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Venezuela anuncia reabertura de fronteiras com a Colômbia para comércio

Ditadura impedia fluxo regular desde 2019, quando opositores tentaram entrar com ajuda humanitária

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São Paulo | AFP

A Venezuela anunciou nesta segunda (4) a reabertura da fronteira para retomar o comércio com a Colômbia. A divisa estava fechada desde fevereiro de 2019 devido a embates políticos entre os países.

Na época, a ditadura estava receosa de que o opositor Juan Guaidó conseguisse organizar a entrada de alimentos e medicamentos pela fronteira colombiana, o que, na visão de Nicolás Maduro, enfraqueceria sua gestão e seria um pretexto para uma possível ação dos Estados Unidos.

Durante pronunciamento em um canal estatal, a número dois do regime, Delcy Rodríguez, anunciou que a reabertura iniciará já nesta terça (5). “Estamos aqui abrindo o comércio binacional para que caminhões comecem a entrar com produtos da Venezuela na Colômbia e da Colômbia na Venezuela”, disse ela.

Os colombianos já haviam decidido, em junho, abrir unilateralmente suas fronteiras fluviais e terrestres com a Venezuela, mas, devido às resistências do outro lado, a medida não funcionava na prática.

Manifestantes em confronto com a Guarda Nacional Venezuelana na ponte que liga Cúcuta, na Colômbia, e San Antonio del Táchira, na Venezuela
Manifestantes em confronto com a Guarda Nacional Venezuelana na ponte que liga Cúcuta, na Colômbia, e San Antonio del Táchira, na Venezuela - Federico Parra - 24.fev.19/AFP

“A Colômbia também está disposta a iniciar um processo ordenado para que possamos garantir essa passagem de fronteira”, disse o presidente Iván Duque, de acordo com um comunicado de seu gabinete.

“Sempre o faremos com os critérios adotados pelo nosso país em nossas áreas de fronteira, principalmente no que se refere ao transporte de cargas.”

Comerciantes também celebraram a decisão. “A expectativa é alta, para começarmos a trabalhar plenamente”, disse à agência de notícias AFP Isabel Castillo, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Produção de San Antonio del Táchira, cidade fronteiriça do lado venezuelano.

“É hora de termos a liberdade de poder ir e vir tranquilamente sem nenhum inconveniente, como irmãos que sempre fomos”, disse Rafael Gómez, dono de um estacionamento para caminhões em San Antonio.

Ainda não está claro se o tráfego de carros particulares será liberado. A travessia de pedestres foi restringida pela pandemia Covid-19, mesmo para os cidadãos venezuelanos.

No entanto, antes mesmo da declaração da dirigente venezuelana, os contêineres que bloqueavam a circulação na principal passagem de fronteira entre os dois países, a ponte Simón Bolívar, foram removidos, e a passagem de pedestres começou a fluir.

"É uma surpresa realmente tremenda”, disse Alexis Contreras, 42, que caminhava de Cúcuta a San Antonio del Táchira. Os dois países compartilham uma fronteira de mais de 2.000 km, que inclui quatro estados.

“Estávamos pensando em como passar pela trilha”, acrescentou, referindo-se a degraus irregulares por onde as pessoas passavam. No caminho, Contreras estava acompanhando um venezuelano que voltava para o país natal porque não tinha como se sustentar na Colômbia.

Na Venezuela também há dificuldades. Em meio ao bloqueio econômico americano, Caracas sofre com uma gravíssima recessão econômica, que afeta a disponibilidade de mercadorias, além de alta inflação e desvalorização da moeda local. A expectativa deste ano, segundo a Ecoanalítica, é a de que os preços, em geral, aumentem 1.600% no país.

A Colômbia, aliada dos americanos na América do Sul, é um dos mais de 50 países que reconhecem Guaidó como presidente legítimo da Venezuela –entre eles está também o Brasil. Além disso, são os colombianos que mais recebem refugiados venezuelanos.

Em setembro, Duque anunciou que Bogotá vai regularizar 1 milhão de pessoas que fugiram da ditadura vizinha, somando-se a 1,3 milhão que já receberam o status de proteção temporária neste ano.

Mas a má relação entre os dois países não é oriunda apenas de desgastes promovidos pela oposição de Guaidó. Entre 2015 e 2016, a fronteira também esteve fechada durante vários meses, por determinação de Maduro, em resposta a um ataque armado que feriu três soldados venezuelanos em patrulha.

Na época, a reação bolivariana teve um forte impacto econômico, e apenas 20% da indústria e do comércio sobreviveram nas cidades fronteiriças de Ureña e San Antonio, segundo sindicatos regionais.

Mas nem sempre foi assim: antes de 2009, o comércio bilateral entre os dois países movimentava US$ 7,5 bilhões. Uma década depois, porém, o número era 15 vezes menor, de acordo com estimativas privadas.

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