Descrição de chapéu talibã Ásia

Talibã alerta EUA para não desestabilizar novo regime no Afeganistão

Autoridades americanas e talibãs se reuniram pela primeira vez desde a retirada das tropas de Washington

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Kunduz (Afeganistão) e Cairo | AFP e Reuters

O Talibã alertou os Estados Unidos para não desestabilizar o novo regime do Afeganistão, no primeiro encontro presencial entre autoridades talibãs e americanas desde a retirada das tropas de Washington. Realizadas em Doha, as reuniões começaram neste sábado (9) e vão até este domingo (10).

"Dissemos claramente que tentar desestabilizar o governo do Afeganistão não é bom para ninguém", declarou o ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi, à agência estatal afegã Bakhar.

Ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi, durante entrevista coletiva em Cabul
Ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi, durante entrevista coletiva em Cabul - Hoshang Hashimi - 14.set.21/AFP

"Um bom relacionamento com o Afeganistão é bom para todos. Nada deve ser feito para enfraquecer o governo atual do Afeganistão, que pode liderar a busca por soluções aos problemas de seu povo", completou, em declarações gravadas e traduzidas pela agência de notícias AFP.

Segundo Muttaqi afirmou à TV Al Jazeera, a delegação do país asiático também pediu aos EUA que suspendessem uma proibição das reservas do banco central afegão, e Washington se comprometeu em doar vacinas contra a Covid-19 a Cabul. O chanceler acrescentou ainda que o foco da delegação talibã no encontro se dirigiu à ajuda humanitária.

Os Estados Unidos não comentaram as declarações do ministro. A delegação americana é chefiada pelo representante especial para a Reconciliação do Afeganistão, Tom West, e por Sarah Charles, principal funcionária humanitária da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).

A reunião em Doha, no entanto, não significa que os Estados Unidos tenham reconhecido o regime talibã no Afeganistão, insistiu o Departamento de Estado.

"Pressionaremos os talibãs para que respeitem os direitos de todos os afegãos, incluindo mulheres e meninas, e para que formem um governo inclusivo com amplo apoio", declarou nesta sexta-feira (8) o porta-voz do Departamento de Estado ao anunciar a reunião.

A volta dos talibãs ao poder em meados de agosto coincidiu com a caótica retirada das tropas americanas, encerrada em 30 de agosto, após 20 anos de ocupação. Os fundamentalistas islâmicos buscam reconhecimento internacional e ajuda estrangeira para prevenir um desastre humanitário e aliviar a crise econômica do Afeganistão.

Internamente, por sua vez, enfrentam ameaças do Estado Islâmico, que reivindicou mais um ataque realizado nesta sexta a uma mesquita xiita em Kunduz, no norte do Afeganistão. Ao menos 60 morreram, no mais devastador atentado desde a saída dos militares americanos.

Neste sábado, a cidade se preparava para enterrar as vítimas, com 62 covas cavadas, segundo relatou um coveiro à agência de notícias AFP. O saldo final, no entanto, pode se aproximar de uma centena de mortos.

Socorristas ajudam feridos na mesquita onde houve a explosão em Kunduz - 8.out.21/AFP

De acordo com o EI, o homem-bomba era conhecido como "Mohamed, o uigur" —o que implica que fazia parte da minoria muçulmana chinesa, alguns de cujos membros se juntaram ao grupo terrorista.

O Talibã prometeu proteger todas as comunidades do país, mas para Michael Kugelman, especialista em Sudeste Asiático do gabinete Woodrow Wilson International Center for Scholars, será difícil para o grupo consolidar seu poder se não abordar a questão do terrorismo e da crescente crise econômica no país.

"Se o Talibã, como é provável, não for capaz de lidar com essas preocupações, terá dificuldade em obter legitimidade interna e poderemos testemunhar o surgimento de uma nova resistência armada.”

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