Dezenas de milhares de etíopes realizaram atos neste domingo (7) em defesa do governo do premiê Abiy Ahmed e em repúdio às tentativas diplomáticas de iniciar acordos com os rebeldes que ocupam a região do Tigré, no norte do país. O maior deles se concentrou na praça Meskel, na capital Adis Abeba.
O avanço da TPLF (Frente de Libertação do Povo do Tigré) pelo território da Etiópia levou o governo a decretar, na última semana, estado de emergência no país e a pedir que a população pegue em armas. A comunidade internacional, em especial os Estados Unidos, intensificou os pedidos por um cessar-fogo.
Alguns dos manifestantes, segundo relatos da agência de notícias Reuters, criticavam o governo americano em cartazes com dizeres como "que vergonha, EUA" e "os EUA devem parar de sugar o sangue da Etiópia". A Casa Branca acusou o governo etíope de "violações graves" dos direitos humanos e disse que planejava retirar o país de um acordo que dá acesso a produtos americanos livre de impostos.
Muitos dos presentes carregavam a bandeira a Etiópia e expressavam repúdio a quaisquer tratativas de acordo com a TPLF. "[Os EUA] querem destruir nosso país como fizeram com o Afeganistão", disse Tigist Lemma, 37. "Eles nunca terão sucesso, pois somos etíopes."
O conflito na região do Tigré teve início há um ano e desencadeou uma onda de deslocados internos, além da deterioração das crises econômica e social. Ao longo do período, calcula-se que 2 milhões de pessoas deixaram suas casas e 400 mil passam fome.
Observadores internacionais apontam episódios de brutalidade extrema dos dois lados –dos rebeldes e do Estado. A figura do premiê Ahmed, vencedor do Nobel da Paz há três anos, também tem sido questionada.
À agência de notícias AFP o porta-voz da TPLF, Getachew Reda, questionou a expressividade da manifestação deste domingo. "Dizer que o povo de Adis Abeba se opõe ferozmente a nós é totalmente exagerado", argumentou, acrescentando que a cidade "é um caldeirão de raças".
"Ali vivem pessoas com todos os tipos de interesse, e dizer que vai haver um banho de sangue se entrarmos na capital é absolutamente ridículo."
A situação de conflito iminente no país levou os EUA a ordenarem, neste sábado (6), a saída de toda a equipe não essencial de sua embaixada. O Departamento de Estado justificou a decisão "devido ao conflito armado, aos distúrbios civis e à possível escassez". Países como os nórdicos Suécia, Dinamarca e Noruega, além da Arábia Saudita, deram a mesma ordem a suas representações diplomáticas.
No mesmo dia, o premiê Ahmed voltou a pedir a participação de civis no conflito e disse que os etíopes devem estar dispostos a fazer sacrifícios para salvar o país. "Conhecemos as provações e os obstáculos. Morrer por nossa soberania e identidade é uma honra, não existe Etiópia sem sacrifício", declarou.
O papa Francisco se somou aos pedidos de esforços diplomáticos. Neste domingo, afirmou que acompanha com preocupação as notícias da Etiópia, uma nação "sacudida por um conflito que deixou numerosas vítimas e uma grave crise humanitária".
A rede social Twitter comunicou que desativou temporariamente a seção de "tendências" –ou os assuntos do momento, tópicos mais comentados– na Etiópia em razão de ameaças violentas feitas no espaço. "Incitar a violência ou desumanizar as pessoas vai contra nossas regras", diz o comunicado.
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