Ano-Novo vai voltar à Times Square, em Nova York, mas só para vacinados

Após última cerimônia esvaziada pela pandemia, cidade quer fazer da festa um sinal de seu renascimento pós-Covid

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Ashley Wong Dana Rubinstein
Nova York | The New York Times

O fim de 2021 se aproxima, e Nova York vai saudar a chegada do novo ano com festividades na intenção de assinalar seu renascimento pós-pandemia. Mais uma vez, festeiros corajosos em número incontável vão se reunir na Times Square, enfrentando o frio, a multidão e as barreiras policiais, para acompanhar a descida da bola à meia-noite na virada do ano.

Depois da festa minimizada do ano passado, o célebre evento gelado vai voltar "com força total", anunciou o prefeito Bill de Blasio na terça-feira (16). Será o ato final de De Blasio à frente da cidade de Nova York, após oito anos como prefeito, e servirá como prelúdio de sua possível candidatura a governador em 2022.

"Queremos dar as boas-vindas a todas as centenas de milhares de pessoas, mas todos precisam estar vacinados", disse De Blasio. "Venha engrossar a multidão, participe da alegria e de um momento histórico, com Nova York dando ao mundo mais uma prova de que voltamos 100% com tudo."

Times Square esvaziada durante celebração do Ano-Novo em meio à pandemia de coronavírus
Times Square esvaziada durante celebração do Ano-Novo em meio à pandemia de coronavírus - Corey Sipkin - 1º.jan.21/AFP

A celebração do Ano-Novo vai acontecer quatro meses depois de raios terem interrompido um "concerto de retorno" repleto de celebridades e que também visava assinalar a volta de Nova York à normalidade. Comprovantes de vacinação também foram exigidos para assistir a esse evento, que atraiu milhares de pessoas ao Central Park.

As festividades do Ano-Novo vão criar um desafio logístico e, possivelmente, também filosófico para os policiais da cidade, que combateram o decreto do prefeito que obrigou funcionários públicos a serem vacinados. Os policiais terão não apenas que controlar a multidão, mas também confirmar que as pessoas presentes foram vacinadas.

Na Times Square, a notícia de que a descida da bola será aberta ao público novamente foi recebida com entusiasmo, pelo menos entre turistas. Para Johnnica Watson, 47, do Alabama, assistir ao Réveillon na TV não seria o bastante. Quando ela ouviu a notícia, na terça, decidiu agendar outra visita a Nova York. "Estou emocionada pelos nova-iorquinos, mas mais ainda por nós que não moramos na cidade", disse.

Qualquer pessoa que não possa ser vacinada em função de alguma razão médica terá que apresentar comprovante de um teste negativo de coronavírus feito até 72 horas antes do evento. Crianças menores de 5 anos, que ainda não são elegíveis à vacinação, precisam ser acompanhadas por um adulto vacinado. O uso de máscara será obrigatório para quem não estiver vacinado, disse Tom Harris, presidente da Times Square Alliance.

Questionado em entrevista coletiva sobre o motivo de a prova de vacinação ser obrigatória para assistir à descida da bola, visto que o certificado não é exigido para muitas outras atividades ao ar livre em Nova York, De Blasio respondeu que um evento lotado, que dura horas e atrai pessoas de todo o país e do mundo, requer precauções maiores.

"Quando você está ao ar livre por horas a fio numa multidão compacta de centenas de milhares de pessoas, é uma realidade diferente", disse o prefeito. "Estamos falando de muita gente em contato muito estreito por um longo período de tempo. Faz sentido proteger a todos."

O anúncio foi feito no momento em que De Blasio se prepara para a posse de seu sucessor, Eric Adams, e a festa do Réveillon vai coincidir com seu último dia na prefeitura. Isso significa que quaisquer resultados negativos do evento recairão sobre Adams, que tomará posse no dia 1º de janeiro de 2022. Um porta-voz de Adams não respondeu a um pedido de declarações.

Vários especialistas em saúde pública alertaram que, devido à natureza constantemente mutante do coronavírus, é difícil prever como estará o número de casos de Covid na cidade no final do ano. Mas vale lembrar que muitas das pessoas que vão a Times Square não vivem em Nova York.

Até a terça-feira (16), 74,6% de todos os nova-iorquinos já tinham recebido pelo menos uma dose de vacina, e 68,2% estavam completamente vacinados. O número de casos de Covid na cidade vem subindo recentemente e ainda é muito alto, mas os índices de hospitalização continuam baixos.

O médico Ashish K. Jha, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown, avaliou os planos de De Blasio para o Réveillon em Nova York como "muito razoáveis". "A vacinação converte eventos ao ar livre, que já são de baixo risco, em risco muito baixo", disse Jha.

Como prova disso, ele apontou para o festival de música Lollapalooza, promovido em Chicago.

"Foi um encontro que reuniu uma multidão enorme. Todos os presentes tinham que ser vacinados ou apresentar um teste negativo", disse Jha. "Temos evidências de que houve pouca propagação de Covid."

Mas Jha aconselhou De Blasio a criar uma "cláusula de escape" para a eventualidade de os casos de Covid aumentarem muito antes da véspera do Ano-Novo, determinando que a volta do Réveillon seja adiada para o próximo ano.

Alguns especialistas observaram que o risco pode não ficar contido nos limites da Times Square. É preciso considerar o que acontece antes e depois da descida da bola, com pessoas entrando e saindo de bares e restaurantes da área para comer, aquecer-se e ir ao banheiro.

Mas, diferentemente do que ocorre em muitas outras cidades, em Nova York as pessoas que comem ou bebem em locais fechados são obrigadas a apresentar comprovante de vacinação.

Recentemente os EUA abrandaram algumas das restrições maiores à entrada de viajantes estrangeiros. Assim, é provável que o Ano-Novo na Times Square atraia pessoas de todo o mundo, reunindo turistas vindos de áreas com índices menores e maiores do vírus.

Segundo Harris, da Times Square Alliance, a virada do ano geralmente se traduz num aumento do movimento comercial. Ele espera que a temporada do fim de ano represente um incentivo muito necessário a um distrito que assistiu ao fechamento de muitos restaurantes e hotéis durante a pandemia.

"As pessoas estão fartas de sonhar, estão loucas para agir na vida real, e querem fazer isso na Times Square", disse.

Outras grandes cidades pelo mundo afora cancelaram seus festejos da virada do ano. O prefeito de Londres anunciou em outubro que a queima de fogos do Réveillon na cidade será cancelada e substituída por uma celebração de tipo diferente. Nesta semana, Amsterdã cancelou sua festa, em resposta ao aumento nos casos do coronavírus.

Munique também cancelou sua célebre feira de Natal. "A situação dramática em nossos hospitais e o aumento exponencial no número de casos não me deixam outra escolha", disse a jornalistas, na terça-feira, o prefeito Dieter Reiter.

Jha, da Universidade Brown, disse que, para ele, faz sentido que Nova York siga adiante com seus planos.

"Precisamos voltar a fazer coisas que são realmente importantes", argumentou. "A virada do Ano-Novo na Times Square é uma festa americana icônica. Acho que estamos no ponto da pandemia em que podemos tê-la em segurança."

Tradução de Clara Allain

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