Descrição de chapéu talibã Ásia G20

União Europeia anuncia ajuda humanitária de 1 bilhão de euros para Afeganistão

Talibã teve reuniões diplomáticas com EUA e bloco europeu nos últimos dias, e G20 organizou encontro para falar sobre o país

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Doha e Roma | AFP e Reuters

Desde sábado (9), lideranças do Talibã têm articulado os maiores esforços diplomáticos desde que o grupo fundamentalista retomou o poder no Afeganistão, há pouco menos de dois meses. Reuniões com os Estados Unidos e a União Europeia (UE) foram organizadas no Qatar —ainda que o regime radical siga sem o reconhecimento de nenhuma nação.

A Comissão Europeia, o Poder Executivo da UE, anunciou nesta terça-feira (12) um pacote de apoio de aproximadamente 1 bilhão de euros (R$ 6,4 bilhões) para Cabul.

O comunicado foi feito pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, que justificou a ajuda como uma forma de frear o iminente colapso econômico e a já existente catástrofe humanitária afegã.

“Os afegãos não deveriam pagar o preço das ações do Talibã”, disse, em uma rede social. “O pacote de apoio se destina ao povo afegão e aos vizinhos do país que prestaram ajuda.”

Pessoas compram frutas em um mercado nas ruas de Cabul - Jorge Silva - 9.out.21/Reuters

Do montante, 300 milhões de euros serão destinados a ajuda humanitária, como apoio extra para vacinação contra a Covid-19, abrigo e proteção dos direitos humanos, segundo detalhes apresentados por Von der Leyen durante reunião virtual extraordinária do G20 para tratar do assunto. Outros 250 milhões de euros irão para saúde, e o restante, para fundos de apoio a países vizinhos.

Os recursos devem ser repassados a organizações internacionais que ajudam essas regiões, de modo a evitar que sejam usados pelo regime talibã para outros fins.

Ao anunciar o repasse humanitário, a presidente da Comissão Europeia frisou que a medida não abre as portas para colaboração diplomática com o país: “Nossas condições para qualquer envolvimento com as autoridades afegãs são claras, e envolvem os direitos humanos”.

A UE tem uma lista de critérios básicos para estabelecer relações com as novas lideranças de Cabul, e um futuro pacote para o desenvolvimento do país depende disso. Respeitar os direitos humanos fundamentais —em especial os das mulheres—, ser inclusivo e permitir o acesso da ajuda humanitária fazem parte da cesta de exigências.

A reunião do G20 sobre o tema, organizada pelo premiê italiano, Mario Draghi, que detém a presidência rotativa do grupo, deixou mais transparentes as divergências entre os países-membros sobre como lidar com a situação afegã.

Segundo afirmou à agência Reuters uma fonte diplomática familiarizada com o tema, o principal problema é que os países ocidentais querem interferir na forma como o Talibã dirige o país e trata as mulheres, por exemplo, enquanto China e Rússia têm uma política externa de não interferência.

A China, que prometeu relações amistosas com o Talibã, já exigiu publicamente que sanções econômicas ao Afeganistão fossem suspensas e que bilhões de dólares em ativos internacionais fossem descongelados. Já EUA e Reino Unido resistem a essa possibilidade.

Reunião virtual do G20 nesta terça (12) sobre a situação no Afeganistão - Filippo Attili/Palazzo Chigi Press Office/via Reuters

Nesta segunda (11), o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, instou as maiores economias mundiais a ajudarem na recuperação econômica do país e insistiu que há formas de fazer isso sem dar suporte aos talibãs, como por meio da transferência de fundos internacionais para agências da ONU ou ONGs que poderiam transferir o dinheiro para civis.

Guterres falou ainda sobre as “promessas não cumpridas que levam a sonhos desfeitos de mulheres e meninas no Afeganistão”, em referência às frágeis promessas feitas por lideranças do grupo fundamentalista sobre mais moderação.

O secretário-geral alertou, em especial, sobre o papel das mulheres na recuperação econômica. “No Afeganistão, 80% da economia é informal, com um papel preponderante das mulheres. Sem elas, não existe a possibilidade de a economia e a sociedade afegãs se recuperarem."

No sábado, em Doha, lideranças do Talibã se reuniram com autoridades americanas na primeira conversa direta com Washington desde que o grupo retomou Cabul após a retirada das tropas ocidentais. Os EUA ressaltaram que o encontro não representou um reconhecimento do governo.

O ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi, disse em uma entrevista coletiva que o objetivo dos encontros é “ter uma relação positiva com todo o mundo”. “Acreditamos em relações internacionais equilibradas e que essas relações podem salvar o Afeganistão da instabilidade.”

Ainda não foram feitos anúncios sobre os resultados práticos do encontro. Muttaqi afirmou, pouco depois, que Washington se comprometeu em doar vacinas contra a Covid-19 a Cabul.

Ainda nesta terça, estava programada uma reunião com representantes da UE, também em Doha, capital do Qatar —o país segue desempenhando papel de mediador entre o grupo fundamentalista e as representações diplomáticas ocidentais.

Um dos assuntos na pauta é como evitar que o país da Ásia Central se torne abrigo para grupos terroristas, segundo a porta-voz da UE, Nabila Massrali.

Desde que o Talibã retomou o poder, uma onda de atentados reivindicados pelo Estado Islâmico (EI) e seu braço no Afeganistão tem deixado dezenas de mortos e feridos. No mais recente, um ataque suicida em uma mesquita de Kunduz, no norte do país, deixou mais de 60 mortos, segundo contagem da agência de notícias AFP.

A ramificação afegã do grupo terrorista, conhecida como EI-Khorasan —ou EI-K— vem ameaçando a estabilidade doméstica que os talibãs tentam assegurar como forma de conquistar apoio internacional. Estimativas de julho de 2020 indicam que o EI-K teria até 500 combatentes ativos.

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