidade".

Ainda de acordo com a instituição empresarial, Healy foi preso pouco depois de deixar o Ministério Público, onde teria sido convocado para um depoimento que não ocorreu e seria remarcado.

Ao sair do local, jornalistas perguntaram ao empresário se temia ser preso, ao que ele respondeu com uma negativa. Ao entrar em seu veículo, Healy foi seguido por policiais em duas motocicletas e detido.

Em julho, o ex-presidente da Cosep, José Aguerri, também foi preso pelas forças policiais da ditadura. O Ministério Público o acusa de "conspiração para minar a soberania do país".

Com Healy e Vargas, são 39 as pessoas levadas à cadeia nos últimos quatro meses, incluindo sete candidatos à Presidência, líderes políticos e sociais, empresários e jornalistas. Em agosto, o diretor do jornal nicaraguense La Prensa, Juan Lorenzo Holmann, foi detido por suposta lavagem de dinheiro.

O mesmo se deu com Cristiana Chamorro, vice-presidente da Prensa e pré-candidata à Presidência.

As prisões desta quarta ocorrem um dia depois de o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) exigir a "libertação imediata" dos opositores detidos. O grupo discutiu a situação política da Nicarágua em uma sessão em Washington.

No encontro, foi aprovada uma resolução expressando "graves preocupações" em torno das eleições do próximo dia 7. No documento, a organização repudia o que chama de "detenções arbitrárias" de dirigentes políticos, defensores de direitos humanos, empresários, jornalistas e líderes camponeses e estudantis.

Por fim, os membros da OEA destacam que as últimas ações da ditadura, que incluem a inabilitação de partidos contrários ao regime, eliminam as opções para candidaturas de oposição. O documento foi aprovado por 26 membros, enquanto 7 se abstiveram —a organização não divulgou os votos por Estado. Representantes da Nicarágua não compareceram.

Outras entidades da comunidade internacional vêm condenando violações de direitos humanos na Nicarágua. A Anistia Internacional considerou que o regime de Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, "não apenas não dá ouvidos à comunidade internacional, mas também a desafia com novas violações".

O Departamento de Estado americano chamou as detenções de "campanha de terror" e disse que os EUA vão usar todas as ferramentas diplomáticas e econômicas para promover eleições justas.

Questionado em agosto, durante entrevista a uma TV mexicana, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aconselhou Ortega a "não abrir mão" da democracia. A fala se deu em meio à pressão para que Lula e seu partido aumentem as críticas contra as ditaduras da Nicarágua e da Venezuela.

"Se eu pudesse dar um conselho ao Daniel Ortega, daria a ele e a qualquer outro presidente. Não abra mão da democracia. Não deixe de defender a liberdade de imprensa, de comunicação, de expressão, porque isso é o que favorece a democracia", disse.

Relações entre governo e empresariado

Por uma década, associações empresariais apoiaram as reformas políticas e econômicas promovidas pelo governo Ortega, que agora as acusa de enriquecer e apoiar o "terrorismo".

Essa ruptura ocorreu em parte porque os empresários discordavam da reforma previdenciária proposta pelo regime em 2018 e retiraram seu apoio ao governo. Na época, o projeto foi o ponto de partida para grandes protestos pelo país, que deixaram mais de 300 mortos, centenas de encarcerados e mais de 100 mil exilados. O governo afirma que essas manifestações foram uma tentativa de golpe apoiada pelos EUA.

Com AFP

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