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Por que, agora, China quer controlar abortos

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Rio de Janeiro

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A China anunciou na segunda (27) que vai implementar medidas para reduzir a quantidade de abortos por "razões não médicas". A decisão foi mencionada brevemente pelo Conselho de Estado, sem especificar como isso vai se traduzir em política pública. Não está claro se o plano envolverá restrições oficiais à interrupção da gravidez, legalizada em 1988 e prática comum no país muito antes desta data.

Não é a primeira vez que o governo clama por medidas para coibir o aborto. Como lembrou o New York Times, a mesma frase foi usada há dez anos na circular do Conselho de Estado sobre o desenvolvimento das mulheres e crianças chinesas. Na época, nenhuma mudança imediata foi implementada. Agora, o cenário é significativamente diferente:

  • Dados recentes sobre a tendência de crescimento da população mostram que as taxas de fecundidade estão caindo vertiginosamente. Assim, é provável que o número de chineses comece a cair nos próximos anos, impactando severamente na expectativa de crescimento econômico.

  • Junto com a promessa de reduzir os abortos, os burocratas também disseram que planejam ampliar o acesso à educação sexual, fortalecer serviços de planejamento familiar e encorajar homens a "compartilhar a responsabilidade" no uso de métodos contraceptivos.

Por que importa: os planos do governo confirmam uma das reclamações mais recorrentes de grupos feministas chineses: o fato de o corpo das mulheres estar sujeito às necessidades do Estado. Durante a dura política de filho único, oficiais foram encorajados a obrigar chinesas a usarem DIU e a interromperem gestações. Investigações independentes indicam que quase 400 mil abortos forçados foram realizados enquanto a regra vigorou.

Agora, quando precisa aumentar as taxas de fecundidade, o governo é incapaz de convencer a população a embarcar na ideia de aumentar a família numa realidade de custos de vida cada vez mais altos.


o que também importa

Pequim e Xangai vão passar por "apagões programados" para conter os efeitos da crise energética que vem assolando o país. De acordo com a Companhia Nacional da Rede Elétrica da China, deve haver um rodízio de áreas com interrupções pré-agendadas no fornecimento de energia elétrica até o fim desta semana.

Oficialmente, a empresa não confirma que os cortes são resultado de uma crise energética. Diz que a medida foi tomada para "atualizar a rede elétrica". Porém, é notável que o problema vem impactando o dia a dia no país, que enfrenta escassez de carvão (principal fonte de energia na matriz nacional) e está pressionado para atender às metas climáticas assumidas por Pequim.

Na província sulista de Guandong, por exemplo, o governo local pediu que as pessoas evitassem usar ar condicionado. Em Shenyang, província de Liaoning, os sinais de trânsito ficaram desligados por horas devido à falta de energia. Em vários pontos da China, fábricas precisaram interromper as operações.


Um artigo criticando o uso de maquiagem por artistas provocou discussões sobre padrões ideais de masculinidade na China.

Tudo começou quando o Zeng Qingrui, professor da Universidade de Comunicação da China, escreveu uma coluna no jornal estatal Guangming Daily defendendo que a indústria do entretenimento elimine "padrões estéticos distorcidos". Nas entrelinhas, criticava principalmente celebridades masculinas que "encobrem a verdadeira beleza da arte" por meio de maquiagem.

  • “Isso não significa que os homens devem raspar a cabeça e deixar os pelos faciais crescerem para atender aos padrões [ideais ao homem chinês]. Apenas remover o blush não é o suficiente para dizer que não estão usando maquiagem. Ademais, tudo isso só existe para completar a produção, levando a obras inferiores”, escreveu o professor.

  • O texto foi alvo de discussões: no Weibo, espécie de Twitter local, uma usuária questionava "o momento em que usar maquiagem leve tornou-se norma no país". Outra dizia ser errado julgar as capacidades artísticas de jovens celebridades apenas pelos adereços que escolhem usar.

A opinião de Zeng está em linha com os recentes debates nas rodas políticas nacionais e os apelos de burocratas pela divulgação na mídia de homens "menos delicados".


O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que torcedores estrangeiros não vão poder participar dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim. Espectadores chineses que cumprirem "requisitos específicos" estão autorizados, embora o comitê ainda não tenha divulgado qual será a lotação máxima de cada competição.

Atualmente, qualquer pessoa que viaje à China precisa passar por rígidos protocolos de controle, que incluem testes PCR na partida e na conexão, até 21 dias de quarentena estrita em hotéis designados pelo governo e obtenção de autorização de viagem por autoridades provinciais, entre outros requisitos. O COI vai liberar quem estiver vacinado dessas exigências.

Atletas estarão sujeitos a uma bolha olímpica, impedindo que passeiem pela cidade ou interajam com a população. A China deve adotar monitoramento específico que inclui testes diários das delegações e voluntários dedicados a acompanhar os esportistas até as arenas de competição. Os Jogos estão marcados para começar no dia 4 de fevereiro.

Imagem aréa de esquiadores na apresentação do logo dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022
Imagem aréa de esquiadores na apresentação do logo dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 - Xinhua/Xing Guangli

fique de olho

O Comitê Central do Partido Comunista Chinês realizou nesta semana um estudo coletivo sob a liderança de Xi Jinping para falar de biossegurança. O dirigente ressaltou a necessidade de priorizar o tema e tratá-lo como um assunto de segurança nacional geral, com possíveis desdobramentos mundiais. Ele falou que é "urgente fortalecer a construção de um sistema de biossegurança chinês".

Por que importa: em bom português, Xi está dizendo que os mecanismos em vigor no momento falharam contra a Covid e é necessário fazer mais para que a situação não se repita. Se estivesse em vigor em 2019, a tal rede de monitoramento poderia ter despertado o alerta do governo nacional bem antes do reportado pelas autoridades de Wuhan. A medida teria salvo milhares de vidas na China e, potencialmente, contido a transmissão internacional do Sars-Cov-2.

para ir a fundo

  • Quer entender melhor como os abortos forçados foram essenciais para a política do filho único na China? A Amazon Prime Video disponibiliza no Brasil o documentário “One Child Nation”, dirigido por Jialing Zhang e Nanfu Wang. Vencedora do prêmio do júri no Festival de Sundance, a produção fala das cicatrizes emocionais causadas pela rigorosa campanha de controle populacional. (assinatura paga, legendado em português)
  • Conforme a massa de trabalhadores chineses fica mais produtiva e os salários cada vez mas altos, já há no país uma corrente que defende a automatização de serviços mais básicos. O SupChina debate o tema, avaliando se a substituição de pessoas por máquinas está próxima no mercado de trabalho por lá. (paywall poroso, em inglês)
  • A China anunciou a intenção de se juntar ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP), uma iniciativa comercial inicialmente liderada (e posteriormente abandonada) pelos EUA justamente para conter a influência comercial de Pequim. Neste artigo ao Instituto de Política Estratégica Australiana, o pesquisador Dominic Meagher traz algumas sugestões de como lidar com o pedido. (gratuito, em inglês)
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