Descrição de chapéu África

Africanos dizem que restrições de viagem por variante ômicron são injustas

Medidas foram impostas por EUA e europeus após descoberta da nova cepa da Covid-19

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São Paulo

A sucessão de medidas restritivas impostas nesta sexta-feira (26) contra países do sul da África em razão da descoberta da nova variante da Covid-19 ômicron levaram a uma reação de autoridades do continente.

Para os africanos, as ações são exageradas e profundamente injustas, punindo ainda mais uma região do planeta que já vem sofrendo com a lentidão na aplicação de vacinas contra a doença.

Passageiros fazem teste contra Covid-19 no aeroporto de Johannesburgo, na África do Sul, onde foi detectada a nova variante da doença - Sumaya Hisham/Reuters

Em comunicado, o Centro de Controle de Doenças da União Africana, bloco que reúne os 54 países do continente, disse que restrições de viagens são ineficazes e que o caminho mais adequado é o reforço das medidas tradicionais contra a proliferação da doença: uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social. Além do aumento da vacinação, obviamente.

"Desencorajamos fortemente o banimento de viagens de pessoas com origem em países que relataram essa variante. Durante a pandemia, temos observado que impor restrição de viagens não gerou resultado significativo", disse a entidade.

De acordo com o órgão da União Africana, a aplicação de vacinas contra a Covid-19 se mantém como "a ferramenta-chave" para prevenir casos graves e mortes pela doença. A entidade pede que a imunização seja acelerada, dando prioridade para grupos de alto risco.

Segundo a plataforma Our World in Data, ligada à Universidade de Oxford, apenas 10,66% da população africana recebeu ao menos uma dose da vacina. Considerando-se a imunização completa, o índice cai para 7,13%.

Mesmo na África do Sul, um dos países mais ricos do continente e onde a nova variante foi descoberta, os índices de imunização ainda são baixos com relação à média mundial. Receberam uma dose 28,1% das pessoas, e 23,5% estão com o esquema vacinal completo.

Nesta sexta, o governo sul-africano reclamou de estar sendo retaliado pela comunidade internacional por ter sido transparente e eficiente na detecção da variante.

"Parte da reação global tem sido injustificada", disse o ministro da Saúde Joe Phaahla. "Estou me referindo especialmente à reação de países na Europa, do Reino Unido e de muitos outros. Fui avisado de que um grande número de países da União Europeia está contemplando uma reação similar."

As restrições de voos foram anunciadas pelos 27 membros da União Europeia, pelos EUA e diversas outras nações, para viajantes chegando de ao menos sete países da África austral: África do Sul, Lesoto, Eswatini, Zimbábue, Namíbia, Botsuana e Moçambique.

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou restrições a passageiros que chegam da região. À noite, o governo acatou a recomendação.

Pelo Twitter, o cientista brasileiro Túlio de Oliveira, que mora na África do Sul e fez parte da equipe que sequenciou a nova variante, pediu que não haja discriminação contra a população da região.

"O mundo precisa oferecer apoio à África do Sul e à África, não discriminá-las ou isolá-las", escreveu.

Segundo Oliveira, as pesquisas estão sendo feitas com o máximo de transparência. "Identificamos, disponibilizamos os dados e levantamos o alarme quando as infecções aumentaram. Fizemos isso para proteger nosso país e o mundo, mesmo podendo sofrer discriminação maciça."

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