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Presidente das Filipinas desiste de candidatura e abre caminho para filha disputar eleições

Investigado por violações de direitos humanos, Duterte recebeu baixo apoio popular em tentativa de seguir no governo

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Manila (Filipinas) | Reuters e AFP

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, 76, afirmou neste sábado (2) que vai se aposentar da arena política. No poder desde 2016, ele se tornou conhecido pelas execuções extrajudiciais patrocinadas por sua gestão e vinha reiterando publicamente que concorreria à Vice-Presidência do país, em um plano para se manter na cúpula política mesmo após o fim de seu mandato.

A legislação filipina permite apenas um mandato presidencial, como forma de impedir projetos de abuso de poder. Ao disputar a corrida eleitoral como vice, Duterte projetava também assegurar imunidade —ainda que existam discordâncias sobre se a prerrogativa jurídica, válida para a figura do presidente, também deve se estender para o vice.

O presidente filipino, Rodrigo Duterte, durante evento em que anunciou que não vai concorrer à Vice-Presidência - Lisa Marie David/Pool - 2.out.21/AFP

Ao anunciar a aposentadoria, o filipino se referiu a pesquisas de opinião, ainda que sem mencioná-las diretamente, que indicavam a oposição popular a seus anseios de poder. "Em obediência à vontade do povo, digo a meus compatriotas que seguirei seus desejos", declarou.

Pesquisa realizada pelo centro Social Weather Stations na última semana com 1.200 filipinos em idade de votar mostrou que seis em cada dez dizem achar que a candidatura de Duterte para a Vice-Presidência do país era inconstitucional. Cerca de um terço dos entrevistados disse que o apoiaria se ele concorresse.

Analistas políticos locais, porém, veem no movimento de Duterte uma tentativa ainda mais articulada para alçar um sucessor leal ao poder e, assim, blindar-se das investigações que enfrenta por violações de direitos humanos.

O Tribunal Penal Internacional autorizou uma investigação sobre a guerra de Duterte contra as drogas. Segundo dados oficiais, cerca de 8.000 pessoas morreram em mais de 200 mil operações no arquipélago asiático desde 2016 —organizações de direitos humanos afirmam que os números reais são muito maiores.

"Eu receberia o anúncio [de que Duterte não concorrerá] com muita cautela", disse à agência de notícias Reuters o pesquisador filipino Carlos Conde, da organização Human Rights Watch. "Presumindo que ele realmente se aposente, isso não significa que deixará de receber do Tribunal Penal Internacional a proteção que tanto deseja."

O ativista e advogado Neri Colmenares, que presta assistência jurídica a vítimas do combate às drogas nas Filipinas, também afirmou ter recebido o anúncio com ceticismo. "Ele [Duterte] ainda ditará as regras da sua máquina política", disse à Reuters. Ele, porém, vê chances de que a aposentadoria não blinde o presidente filipino das investigações.

A aposentadoria do chefe de Estado é vista ainda como uma preparação de terreno para que sua filha, Sara Duterte-Carpio, 43, concorra à Presidência nas eleições marcadas para maio de 2022.

O ex-assessor de Duterte, Christopher Lawrence Go, 47, que disputaria o cargo, anunciou neste sábado que, na verdade, concorrerá a vice. Ele assegurou que, caso eleito, vai continuar a campanha de Duterte contra drogas ilegais.

Duterte-Carpio é prefeita da cidade de Davao, no sul do país, e goza de bons índices de aprovação. Em setembro, ela desmentiu as especulações de que disputaria a chapa presidencial —disse, em declaração pública, que havia concordado com o pai que apenas um deles concorreria a um cargo federal. O cenário, agora, é outro.

Os candidatos às eleições de 2022 têm até a próxima sexta (8) para se inscrever oficialmente na disputa, mas a Comissão Nacional de Eleições permite substituições até 15 de novembro, o que abre espaço para mudanças de última hora.

Outros nomes já anunciaram suas candidaturas. O boxeador Manny Pacquiao, 42, atualmente senador, é um deles. Ele já foi aliado de Duterte, mas recentemente rompeu com o presidente, acusando seu governo de corrupção.

Também aspiram à Presidência filipina Ferdinand "Bongbong" Marcos, 64, filho do ditador de mesmo nome que esteve no poder por duas décadas, de 1965 a 1986; e o ex-ator e prefeito da capital, Manila, Francisco Domagoso, 46, conhecido como Isko Moreno.

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